Acordei com um apito irritante em meus ouvidos. Virei-me na cama, procurando por Alec, mas a água que caía do chuveiro indicava que ele provavelmente estava tomando uma ducha. Sentei-me e foquei minha mente em encontrar a fonte do barulho, não levando muito tempo para o tal. Meu computador piscava, uma chamada de minha mãe no Skype. Mais rapidamente do que eu imaginava ser capaz, vesti uma calça jeans e um suéter, pegando o notebook no colo e me sentando em uma das poltronas, não deixando a webcam filmar a bagunça da cama.

– Olá, família - atendi a chamada sorrindo, ainda que eu estivesse com fome e, portanto, de mal-humor. - Como estão?

– Muito bem - Bella sorriu - E, ao que parece, você também, não é?

Fiquei sem graça com o comentário, mas por um milagre não corei. Ao menos, era o que a miniatura de minha imagem indicava. A porta do banheiro se abriu e Alexander saiu de lá, já vestido em uma calça jeans e uma camiseta azul-marinho de gola em V. Mordi o lábio e voltei a encarar a tela.

– É Alec? - vó Esme perguntou. Eu sabia que o brilho em meus olhos havia me entregado.

– Sim, é ele - eu ri e indiquei para ele se aproximar. Coloquei o computador na mesa de centro, fazendo com que a poltrona ao lado também se enquadrasse à imagem. O vampiro se sentou, segurando minha mão.

– Bom dia - ele sorriu, e meu pai franziu o cenho. Estava se formando um silêncio constrangedor ali.

– Então... Vocês já reservaram o voo? - perguntei.

– Já sim! Daqui a três dias, de manhã. A passagem está com Aro - Edward respondeu - Estávamos pensando em ir até aí buscar você, mas o Volturi do seu lado se ofereceu para lhe acompanhar na viagem.

– Sério? - olhei para Alec - Você não me disse.

– Era pra ser surpresa - ele suspirou, e um sorriso fraco se formou em seu rosto.

– Sinto muito, eu não sabia - meu pai encarou meu noivo severamente. Obviamente, estava mentindo. - Mas me diga, filha, como anda o treinamento?

– Muito bem, acho - sorri - Alec tem me ajudado no controle dos poderes.

– Mas você já os domina - foi Carlisle quem disse - Desde quando era um bebê.

– Creio que Nessie seja como Bella com relação à isso - o moreno pigarreou, segurando minha mão com mais força - De certo modo, Isabella aprendeu a aprimorar seu escudo, e o mesmo tem acontecido aqui.

– A monstrinha aprendeu a mexer com os cérebros de todo mundo, é? - tio Emmett riu, o que me levou a corar.

– Não é exatamente em quem eu projeto as imagens, mas o que elas são. Não são apenas visões...

– E o que são? - minha mãe perguntou, preocupada.

– Esse é o problema - respondi - Ainda não sabemos.

Minha barriga roncou. Há quanto tempo eu não comia, afinal? Olhei para Alec, mordendo o lábio. Era uma súplica silenciosa. Ele começou a rir e se levantou.

– Vou fazer o café-da-manhã - o vampiro beijou minha testa e saiu do quarto.

– Eu confio nele - falei. Era um chalé com paredes grossas. O moreno provavelmente não me ouviria. - Sei que vocês não, mas não há com o que se preocupar.

– Renesmee - Edward começou - Ele é um Volturi. Sempre foi e sempre será. Ele tem uma dívida com Aro que, aparentemente, é maior que o "amor" - ele fez aspas no ar - que ele sente por você.

– Você não sabe de nada - bufei - Sabe por quê? Porque você não se pôs no lugar dele. Responda, pai: Você abandonaria Carlisle, depois de tudo o que ele fez por você? É, eu sei que não. Isso quer dizer que não ama minha mãe? Porque, pela sua lógica, é assim que funciona.

– Carlisle nunca me proibiu de ficar com Bella.

– Assim como Aro e Alec. É uma pena que eu não possa dizer o mesmo de mim e você.

Então ele percebeu o que tinha feito. Sentou-se no sofá branco e abaixou a cabeça, provavelmente já irritado e impaciente. De algum modo, não fui capaz de sentir dó. Quando se é criado em uma família onde o amor significa tudo, é normal que role uma revolta quando esse mesmo amor é impedido de acontecer.

– Nessie - tia Rosalie me chamou. Pude ver Jasper sair do local; o clima estava tenso.

– Não finjam que se importam comigo - sorri, ironicamente - Nossa conversa acabou. Se precisarem falar comigo, mandem torpedos. Não que eu vá ler, é claro.

Abaixei a tela do computador com raiva e força, bufando. Meu pai conseguia me tirar do sério quando queria. E, ultimamente isso parecia ser o que ele mais queria. Saí do quarto e desci as escadas, tomando fôlego a cada degrau, numa tentativa falha de me acalmar. A fome, porém, era maior que meu mal-humor.

– Bom - Alec começou a falar, rindo - Eu não sabia o que você ia querer, então...

– Você fez um monte de coisas igualmente deliciosas e calóricas - fitei a bancada, que estava cheia. Pães, panquecas, waffles, bolo de chocolate, ovos, bacon, frios, sucos, leite, café, iogurte... - Você só pode estar brincando - comentei, boquiaberta.

– Você dormiu por muito tempo. Acordaria com fome. Imaginei isso e comecei a cozinhar.

– Você é um gênio, Alexander. E eu sou uma faminta.

A verdade é que eu nunca comi tanto em toda minha humilde vida. Tudo estava perfeito, e eu estava realmente precisando de comida. Alec era um ótimo cozinheiro, ainda que eu não soubesse de onde vinha todo esse dom para a culinária. Depois do segundo pedaço de bolo, comecei a rir.

– O que foi? - ele perguntou, curioso.

– Bom - falei, corando - há um ditado.

– Diga-me - seus olhos brilhavam.

– "Case-se com um homem que cozinhe, não com um que seja bonito. Beleza acaba, fome não." - comecei a rir - Felizmente eu tenho os dois, não?

– Beleza acaba - ele sorriu - Já pensou que um dia eu posso não parecer mais tão bonito pra você?

– Impossível por duas razões - dei de ombros.

– Quais seriam? - ele se pôs ao meu lado, puxando-me da banqueta para seu peito.

– Você é imortal, seu idiota. - comecei a rir - Perfeitamente congelado com essa aparência angelical de um bad-boy de dezessete anos.

– Um belo paradoxo. - ele riu.

– Assim como você. - sorri e senti seus lábios tocarem os meus - Um belo e sexy paradoxo.

– Você não disse a segunda razão...

– Você não perguntou - eu disse, com malícia.

– Então qual é?

– Não finja que não sabe - arqueei as sobrancelhas e ele deixou com que um meio sorriso tomasse conta dos seus lábios.

Alec me deu vários selinhos, fazendo com que uma sensação gostosa percorresse todo meu corpo. O corpo do vampiro, no entanto, estava tenso. Muito além do que eu poderia considerar como normal. Afastei-me e o fitei. Os olhos, agora negros, pareciam preocupados.

– É pouco tempo - ele respondeu à minha pergunta mental - Não consigo aceitar a ideia de perder você, Renesmee. E, o pior, é que não consigo achar uma solução. Eu sei o quão egoísta isso soa, mas... Preciso de você ao meu lado, sem que haja a necessidade de você se tornar um monstro como eu. Eu não suporto a ideia.

– Alexander - suspirei - Vamos achar um solução, tudo bem? Pode não ser hoje ou amanhã, mas eu sei que vamos. - afastei o cabelo que caía em seus olhos tristes.

– Caius quer falar com você. - o moreno mudou de assunto.

– Amanhã vamos - respondi - Está um dia lindo lá fora, deveríamos dar um mergulho. - sorri, puxando-o pela gola da camisa para o lago aos fundos do chalé. Era um dia quente, mas cinzento. Ainda assim, não me importei.

Tirei a roupa, ficando apenas de lingerie, e saltei na água cristalina. Era um lago um tanto quanto fundo em seu centro. Nadei para subir à superfície, mas um par de mãos ágeis segurou meus pés e me puxou para baixo. Comecei a rir, soltando o ar em bolhas. Alec também ria, puxando meu corpo contra o dele e beijando-me vorazmente. Apenas aproveitei o momento, sabendo que ele não voltaria assim tão cedo.

Eu não precisava respirar.

Poderia ficar ali para sempre.