Capítulo 4

P.O.V Peeta

–O que queria falar comigo? - pergunto para Haymitch.Deve ser alguma coisa séria, porque ele não comentou nada no almoço.
–Sente-se. - felizmente, ele não está com uma bebida em mãos. -Amanhã chegamos ao distrito 11 e você, meu caro, não pode aparecer com Katniss sem que ela seja alguma coisa sua.
–Por que? Eu tenho direito de convidar uma pessoa...
–Mas ela não é qualquer pessoa, é a pessoa que você disse para todo mundo que amava e tudo mais. Não vão deixar as coisas assim. Se Snow suspeitar de alguma coisa, a vida da garota fica em risco.
–Por que? - pergunto de novo.
–Pense, Peeta. Pense. A irmã dela foi pra arena e morreu. Snow pode achar que ela quer começar uma rebelião!
Congelo. Eu estou pensando numa rebelião, ela...bem, não sei, não perguntei. Mas não há chances... ou talvez haja...
–Isso é ridículo, ele não pode sair suspeitando dela!
–Não é ridículo. Faz todo sentido! Se ela não é sua namorada, não tem motivos para ter ido com você a não ser para espionar! - Haymitch fala.
De repente eu me vejo na televisão. É a entrevista com Caesar. Eu estava tão nervoso, mas não imaginava que estava tão pálido. Então ele pergunta se teremos notícias em breve, e Haymith diz que sim. Agora tudo se encaixa: ele quer que eu diga que estou namorando Katniss! Corro para a cabine dela e escancaro a porta, nem ligando para o fato dela me xingar por ter entrado sem permissão.
–Eu posso explicar! - grito.
Katniss está surpresa. Talvez assustada por eu ter entrado assim, do nada.
–Ficou maluco? - ela pergunta. -Já disse pra não entrar assim!
–Katniss, me desculpa, eu tenho que conversar com você. Não é minha culpa, eu juro.
–Do que você está falando, Peeta? - ela me pergunta, mas eu sei que no fundo, ela já desconfie do que seja.
–Katniss, eu espero que você não me odeie por isso, porque eu já estou me odiando. Não foi minha culpa, não mesmo, eu não queria isso.
–Fala logo!
–Haymitch...ele...ele...ele vai dizer que estamos namorando, se é que já não disse. Não é minha culpa, eu nem estava sabendo disso, eu juro, não é minha culpa. Mas você pode estar em perigo então...
–Então ele resolveu se meter na minha vida? - ela grita, me olhando furiosa.
–Katniss, eu não...
–Você nunca deveria ter me colocado nesse trem! Eu daria um jeito de cuidar da minha mãe, de nos proteger, eu sei lá, mas eu não precisava estar aqui! É tudo culpa sua, sim!
–Katniss, você está sendo injusta! Eu não disse pra Haymitch fazer nada disso, eu nem sabia, eu já te disse! Daremos um jeito de reverter essa situação. Vamos convencer Haymitch que essa é uma péssima ideia, e se ele já disse, que desminta.
Ela está me olhando com ainda mais raiva. Permanecemos alguns segundos em silêncio, então ela explode.
–Eu não vou dizer ser sua namorada, eu não vou ficar te beijando, dando a mão pra você! Eu não quero viver uma mentira, você entendeu? Eu não quero e eu não vou! Mande esse trem parar, e eu volto pro distrito 12 a pé, nem que demore semanas!
Entendo o lado dela. Eu também não gostaria, isso é uma falta enorme de respeito com nós dois, mas eu gosto dela, muito, e o que ela disse doeu muito em mim. Agora sei que nunca terei chances, foi ótimo eu ter dito que menti sobre gostar dela.
–Olha, eu estou tentando falar amigavelmente com você, por favor, não fique gritando comigo. - eu digo, cansado. -E não desça, você pode correr grande perigo. Eu te juro que não vou te obrigar a nada. Vamos tentar falar com Haymitch, se der errado, teremos que dizer que somos namorados. Mas, você não precisa agir como minha namorada fora das câmeras, nem precisa olhar na minha cara, se preferir.
Katniss parece ter se acalmado um pouco.
–Haymitch acha que Snow achará muito estranho se você aparecer comigo sem não termos nada, pode achar que você quer se vingar.
–Mas é isso que eu quero.
–Eu sei, é ridícul...Pera, você quer?
Ela se levanta e fecha a porta.
–Não quero que ninguém ouça o que vou dizer, mas sim, eu quero me vingar. Ele pôs tantas pessoas inocentes naquela arena, incluindo minha irmã, e ela morreu. Já está mais do que na hora de fazermos alguma coisa para parar isso.
–Concordo. - digo. Agora que sei que não sou só eu que penso assim, me sinto aliviado.
–Sério? - ela me pergunta, surpresa.
–Sério.
–Então eu topo fingir ser sua namorada, mas com uma condição, eu não vou beijá-lo.
A dor se foi, pelo menos uma parte dela.
–Certo. Nós vamos fingir e vamos traçar um plano para uma revolução.
Ela concorda, vai dizer alguma coisa, mas a porta se abre.
–Então é mesmo isso que os dois querem? - pergunta Haymitch.
Levo um susto, Katniss também.
–Calma...
–E nem me incluíram no plano? - fala ele.
Fico aliviado. Achei que Haymitch ia fazer alguma coisa, daí me lembro que ele já foi um tributo, que sofreu como nós, sofreu perdas.
–Agora está incluído. - falo.
–Effie mandou chamar os dois para o almoço. - grita ele, como se tivesse acabado de chegar. -Andem logo, ou não sobrará comida.
Ele dá um sorriso, demonstrando que está do nosso lado.
Katniss, eu e Haymitch vamos para a sala sem falar uma palavra sobre a rebelião.