Prendo meu cabelo em uma trança simples. Effie não discutiu.
O vestido de hoje é amarelo bebê, com alguns brilhinhos. A sapatilha é rosa clara. Houve uma mudança radical no vestido que usei no 11, para o que estou usando no 10.
Prendo o broche de tordo em uma das mangas do vestido. Ótimo.
Ouço uma batida na porta e falo para quem quer que seja que pode entrar.
–Com licença, estamos indo ao jantar. - fala Carl. -Vim te avisar.
–Obrigada.
Ele sai e fecha a porta. Me olho no espelho mais uma vez e desço as escadas.

–Esse jantar está melhor que o de ontem. - comenta Peeta. -Estou satisfeito.
–Eu também.
Arrumamos os talheres em cima dos pratos. O restante da mesa está absorto nos mais variados assuntos. Peeta vez ou outra fala com alguém. Eu apenas sorrio.
–Então, Katniss, o que está achando?
Estou bebendo um pouco do líquido do copo, e coloco-o em cima da mesa.
–O jantar está muito bom.
Começo a sentir um formigamento estranho na pele.
–Fico feliz que tenha gostado. - fala o prefeito. -Vamos fazer um brinde ao vencedor dos jogos...ou melhor, ao casal de Peeta e Katniss?
Minha respiração acelera e não é por causa do que ele falou do brinde. Há alguma coisa errada comigo.
Forço um sorriso.
–Tudo bem.
–Então, um brinde a eles!
Todos erguem suas taças e fazem tin tin.
Minha cabeça começa a latejar.
–Katniss, está tudo bem? - sussurra Peeta.
Eu balanço a cabeça negativamente. Começo a sentir frio, depois calor, e volta para o frio. Minha pele está gelada, meu pulmão clama por ar.
–Katniss, o que há? - pergunta Peeta, dessa vez mais alto.
Todos os olhares pousam em mim.
–Ela está passando mal, chamem um médico! - alguém grita.
Minha pele começa a ficar roxa. Me levanto com a ajuda de Peeta, mas então, caio no chão. Minha visão escurece.

P.O.V Peeta

–Ela foi envenenada. - diz o médico. -Não há duvida disso.
Katniss continua no chão. Os convidados se dispersaram e só sobrou eu, Haymitch, Effie, o médico e o prefeito.
–Mas quem a envenenaria aqui? - pergunta o prefeito, assustado. -Nenhuma de minhas cozinheiras fariam isso. São de total confiança!
Haymitch se aproxima dele.
–Bom, alguém envenenou a comida. Especificamente, a comida dela.
–Mas ninguém aqui faria isso! - fala o prefeito, praticamente gritando.
Perco a paciência.
–Dá pra vocês pararem de brigar? Tem um corpo no chão, o corpo da minha namorada! Dá pra se calarem por um momento? - eles param de brigar. Respiro fundo. -Doutor, o que podemos fazer? Ela está...ela está viva?
Temo a resposta.
–Felizmente, está. - suspiro aliviado. -Mas foi por muito pouco. Se não tivessem me chamado a tempo, eu não poderia ter feito nada para ajudá-los. - ele suspira. -Quando ela acordar, terá que forçar pra por tudo pra fora. Eu dei apenas um remédio. O veneno age muito rápido, teria tomado conta dela. Mas felizmente, aqui estou.
–Muito obrigado.
–Não há de que. Ela terá que tomar estes remédios, eles vão ajudar. - ele diz, tirando-os da maleta. -O pagamento, como fica?
O prefeito vira-se para ele.
–Vou lhe pagar, afinal, ela é minha hóspede.
Os dois saem.
–Que horror! Eu exijo uma explicação! - fala Effie. -Vocês todos se comunicam sussurrando daqui, e dali. Tentaram matar Katniss na casa do prefeito do distrito 11, hoje aqui no 10! O que está acontecendo?
Haymitch e eu nos entreolhamos. Temos uma vaga ideia do que possa estar se passando, mas Effie não pode saber.
–Se não querem me contar, ok! Mas precisam dar um jeito nisso. Se estão tentando mesmo matá-la cada vez que ela vai pra um distrito, uma hora dessas vai dar certo!
Ela tem razão.
–Nós sabemos disso. - fala Haymitch. -Tomarei providências hoje mesmo. Sairemos do distrito amanhã, iremos para o 9. Peeta fará o discurso e iremos em bora.
–Sem o jantar? - pergunto. -Não me importo com os jantares, mas vão achar estranho...teremos que dar explicações?
Haymitch bufa.
–Então jantaremos. Effie e eu supervisionaremos a cozinha enquanto a comida é preparada.
Ela pareceu feliz de ser incluída em alguma coisa.
–Bem melhor assim. - falo. -Precisamos levar Katniss para a casa do prefeito. Ela não pode ficar deitada nesse chão a noite toda.
Os dois concordam.
Ai se eu achasse quem envenenou a comida dela, quem quase a tirou de mim...
–Vamos. - diz Haymitch.
Pego Katniss no colo. Ela está tão gelada, mas pelo menos a cor está voltando.
Chegamos na casa do prefeito. Carl nos recebe e não faz muitas perguntas. Levo Katniss ao quarto onde ela está dormindo.
Deito-a em sua cama.
–Peeta, hoje foi uma noite longa. Acho melhor ir dormir. - fala Effie. -Haymitch foi se deitar e pediu para que eu viesse pedir para você deixá-la.
–Não vou deixá-la. A última vez agrediram ela. Hoje ela foi envenenada. Não vou deixá-la sozinha! - falo. -Ficarei sentando aqui, esperando ela acordar.
Effie parece cansada.
–Sei o quanto gosta dela, mesmo. Mas...Ah, deixa pra lá. Fique aí. Qualquer coisa nos chame.
Assinto com a cabeça e fecho a porta. Ligo o abajur que fica ao lado da cama de Katniss e sento-me numa cadeira, que força a porta, caso alguém tente entrar.

São três horas da manhã quando ouço um barulho. Abro os olhos. Katniss está sentando-se em sua cama.
–Peeta?
–Sou eu. - falo, enquanto me levanto. Minhas costas doem.
–O que está fazendo aqui?
–Estava te vigiando, caso acontecesse outro ataque. - ela concorda levemente com a cabeça.
–O que aconteceu comigo?
–Você foi envenenada.
Ela arregala os olhos.
–Por sorte chamamos o médico a tempo. Se não...você teria morrido.
Eu fiquei tão desesperado quando ela caiu, achando que ela tinha batido as botas. Que tinha me deixado.
Ela abre um sorriso.
–Estou bem viva agora.
Dou uma risada de volta.
–São três horas da manhã, vá se deitar. Descansar. Estou bem. - ela me assegura.
–Prefiro ficar aqui com você.
Ela não discute. Desliza de volta para o travesseiro e dorme.