Senti uma gota fria percorrendo minha testa e depois outra e outra, abri os olhos e constatei que estava debaixo de uma goteira e lá fora chovia muito, João Vitor dormia ao meu lado com os braços me envolvendo, com um pouco de dificuldade pude alcançar meu celular para ver a hora e percebi que já passara horas que estávamos ali. Havia umas 10 ou 15 ligações e sms de Rogério e Guilherme em meu celular, eles deviam está preocupados, afinal eles deviam esta pensando que João Vitor fora realmente embora.
_João Vitor!! – Balançava o ombro dele com a intenção de acordá-lo.
_Ham?! – ele disse ainda com os olhos fechados sem coragem alguma de abri-los.
_ Precisamos voltar a mansão, todos estão preocupados.
_ Eu não quero voltar agora, deve ta frio lá fora.- ele disse se referindo a chuva e agora abrindo os olhos .
_ Nada disso , temos que ir porque... – ele cortou o que eu dizia com um beijo e eu não intervir.
Pulei de seu colo antes que eu não resistisse e deixasse todos na mansão esperando mais ainda. Catei minhas peças de roupas jogadas pelo chão e a vesti sobre os olhares observadores de João Vitor.
_ Para de me olhar assim, João! – falei envergonhada.
_ Nem acredito que mesmo depois de tudo que vivemos você ainda fica vermelha quando te observo. – ele disse rindo e se acomodando mais no sofá.
_ Vamos se apressa, temos que ir. – falei jogando suas roupas nele.
...
Chegamos na entrada na mansão, Sai do carro e João logo saiu do seu nos reencontrando na porta da casa, então entramos , olhares preocupados e surpresos nos cercaram ao entrar.
_ Que foi ? – João Vitor perguntou ao ver todos os olhares sobre ele.
_ Pensávamos que tinha ido...- Rogério tentou dizer, mas João Vitor o cortou.
_ Não eu não fui, como você deve ta percebendo.
_Mas você sempre dá motivos pra que pensássemos nisso. – O pai de João protestou.
João responderia algo, mas ele respirou fundo e subiu as escadas despreocupado.
_ Pra onde vai ? Não terminamos a conversa.- Lorenzo disse irritado.
_ Não estou interessado em terminá-la .- João disse ainda subindo as escadas.
_ Eu desisto. – Rogério disse se jogando no sofá e todos que estavam na sala riram.
Subi as escadas atrás de João , e ele estava já deitado na sua cama, já havia tirado sua camisa e voltado a dormir, ele devia esta cansado. Peguei sua camisa que ele havia jogado no chão colocando a mesma no cesto de roupas sujas e tirando seu tênis , ele se mexeu um pouco na cama, mas ainda dormia. Me assustei com o barulho da porta se abrindo e era Valentina.
_ Que susto ! – exclamei e depois ri.
_ Desculpa, é que Bernardo veio me avisar que João voltou e vim conferir se era verdade.
_ Como vê é verdade. – falei dando leve beijo em seu rosto.
_ Vocês fizeram as pazes? – ela perguntou curiosa e sussurrando para que ele não acordasse.
_ É... acho que sim.
_ Com esse sorriso bobo no seu rosto, eu tenho certeza que sim. – ela disse saindo.
Quando voltei para o andar debaixo da casa , vários convidados já tinham ido. Rogério e Bernardo conversavam animados com alguma coisa e Lorenzo dormia no sofá juntamente com Nicolas em seu colo que também dormia, pensei em levar Nick para o quarto para se acomodar melhor , mas a cena era muito fofa de se desmanchar, então deixei onde ele estava, afinal já devia ta acostumado a dormir no colo de alguém.
Vasculhei o local e Camila estava na piscina com Valentina agora. Thomas, Henri e Guilherme no home bar da sala, bebendo algo . Então resolvi subir ao ver que tudo estava na paz, no quarto, João Vitor ainda dormia e antes que eu deitasse ao seu lado, o barulho de algo me chamou atenção, era de um celular , tocava insistentemente , mas eu não o achava. Provavelmente , o celular pertencia João, vasculhei o quarto e encontrei de baixo da cama , devia ter caído quando ele deitou.
O nome que piscava no visor do celular era “Felipa” , pensei em acordar João e entregar o celular a ele e perguntar porque aquela garota ainda ligava para ele, mas sinceramente me concentrei em pensar apenas que aquele telefonema não ocorreu, recusei a chamada e coloquei o celular sobre a estante, mas ele continuava a tocar. Peguei uma revista e sentei na poltrona me segurando para não prestar atenção ao telefonema e consegui.
Mais um toque, João se mexeu na cama acordando, ele olhou confuso procurando da onde vinha o barulho e avistou o celular , ele olhou pra mim como se falasse “ Poxa amor, por que não atendeu pra mim?” Ele pegou o celular e viu o nome no visor e fez a cara surpresa e depois de que havia sacado.
A minha taxa de paciência estourou, levantei da cama e tentei passar pela porta , mas João não deixou pulando na minha frente e trancando a porta.
_ Idiota! – exclamei e escapou uma risada da boca dele.
O celular insistiu e ele atendeu impaciente já com o toque.
_Oi... sim sou eu. – ele falava no celular ao mesmo tempo em que mantia seus braços afastando os meus que lhe tentavam roubar a chave.
_O que houve ? – ele disse me jogando na cama se divertindo com a situação e eu dava leve tapas em seu ombro.
_ Aaaai! – ele exclamou e percebi que meus tapas não eram tão leves assim e soltei uma risada.
_ Não, não. Estou bem , bati com a porta. – Ele explicava para mini damasceno no outro lado da linha.
_Não , esta tudo na perfeita paz ,por que a pergunta? – ele disse no celular ainda atrapalhado com a nossa pequena luta de vale tudo sobre a cama.
_ Espera só um minuto, Felipa. – ele disse pousando o celular sobre a cama e ficando em cima de mim , prendendo meu braços debaixo de sua perna , me deixando imóvel.
_ Pode falar... – ele continuou e tinha um sorriso zombador no rosto , eu tentava sair , mas era inútil , então suspirei e decidi esperar.
_ Que ? –ele disse saindo de cima de mim e indo direção ao seu guarda roupa.
Sentei na cama confusa e ele tirava algumas peças de roupas, primeiro uma calça e vestiu e depois uma camisa vestindo também, tudo isso ainda concentrado na conversa no celular.
_ To indo pra ir. – ele disse antes de desligar o celular.
_ O que? Como assim “To indo pra ir” ? – perguntei irritada.
_ Depois eu te explico , amor. É importante. – ele disse dando um leve beijo em minha testa.
_ Explica agora. - gritei, mas ele já havia destrancado a porta e passado por ela.
...
Desci as escadas, e João caçava as chaves do seu carro na sala, e todos estavam ainda distraídos em suas conversas até eu chegar correndo feito uma louca.
_ Droga , cadê essas chaves. – João dizia impaciente.
_ Estava lá em cima.- disse balançando a chave com um sorriso no rosto, e ele teria que me explicar.
_Me da aqui essa chave , Duda. – ele disse se aproximando da escada.
_ Não, ate você me explicar.
_ Guilherme , me empresta seu carro? – João virou em direção aos meninos que nos observam também.
_ Claro, aqui . –ele disse jogando as chaves para João Vitor.
_ Não.. Gui seu ..- falei irritada.
_ Que foi?- Gui disse confuso
_ Volto pro jantar , amor. – João disse zombador e correndo para fora da casa.
_ O que ta acontecendo, Eduarda? – Rogério disse curioso e preocupado.
_ Eu não sei, a filha do Daniel ligou pra ele e agora ele ta saindo assim todo apressado.
_ Daniel Damasceno ? – Guilherme peguntou.
_ Não , o Daniel cantor. – disse ainda irritada com Gui por ele ter emprestado o carro.
_ Vamos atrás dele. – Rogério chamou e Bernardo e eu .
...
Seguimos o carro que João Vitor estava , mas ele era muito melhor no volante e o perdemos de vista .
_ Sabe o Hotel onde Felipa está hospedada ? –Rogério perguntou para Bernardo.
_ Ela já compro uma casa , eu até acompanhei ela na venda com uma imobiliária, mas eu não sei qual casa ela escolheu das quais foram apresentadas.
_ Lembra o endereço de todas ?
_ Sim.
...
Dirigimos por alguns minutos atrás da casa e por muita sorte a primeira era a casa certa o carro em que João Vitor saiu de casa estava estacionado lá, mas uma cena mais forte nos chamou atenção.
Narração João Vitor.
Ao receber o telefonema de Felipa dizendo que estava sendo seguida por uns caras o dia todo enquanto fazia compras no shopping, fui o mais rápido possível ate a sua casa, mas não rápido suficiente, ao estacionar o carro na sua entrada me deparei com um circulo de pessoas em frente a casa, tentei passar pelo aglomerado de pessoas.
_ O que ta acontecendo aqui em ? – perguntei pra um dos curiosos.
_ É um incêndio.
Sai correndo empurrando algumas pessoas , e ate passar por elas me encontrei com a casa quase dominada pelo fogo, algumas pessoas jogavam água e outras ligavam ao bombeiro.
_ A moradora da casa já saiu de dentro? – perguntei aflito.
_ Não saiu ninguém, nem temos certeza se tinha alguém lá. – um dos homens que jogava água falava entre fôlego e continuou.
_Eu ouvi gritos, mas eles se calaram. – disse uma senhora que justificou sendo vizinha.
_Droga, droga e droga. – resmunguei aflito.
_ Ah meu Deus ,João o que hou..? – Eduarda disse chegando correndo com Rogério e Bernardo e pararam assustados com a cena do incêndio.
_Felipa ? Cadê a Felipa ? – Bernardo perguntou muito aflito.
_ Eu não sei, droga.- disse alto.
Rogério logo se mobilizou com a população a tentar apagar o fogo, mas ele já era forte demais e dominava maior parte do casarão. Bernardo discava o numero de Felipa com a esperança dela não esta mais dentro da casa e que a preocupação seria em vão, mas eles não ouviram o que ela havia me contado mais cedo e aquele incêndio não acontecera por um acidente.
_Isso não pode ta acontecendo..- Bernardo disse angustiado.
_ Porque ta tirando a camisa? – Eduarda perguntou ao ver minha atitude.
_ Por nada. – respondi.
_ Por nada ? – Bernardo perguntou.
_ Eu tenho que verificar algo.
Passei decidido pelas pessoas, e entrei na casa pelo lado em que as chamas ainda não tinham chegado, ouvi algo como “ Espere o bombeiro” , “Esse garoto é maluco”e muitos outros argumentos, mas se eu esperasse podia ser tarde pra Felipa e eu tinha certeza que ela estava dentro daquela casa.
_ Felipa ? – gritei.
O lugar estava quente demais apesar de não ter muitas chamas onde eu estava, mas adentrei mais a casa e algumas estruturas caiam do meu lado e eu já estava desistindo de prosseguir, ate ouvir um leve grito de socorro.
Passei por uma porta e acabei queimando minha mão ao segurar na maçaneta , e Felipa estava caída no chão.
_ Felipa ?
_ Você veio. – ela disse com um leve sorriso.
_ Você disse que estava sendo seguida aí eu me deparo com sua casa pegando fogo, pelo visto você arranja mais confusão que eu. – disse dando uma leve risada e a pegando no colo.
Ela estava com uma perna machucada e um leve ferimento na cabeça, a peguei com cuidado, mas o lugar que eu passava já estava dominado pelas chamas e eu não sabia mais por onde seguir , eu estava em um quarto sem saída.
_ E agora? – falei aflito.
_ Desculpa por fazer você vim. – ela disse com a voz fraca e tossindo em seguida.
Apoiei ela no chão e tirei a camisa do meu rosto e coloquei no seu.
_ Tem que ter uma saída.
_ Eu só vejo paredes .
_ A estrutura ta fraca. – disse e ela me olhou confusa, mas logo entendeu quando comecei a chutar uma parede.
Com minha ultima gota de esperança a estrutura veio ao chão e logo passei com ela. Bernardo veio logo receber Felip, preocupado.
_ Você ficou maluco ? Quer me matar de preocupação? – Duda disse do jeitinho bravo que eu adoro.
_Eu não poderia deixar ela...- eu continuaria a teimar com a Duda e provavelmente teríamos mais uma discussão boba de sempre , mas não consegui, eu não tinha ar, não conseguia respirar.
_ João está tudo bem? – Rogério disse percebendo e me forçando a sentar no chão.
_ A asma dele. Deve ta atacando por causa da fumaça. – Bernardo disse afastando Eduarda de mim.
Minha vista escureceu, mas ouvia algumas vozes preocupadas.
_ Droga , isso estava no meu carro, junto com a maleta da faculdade. – Ouvia uma voz distante,era Bernardo.
_ Achei. – A voz de Bernardo se aproximou e minha respiração voltou aos poucos.
...
Ainda no carro respirava com dificuldade pela bombinha enquanto Bernardo dirigia pro Hospital, a situação principal era o estado de saúde de Felipa e quem havia feito isso com ela , claro que o principal suspeito seria Daniel Damasceno, mas ele não seria capaz de fazer isso com a própria filha seria?
_ Super heróis não podem ser asmático , João – Tio Rogério zombava dentro do carro.
_ Eu não consigo, mas me imagine rindo com suas piadas , tio. – disse irritado e Eduarda empurrou a bombinha de volta me impedindo de falar.
_Você e sua mania de se sacrificar pelos outros. – Duda sussurrou no meu ouvido e me deu um beijo no rosto.
_ Desculpa. – sussurrei no seu ouvido de volta.
_ Não precisa se desculpa , eu admiro isso em você, apesar de me deixar louca de raiva as vezes por me deixar preocupada e com medo de te perder.
_ Eu não vou morrer , não ate quando eu entrar na igreja e casar com você.
_ Eu acho bom mesmo. – ela disse me dando um longo selinho.
_ Será que Daniel teve algo haver com esse incêndio?
_ Ele ta preso.
_ Mas isso não impede dele ordenar coisas aqui fora.
_ Mas é a filha dele. Isso seria cruel demais .
_ Esse é homem é cruel, Duda.
_ Ta, mas agora eu só quero que você fique bem. – ela disse.
_Eu to melhor, mas ficaria melhor com alguns beijos.
_ Ah eu não sei não, você mesmo disse que ta melhor.
_ Não , eu disse isso? Mas eu não to conseguindo nem respirar. Ah meu Deus a asma voltou atacar. – disse fazendo um péssimo teatro.
_ Acho que vou precisar de respiração boca a boca.
_ Seu bobo. – ela disse voltando a me beijar.
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