Liu estava acompanhando Dick sentindo o recente reencontro o causar ansiedade. Só vira Joker uma vez na vida, e quando tem a oportunidade pela segunda vez descobre que este tem informações frescas do maior inimigo do Casarão Creepypasta. O grupo no hall tentou questionar e estimular Joe para que soltasse logo todo o conhecimento acerca de Edgar.

— Eu quero falar tudo diretamente aos superiores do casarão. — Havia se justificado após tanto recusar — Embora eu não viva diretamente aqui, sinto que devo ajudá-los com Edgar. Ele é um monstro.

— Nós precisamos de informações agora! — Kyara quase parecia histérica. — Entra já aqui, podemos subir até o escritório do Slender agora mesmo.

Ela até tentara puxá-lo, sem sucesso.

— Eu não entro aí de jeito nenhum! Nem mesmo tenho tempo. Eu volto amanhã, juro. Reúnam os que se interessarem do lado de fora.

E depois de muita briga e de um surto de Kyara todos tiveram de aceitar, descontentes.

Agora Liu era obrigado a sofrer ansiando o alívio de toda aquela tensão.

Quietamente andava pelos corredores ao lado de Dick, lhe dando apoio até seu quarto, onde depositou o amigo e analisou sua situação antes de querer sair de volta ao seu próprio, ou talvez procurar por seu irmão. Apenas a luz do abajur iluminava o local, a pedido do garoto. A lâmpada alaranjada mudava os tons das cores, era como enxergar o mundo com outros olhos… Ou apenas terem um gosto de como seria se aquelas paredes acinzentadas seriam se alguém houvesse repintado aquilo uma vez na vida.

— Como você está se sentindo? — Indagou Liu preocupado. Parecia que foi ontem em que o garoto Slender era um jovem social e doce, para agora ser apenas mais um ser semi-morto.

O mais alto sorriu amargamente.

— Você sabe: Um pedaço de bosta. Sou o culpado de tudo isso, nunca deveria ter nascido.

— Dick… — Ia começar com um discurso pré-montado sobre valorização da vida, as pessoas que o amavam e etc. quando foi cortado.

— Olha, eu vou ficar bem. E mesmo que eu não fique, estou disposto a me sacrificar pelo meu pai e todos os outros.

— Mas…

— Eu preciso de uns minutos sozinho, okay?

— Claro. Desculpe. Eu me preocupo. Eu e todos nós que moramos aqui, como uma família. A gente só não quer te perder de novo. Sei que você está chateado com uma série de coisas que vem acontecendo, eu entendo.

— Entende? — O sorriso de Dick transmitia a mais profunda das dores. — Deve entender mesmo. Todos, especialmente aqueles que moram aqui, passaram por experiências traumáticas. Por que eu não posso superar um simples pé na bunda? Eu sou quase uma criança. Não sei receber uma rejeição com maturidade.

— Achei que você estava seguindo em frente. No refeitório parecia mesmo que estava bem. Até estranhei a frieza.

Dick soltou um suspiro e não respondeu. Liu resolveu deixar o amigo em paz, saindo sutilmente e fechando a porta.

Ao sair começou sua procura por Jeff, já que tinha ciência de que este era outro que necessitava de atenção, uma vez que fora o primeiro a descobrir o verdadeiro perigo que mergulhava o Casarão Creepypasta. Todavia após muito perambular sem rumo, a única pessoa em quem esbarrou fora Jane.

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O filho de Slender ao se perceber sozinho permitiu entregar-se por completo a escuridão. Dentro da gaveta de seu criado-mudo arrancou uma caixinha de metal e a pôs sobre seu colo. Havia adquirido mais um vício além do cigarro, e se não suprisse sua carência pelo conteúdo daquele objeto gélido, perderia completamente a cabeça em mais alguns minutos.

Ajeitou três carreiras sobre a tela do celular, e sem pensar acendeu um de seus maços. Dick estava se matando, mas para ele só estava se libertando.

Não era como se ele se orgulhasse disso: gastar seu último trocado em cocaína e em seu pico de dependência chegar a trocar o PSP que Jane o havia dado de aniversário por mais oito pinos. Era deplorável.

Contudo por mais que soubesse pra onde estava se puxando, não seria capaz de parar. Seu cérebro já estava convencido que precisava daquilo para manter sua sanidade.

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A jovem de olhos completamente negros havia indagado sobre o ex namorado para Liu, que naturalmente lhe concedeu a informação de onde ele se encontrava. Ela tinha passado muito tempo pensando sobre como as coisas acabaram entre eles, e sentia remorso por ter feito o que fez, na situação que fez. E tudo se intensificava a cada vez que ela repassava em sua mente todo o sofrimento recente do antes companheiro. Ainda amava ele e sabia disso.

Enrolou ainda para ir vê-lo. Soube que Dick precisava de um tempo para descansar então passou uma hora inteira observando a floresta do lado de fora pela janela, escolhendo cuidadosamente as palavras certas.

Ela pôde presenciar a exata hora em que o céu noturno começara a se precipitar, relampiando algumas vezes.

Foi nesse instante que tomou fôlego e seguiu para o quarto de Dick, batendo na porta.

Ele não respondeu, apenas aumentou a música que ouvia nas caixas de som, abafando com metal pesado as batidas frustradas na porta. Jane resolveu entrar sem o consentimento do garoto.

Seus olhos se arregalaram perante o “furacão” que visitara o quarto de Dick antes dela. As paredes estavam pichadas, e o travesseiro esfaqueado dezenas de vezes, fazendo com que o enchimento saísse por entre os rasgos, sem contar os outros objetos quebrados sobre o chão. Não teria sido o fim do mundo para Jane se ela não soubesse o que aquele pó esparramado aos pés da cama significativa.

— O que você está fazendo aqui? — A fala do filho de Slender denunciou sua localidade, parado em pé no canto mais afastado do cômodo. A garota estremeceu ao ouvir o tom de voz dele. Quem estava acostumado com a dicção antes calma e preguiçosa, imaginaria o armagedom, sendo cortado pela raiva animalesca presente naquele tom.

— Eu… Eu preciso falar com você. Sobre a gente.

— Não tenho nada a falar com você! — Nesse ponto Dick começou a diminuir a distância entre ambos, lentamente. Meio agachado.

— Dicky, olha. Me escuta — Seu cérebro mal raciocinava as falas, entretido demais em criar associações entre a nova índole do garoto e os traumas do passado deste. — Eu repensei sobre o que eu fiz com você no jardim, e repensei sobre meus sentimentos.

Ele fechou a porta atrás de Jane, banhando ambos em uma escuridão gritante.

— Você me ama? — A pergunta viera carregando o silêncio. Ela se enrolou nas palavras. — Ou é só dó?

— Eu amo você Dicky! E me sinto culpada em saber que colaborei com seus novos vícios. — Ele parou na frente dela, a jovem não se lembrava de que ele era tão alto. — Você é a última pessoa daqui que eu pensaria em ver usando esse tipo de droga. Você não tem ideia do quanto isso mostra a desesperança.

Cada vez que ela abria a boca mais a expressão dele se franzia em ódio. Mas Jane prosseguiu, desesperada demais para parar naquele instante:

— Como isso vai te ajudar com tudo isso que está acontecendo? Me diz! Isso só vai acabar com você! E se você se for eu não sei o que será de mim…

Dick a jogou contra a parede atrás de si e prensou a ponta da faca antes impercebida sob o queixo dela.

— Somos assassinos, Janie. Que diferença faz cheirar uma carreira ou duas, fumar e beber? Já somos todos errados e Slenderman não vai conseguir nos educar por muito mais tempo. É o que somos, é o que sempre seremos. Ninguém pode evitar isso, no máximo adiar. Não meta seu nariz onde não é chamado, quem é você afinal? Uma garotinha atrás de vingança, e que nem mal faz a uma mosca! VOCÊ É PATÉTICA! Me abandonou e espera que eu me importe com você? Sério? Vai se foder, vadia.

Ela correria naquele momento se não estivesse incapacibilitada. As pernas fraquejavam de medo e cada vez que sentia a lâmina realizar um movimento mínimo qualquer deixava escapar um gemido baixo de terror.

Depois de assisti-lo se divertir por longos minutos encarando seu rosto, Dick se pronunciou novamente:

— Eu tava com tanta saudade de ouvir sua voz… — Não. Aquele não era Dick. Era um maníaco cheirado. Não era Dick. Não era.

Jane cerrou as mãos sobre a parede em suas costas quando uma coisa gelada e viscosa passou em sua bochecha, descendo até seus lábios e posteriormente sobre seu corpo inteiro, banhando-a em uma camada de um líquido desconhecido.

— Janie, chame meu nome…

Ela gritou apavorada, sendo censurada por aquela coisa gosmenta entornando seu pescoço.

— Mentirosa.

Alguém abriu a porta do quarto com rapidez, e a coisa soltou Jane, a derrubando no chão enquanto ela chorava de pavor.

— O que tá acontecendo?! — Liu e Jeff surgiram, sendo que o mais velho foi dar apoio a ela.

Dick apenas se afastou, como se nada houvesse acontecido enquanto a garota se engasgava antes de conseguir explicar o ocorrido.

— Por favor tirem-na daqui. Não tenho nada pra falar com ela.

Enquanto Liu e Jeff puxavam Jane para fora do cômodo ela poderia jurar ter visto tentáculos no meio do escuro, bem as costas de Dick.