Ao cair da noite, fortes rajadas de vento batiam nas janelas do Casarão Creepypasta. O que já não era novidade, o clima continuaria daquele jeito por um bom tempo. E, em meio à escuridão de fora, Dick Slender sentava-se na fonte do pátio degustando o doce-amargo do tabaco – de novo. Perdera as contas de quantas vezes já havia botado a quase tóxica fumaça dentro de seu organismo, porém pouco se importava. Esperava a chuvarada começar antes de voltar para dentro e tentar conversar com o amigo Alexandre.

Dick suspirou pesadamente. No que estava pensando? Já tinha idade suficiente para largar os dramas adolescentes, mas mesmo assim não conseguia deixar de lembrar-se de quando saciou sua vontade de matar pela primeira vez. Aliás, nunca imaginou que conseguiria ter tal coisa.

Sequer lembrava-se de quantas vidas tirara. Foi tudo rápido demais, tudo fora de controle. Parte dele se culpava por ter as mãos sujas de sangue, mas outra parte tinha orgulho disso.

Droga! — Exclamou baixo, agarrando os cabelos com as mãos e pondo os cotovelos sobre os joelhos, curvando-se sobre seu próprio corpo. Cerrava os dentes, frustrado e confuso, quase cortando o filtro do cigarro.

Slenderman observava o filho da janela de seu escritório. Dali podia ter uma bela perspectiva, mas Dick parecia não percebê-lo ali.

— Está tudo bem Slendy? — Elizabeth Ackerman indagara para o homem alto de terno, exalava preocupação.

— Não tenho certeza. Há algo errado com meu filho desde que voltara do mundo humano.

A mulher loira se levantou do sofá do escritório e caminhou para o lado de Slenderman. Olhou na direção do garoto.

— Ele é meio humano. Como você mesmo disse, Daemon dizia que ele herdaria características emocionais da mãe. Deve estar passando por uma fase difícil agora que finalmente matou. — Argumentou ela. — Mas ele ficará bem. Tenho certeza. — Sorriu.

Slender “fitou” o rosto da irmã de Mr. Creepypasta. Estava retribuindo seu sorriso por dentro.

— Você tem sido uma boa companhia. — Falou o sem-rosto — Agradeço por sempre estar do meu lado.

— Não é preciso. — Seu sorriso permaneceu e as bochechas pálidas ganharam uma leve coloração avermelhada — Também gosto da sua companhia, senhor Slenderman.

Elizabeth não se cansava de olhar a face lisa do homem de terno. Era vazia, de fato, contudo mesmo assim a dama sabia que aquela frieza só escondia um coração pulsante e paternal.

Acho que ele está com a Lady Elizabeth...” Uma voz abafada foi ouvida pelo outro lado da porta. Parecia ser de Masky.

He, he. Podemos espiar?” Esta lembrava a de Ticci Toby.

Qual é o teu problema?!” Mais uma vez o de máscara branca.

Calem as merdas dessas bocas e batam logo na porta!” Hoodie.

E estragar o climinha do chefe com a Lizzy?” Toby.

Não chame a Lady Elizabeth de Lizzy!” Masky.

Se Slender tivesse sobrancelha, esta estaria pulsando agora.

— Entrem de uma vez, Proxies. — Ordenou de voz fria o sem-rosto.

A porta foi aberta devagar, revelando os três Proxies de ombros encolhidos. Juntamente com eles Nicole se camuflava com sua máscara.

— Senhor... — Começou Masky.

— O que vocês querem? — Perguntou Slender.

— É que... Nic... Quero dizer Nicole quer ser uma Proxy sua. — Ticci Toby explicou.

— Como? — O sem-rosto pareceu não entender.

— É um prazer poder trabalhar com o senhor. — Curvou-se a ruiva.

— Não é “com”, é para mim. Tem certeza do que você está falando? Não tem como desistir depois. — Advertiu Slenderman, embora não demonstrasse importância.

— Tenho.

O de terno pensou por uns instantes. Não era fácil assim. Vem. Quero. Vou ser.

— Proxies — Dirigiu-se Slender — Vocês serão encarregados de ensinar para essa garota como se deve trabalhar por aqui. Se ela não for boa o suficiente, estará dispensada do trabalho. Simples assim.

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— Tome, aqui. Seus favoritos. — Randal estendeu um sanduiche de pasta de amendoim para Nina, logo se sentando ao seu lado no sofá, debaixo das cobertas.

— Obrigada. — Sorria ela. — Você tirou as cascas?

— Eu sei que você não gosta delas. — Sorriu de volta, fazendo-a rir.

— Wow, você me conhece bem. Mas onde está seu irmão?

— Jack? Ah, acho que já foi dormir ou algo assim. Acho que se me visse agora me arrastaria pelos cabelos.

— Ele realmente não é muito fã meu né? — Riu mais um pouco. — O que vamos assistir?

— Um filme qualquer aí.

— A gente tá parecendo um casal.

Randal corou levemente.

— É...

Nesse mesmo momento, Bryan Schmitz estava prestes a entrar na sala quando percebeu os outros dois ali. Observou como Nina se divertia e sentiu uma pontada estranha no peito. Era irritante, devia admitir. Tanto a sensação quanto a cena.

Não deu muita atenção às perguntas do tipo “que merda de sentimento é esse?” que passavam pela sua cabeça e apenas encarou Randal e Nina.

Levou um susto quando foi cutucado no ombro por alguém, se arrepiou todo juntamente com um pulo.

— Sabia que espiar os outros é falta de educação? — Jana, a irmã de mechas azuis se encontrava atrás de Bryan com a sempre cara de desdém.

— Você me assustou. — Disse o moreno.

Ela deu de ombros.

— O que exatamente você está observando?

— Nada.

— Nada o escambau. Tá de olho na minha irmã?

Fora a vez de Bryan enrubescer com a indelicadeza de Jana.

— N- não sei do que você está falando. — Ele desviou o olhar.

A de mecha azul encarou o garoto por um tempo antes de arrastá-lo pelo pulso na direção contrária.

— Ei! O que você pensa que está fazendo?

— Vamos dar uma volta por aí.

— O quê? Me solta!

— Tenho que te ensinar boas maneiras.

— Você não é minha mãe!

— Mas não gosto de você.

E o que diabos isso tem a ver com o que eu disse?!

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Jane procurara pelo namorado até finalmente encontrá-lo do lado de fora.

— Olha só, te procurei por todo lugar! — Falara ela enquanto sentava-se ao lado de Dick, logo percebendo a expressão cansada dele. — Algum problema?

— Não é nada.

Depois de alguns minutos em silêncio, Jane voltou a abrir a boca:

— Sabe, é meio chato ter de falar isso, mas... Você anda distante de mim ultimamente.

Dick encarou o rosto dela, arregalando levemente os olhos como se aquilo fosse uma surpresa. Porém logo voltou ao normal, sorrindo de um modo doce.

— Qual é Jan? Né nada disso. Só preciso pensar por um tempo.

— Pensar sobre o quê Dicky? — Jane não parecia muito feliz.

— Bem, sobre tudo.

— É que não dá para continuar assim.

O sorriso dele desapareceu.

— Do que você está falando?

— Não dá para manter um relacionamento desse jeito. Eu sempre soube que era impossível se manter um entre dois assassinos, mas quando eu aceitei, você não era o que você é hoje, entende?

— Fale de uma vez onde você está querendo chegar. — Dick mostrou-se impaciente — Nós mal começamos a namorar direito Jane!

— Mas essa é a questão! Logo no começo já estou vendo que não está dando certo. Você não é o Dick pelo qual me apaixonei, droga!

O filho de Slender fitou-a perplexo.

— Jane! — Exclamou frustrado, se pondo de pé e gesticulando tentando fazê-la entender — Eu só estou pedindo um tempo para pensar! Não quero dizer que quero terminar contigo.

— Mas eu estou!

O garoto congelou, os olhos abertos ao máximo, fitando o rosto zangado da assassina.

Mas antes que pudesse pensar em algo para dizer, Jane se levantou e voltou em passadas pesadas para dentro do casarão, deixando-o sozinho novamente.