Gloria's POV

Idiota. Idiota. Idiota vezes mil.
Argh, como eu pude me deixar levar pela conversa fiada daquele cara? Ele claramente deu em cima de mim e depois veio mencionar a namorada dele?! "Cindy". Que tipo de nome é esse? Na verdade, eu sinto pena dessa garota. Não é culpa dela ter um namorado tão idiota.
Quer saber? Eu nem me importo. O que eu estava pensando? Foda-se para ele. Ciúmes? Eu não tenho ciúmes. Não sou ciumenta. Como eu poderia ter ciúmes de um cara que acabei de conhecer? Amor a primeira vista? Por favor. Isso é só uma história tosca utilizada por casais que não querem admitir que se conheceram se pegando no banheiro de um bar.
Quer saber, por que eu estou me importando tanto? Eu não ligo. O que tem demais? Eu não me importo.
Argh, como um cara como ele consegue mexer tanto com a minha cabeça? Por que ele simplesmente não me deixa em paz? Se ele tem essa "Cindy", por que foi sentar comigo? Ele tá achando que eu sou algum tipo de vadia, é? Ah, ele vai pagar caro.
Ok, Gloria, acalme-se. Se você não se importa, por que está tão chateada?
Fui discutindo comigo mesma enquanto caminhava com passos duros em direção à minha casa. Meu sapato estava grudento no chão. Fui olhar e percebi que havia pisado em um excremento de um animal. Pronto, era tudo que me faltava. Olhei com raiva para frente e vi um garotinho de cerca de onze anos caminhando com um cachorro. Ah, eu não ia deixar barato.
Ei, você! - gritei, e o garoto olhou confuso para trás. - Sim, você mesmo! Por acaso é muito difícil limpar a merda desse cachorro do chão? Tenha um pouco de educação, seu moleque remelento!
Ok, não estou certa da minha idade neste momento. Por um lado, sou uma criança brigando com outra criança. Por outro, estou usando gírias de mil novecentos e bolinha.
Eu? - ele perguntou, indignado. - Desculpa aí dona, mas não foi meu cachorro que fez isso aí não! - ele me chamou de dona?! Agora esse pirralho vai ver.
Deixa de ser um menino mimado e admita! Ou vai ir correndo pro papai, vai?
Por um instante, pareceu que eu havia provado o meu ponto. Mas o garoto retirou um celular do bolso e começou a ligar para alguém. Ele me deu um olhar de vingança, que se desfez quando o número atendeu.
Pai? Tem uma louca psicótica gritando aqui comigo!
Merda. E não é que o desgraçado ligou para o pai mesmo?
Dei um olhar de desprezo para o garoto e comecei a andar na direção contrária. Dobrando uma esquina comecei basicamente a correr. Não estava nem um pouco a fim de me explicar para a polícia porque eu estava xingando um menino de onze anos.
Mas que merda. Literalmente. Meu sapato estava arruinado. Não, não sou uma dessas patricinhas preocupadas com os sapatos. É que aquele all star preto era o único que me servia. Que ódio.
Bom, pelo menos esse incidente aliviou a minha cabeça. Chega de pensar nesse Christian sei lá das quantas.
Continuei meu caminho para casa, simplesmente desejando poder tirar esse tênis e tomar uma ducha fria, depois de ter andado na rua nesse calor infernal. Mas é claro que eu não poderia descansar assim tão fácil.
Só bastou eu abrir a porta para uma Sra. Fogg esbravecida aperecer.
O que você pensa que está fazendo?! - ela exclamou, olhando para as minhas pegadas que ficaram marcadas no carpete bege.
Respirando, e você? - respondi. Parece que hoje eu estava pedindo por um barraco.
A senhorita está estragando o meu corredor! Não tem capacidade de limpar os pés depois de pisar na lama? - ele me deu mais um daqueles olhares psicóticos enquanto indicava com a mão a sujeira no chão.
Más notícias para você, Sra. Fogg: isso é muito pior do que lama.
Dei um sorrisinho e virei as costas enquanto uma Sra. Fogg irritada me gritava maldições e alguns palavrões que eu nem ao menos sabia o significado.
Fui para o andar do meu apartamento. Apesar dos bufos da Sra. Fogg, ouvi vozes na residência que ficava ao lado da minha.
E então Cindy, você gostou? Não é dos melhores, mas dá para o gasto.
Não acreditei no que ouvi. Aquela voz. Christian.
É ótimo Christian. E é um bom negócio.
E pelo visto, aquela era a Cindy.
Ótimo. Se eu tive todo esse custo para poder tirar ele da minha cabeça, por mais momentaneamente que fosse, como que eu ia conseguir agora?
Ainda estava girando a chave na porta quando Christian saiu do apartamento ao lado do meu. Dei um pequeno olhar, que desviei rapidamente, perplexa. Ele não estava sozinho. Havia uma garota ao lado dele, que parecia ter uns treze anos. Ela estava sentada em uma cadeira de rodas.
Gloria? - Christian se dirigiu a mim.
Merda.
Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.