“Tem certeza de que vai ficar bem?” Violet fez um carinho singelo nos nós dos dedos da irmã, sentada numa cadeira da ala hospitalar. Madame Pomfrey os atendera tarde da noite, e Leonard a fizera prometer que não iria contar o real motivo do estado de choque de Samantha. Com surpreendente disposição e coragem, ela aceitara, e agora Sam se tratava para “intoxicação por produto de limpeza” com poções curativas. Estava bem melhor, mas não tanto que não deixasse Viola preocupada.

“Vou sim, só preciso conseguir dormir,” ela retribuiu o gesto com um aperto na mão da irmã, “Leo vai entrar no lago?”

“Vai. Tinha guelricho na sala de poções, Richard entrou e pegou um pouco.”

“Ele pode fazer o cabeça-de-bolha...” Sam franziu a testa, mexendo os dedos como que para sentir se ainda tinha as membranas. Violet sorriu.

“E Leonard iria perder a chance de experimentar os efeitos de guelricho, Sam? Não estamos falando da mesma pessoa.”

“Vamos saindo, ela precisa dormir.” Madame Pomfrey trouxe um copo de líquido prateado que Violet reconheceu como uma forte poção do sono. Assentiu, e beijou a testa da irmã.

“Leonard vai resolver isso, ok? Não precisa se preocupar.”

Suspirando, deixou Samantha para trás, e encontrou com Richard do lado de fora da enfermaria. O garoto estava em guarda, e assim que viu Violet, a chamou para perto.

“Leo já está no lago com Neville e Mary, está esperando você.”

“Sabe que sou meio inútil agora, não?” Violet o seguia rapidamente pelos corredores, olhando para trás a todo instante mesmo sabendo que seria impossível darem de cara com um comensal. Richard levava o mapa consigo, e o consultava a cada segundo. “Estou sem varinha ainda.”

“É, mas Leonard disse que não confia em mais ninguém pra lidar com poções e efeitos delas. Você e Neville são os consultores de ervas e afins dele, sabe disso.”

“Muito bonitinho da parte dele,” Violet sorriu para si mesma, prometendo que recompensaria o garoto assim que a situação fosse oportuna, “encontraram a margem certa?”

“Aham. Ali, olha.”

Chegaram aos jardins externos, e de longe era possível ver a silhueta de Leonard agachado perto do lago, cercado por Neville. O grifinório fazia gestos em direção as plantas da margem, e quando viu os amigos se aproximando, avisou Leonard com um tapinha nas costas.

“Conseguiu ver alguma coisa aí dentro?” perguntou, e Leonard se levantou com a erva em mãos.

“Mais ou menos. Fiquem preparados pra quando eu subir. Vou tentar trazer Baron inteiro.”

“Tem certeza que precisa?” Mary torceu as mãos, e se Violet a conhecia, estava detestando aquele trabalho de esperar o cadáver subir. Leonard assentiu.

“Não podemos deixa-lo aí. Ok?”

Violet sentiu o rosto esquentar quando Leonard, concentrado na missão, tirou a camisa e a dobrou nas mãos cuidadosamente, tirou os sapatos e as meias e a calça, revelando um shots de malha de mergulhar por baixo. Mary desviou o olhar, tímida, e Violet quis fazer o mesmo até lembrar que era namorada dele. Podia olhar o quanto quisesse.

Com um gesto rápido, Leonard engoliu o guelricho. “Neville, tome notas. Por enquanto não sinto nada. A tendência é a planta agir em quantos minutos?”

“Cinco minutos são o máximo de tempo. Mas cuidado, quando o efeito começar a chegar nas guelras, não vai conseguir respirar direito o ar.”

“Ok. Estou sentindo os pés e as mãos ficarem pegajosos.”

Violet abraçou as roupas dele enquanto Leonard falava com Neville, e sentiu o perfume gostoso dele acariciar seus sentidos. Podia contar com Leo para transformar uma das missões mais arriscadas da Ordem numa pesquisa sobre plantas aquáticas usando a si mesmo como cobaia. Era um alívio ver que ele ainda conseguia se interessar por isso. Era como ter o antigo Leonard de volta.

“Minha pele está ficando úmida de forma autônoma. Um... Dois... Três... Ok, não consigo respirar.” Leonard tossiu e se jogou no lago, vindo a tona um minuto depois. “Não sinto a água fria. Isso é fantástico, Neville, fascinante!”

“Veja como fica na profundidade.” O garoto mais velho sugeriu, traindo o fato de estar interessado na pesquisa também. Sua resposta foi um polegar com membrana para cima da água.

Leonard ficou quase cinco minutos submerso. Violet andava de um lado para o outro, preocupada, e quase gritou quando viu a cabeça de Don Baron sair para a superfície. A seu lado, Mary ficou subitamente nervosa.

“Ai, não, aiaiai, não, eca! É a caixa dos anéis dos meus pais, eca!”

“Tem certeza, Mare?” Richard se aproximou do cadáver com nojo.

“Claro que tenho, essa caixa ficava nas coisas da minha mãe. Nossa, ela vai ficar muito triste de saber disso! Ai, que nojo, que nojo!”

Leonard surgiu logo em seguida, afastando os cabelos molhados dos olhos com um gesto de cabeça. “Fiz anotações mentais muito úteis, Neville, vamos discutir isso mais tarde.”

“Consegue respirar?” Violet se aproximou dele na água, e virou o pescoço dele com gentileza para ver seu pescoço. As guelras ainda estavam lá.

“Mais ou menos. Cadê Don Baron?”

Richard e Neville haviam puxado o homem para a margem, e Leonard saiu do lago cambaleante para ver o corpo. Violet observou – o respirar várias vezes e tomar ar. Com uma careta, viu Leo pressionar o maxilar de Don Baron para abrir sua boca, e Richard tirou a caixa dali com a ponta dos dedos.

“Cara, isso é muito nojento, cara!” Rich jogou o objeto nas mãos de Mary, e a garota só não jogou –a no chão porque Neville a impediu.

“Abra e veja o que tem dentro.”

“O que vai fazer com ele?” Violet se aproximou de Leonard. Sua respiração parecia um chiado, mas já estava melhor.

“Não tem muito mais o que fazer, né.” Leo se levantou e apontou a varinha para o corpo. Imediatamente, as roupas elegantes se derreteram, assim como a pele e os órgãos. Diante deles, Don Baron se transformou numa pilha de ossos. “Pronto, pelo menos terá um enterro digno, em terra.

“São mesmo os anéis dos meus pais...” Mary choramingou, mostrando o conteúdo da caixa. As alianças estavam entrelaçadas, mas era reconhecível de onde tinham vindo. A menina fez menção de pegá-los, mas Leonard a parou pelo pulso.

“Não! Podem ter alguma maldição. Porque eles esconderiam esses anéis aqui embaixo?”

Violet se aproximou das joias, e tinha certeza de que estava ouvindo um sussurro. Era como se tivesse alguma coisa viva dentro dos anéis. “Leo.” chamou, sem acreditar no que estava vendo, “acho que encontramos uma horcrux.”