Leonard. Leonard Black.

O brilho do ouro era mais intenso do que o comum naqueles anéis. Era um tom envolvente, um metal precioso e fascinante que parecia pedir para ser usado, implorando pelos dedos dele. No centro de cada uma, uma pedrinha brilhante refletia o brilho da cobiça em seus olhos, e Leonard respirou fundo de prazer enquanto ponderava como faria para conseguir colocar aquelas joias em seus dedos.

Leonard.

Aproximou o ouro dos olhos, desfocando o dormitório escuro ao redor para só ressaltar a beleza daquelas alianças. O reflexo de algo chamou sua atenção. Riu bobamente, e aproximou as joias mais ainda.

Um par de olhos azuis cheios de terror.

Assustado, Leonard deixou os anéis caírem no colchão, e inalou uma golfada de ar para tentar restaurar o próprio equilíbrio. Por um segundo, esquecera que estava com um pedaço da alma de Voldemort em mãos. Bufou.

Mais cedo, Violet contara sobre as horcruxes, e Leonard decidira ficar com os anéis para não deixar Mary mais nervosa do que já estava. Richard lhe emprestara uma corrente de ouro que tinha, e Leo estava refletindo sobre colocar os anéis como um colar. Não queria coloca-los nos dedos, mas era uma oportunidade para a vida toda. Nunca mais veria um objeto tão fascinante, e tão profundamente embebido em magia.

Tateou no criado-mudo e seus dedos esbarraram na corrente. Os anéis formavam um símbolo infinito juntos, e Leo enlaçou os dois com o cordão dourado antes de fechá-lo. Tinha medo do que aconteceria se passasse a corda pelo pescoço.

Um pesquisador não tem medo de pesquisar, repetiu para si mesmo. Colocou o colar.

Ora, se não é Leonard Black, o intelectual.

A voz era como um suspiro em seus ouvidos, e quando Leo fechou os olhos, viu crianças correndo por um jardim amplo. Ao fundo, uma casa bonita, com um jardim decorado e cheiroso. A casa dos Potter.

Olhe para ela, parece uma flor. Tão delicada, tão bonita.

Pena que não seja para você...

Leo sabia de quem os anéis estavam falando. Violet, de volta com dez anos, brincava com duas bonecas num canto, alheia à confusão que estava a seu redor. Seus cabelos tinham sido trançados como uma tiara sobre as mechas ruivas, e Lily enfeitara tudo com flores brancas e amarelas. Os doces olhos castanhos estavam escondidos atrás dos óculos de armação redonda, e sua boca rosada abria e fechava timidamente, falando pelas bonecas.

Imaginou que, na visão, também estava com dez anos. Era a primeira vez que percebia como Violet era bonita. Mas os olhos dela, quando saiam de sua brincadeira, não olhavam para ela. Olhavam para Jack.

Ele é muito mais legal do que você.

Quem ficaria com o garoto atrás dos livros, quando pode ter o gêmeo dele, muito mais descolado?

Jack passou correndo por Leonard, abrindo um sorriso maroto para Richard e Samantha, que corriam atrás dele. Os dois já começavam a mostrar o quão diferentes eram. Jack fez um movimento brusco com a cabeça, e tirou os cabelos compridos do rosto. Violet ficou vermelha.

A imagem se dissolveu, e Leonard se viu na sala de casa. Marlene estava sentada na poltrona, com Jack no colo. Ele choramingava em seu colo, com um joelho vermelho.

“Mãe, vem ver o que eu fiz.” Leo chamou, segurando um papel com sua primeira redação.

“Oh, querido, não posso. Seu irmão precisa de mim.”

“Mas eu também!”

“Eu sei, mas você sabe se cuidar melhor sozinho, não? Já vou...”

A imagem se dissolveu. Estava num jantar chique. O terno coçava, e estava um pouco desajustado. Leo não contava que cresceria um pouco antes da festa, mas crescera. Passou por entre os convidados cansado e entediado, sentindo falta de alguém para brincar ou ler um livro. Então, de cima das escadas, viu Sirius segurando Adhara, de doze anos, enquanto ajustavam um balde com uma corda sobre a cabeça de Lucius Malfoy, que conversava logo embaixo. Os dois riam, cúmplices, e quando a peça estava bem montada, foi colocada no chão pelo pai. Sirius colocou o dedo nos lábios. Era o segredo deles.

Sempre o excluído.

Muito independente para sua mãe. Muito chato para o seu pai.

Menos legal. Menos divertido.

Leonard balançou a cabeça. Aquele objeto estava entrando em suas memórias, buscando seus medos, e usando-os. E o pior: não conseguia reunir forças para arrancar o colar do pescoço.

Estava preso num pesadelo.

Viu Hogwarts como um campo de batalha. Pedaços do teto caiam como uma chuva sobre os alunos que corriam assustados. Sangue empoçava aqui e ali. Violet apareceu, sorrindo.

“Vamos até o fim, como você disse, Leo!”

“Viola, eu não quis que isso acontecesse!”

“Não queria?” Ela pareceu confusa, e abaixou a varinha, “Mas você disse!”

Tudo ficou verde, e o corpo dela se estendeu a seus pés. Leonard ajoelhou, e quando chegou mais perto viu que se transformara em Adhara, pálida e com o olhar fixo e sem brilho.

“Você a matou!” Sirius apareceu, e Marlene carregava o corpo de Jack, também. Queria se explicar. Não sabia que Adie e Jack iam morrer! Sirius o empurrou para longe, e segurou a cabeça da filha.

“Você não foi com ela, onde estava quando isso aconteceu? ONDE VOCÊ ESTAVA, LEONARD!”

“Pai, por favor... Eu não quis-“

Será que seria isso que aconteceria quando contasse a eles o que houvera a Jack e Adhara?

“Leo, porque não ajudou Jack?” Marlene chorava, “porque não disse a ele que não podia ir nessa missão? Agora ele está morto... Oh, Jacques... Meu Jackie...”

Leonard correu, e tudo ficou escuro de repente. Estava numa cela. Sirius e Marlene se contorciam no chão. Umbridge tinha as varinhas apontadas para os dois.

“Matei Adhara, matei Jack, e vou matar Leonard, também!”

“Não, por favor... Por favor...”

“Crucio!”

Leo gritou, tão alto que seus olhos abriram e o suor escorreu por sua testa, gélido. Tinha caído no sono com os anéis! Trêmulo, tirou o colar com pressa e jogou nos cobertores, abraçando a si mesmo com os gritos dos pais ainda ecoando em sua mente. Colocou o colar na cômoda, e voltou a se deitar, sem sono.

Fora a pior experiência de sua vida.