1989

The Final Countdown


BAEKHYUN

Já se faziam dias desde que Chanyeol passou a me ignorar de vez. Ele não atendia as minhas ligações, e também não parecia ter o mínimo de interesse em fingir que me conhecia mais. Acho que a nossa amizade havia acabado de vez. Tudo, por conta de um babaca que nem sequer assumia qualquer que fosse o relacionamento que eles estavam mantendo naquele momento.

Jurei pra mim mesmo que não iria ligar. Tentei com muito esforço desapegar da ideia de que seríamos amigos para sempre, e que eu ainda poderia ir até à casa dele para convencê-lo a jogar no fliperama comigo. Pensei que poderíamos voltar a ser as pessoas que sempre fomos: companheiros, confidentes, e acima de tudo, irmãos. Mas no fim, eu apenas tinha sido um completo imbecil de acreditar que alguém um dia iria ligar tanto assim para minha existência.

Quando cheguei no estacionamento da escola naquela manhã, não procurei por ninguém. Estacionei a bicicleta na mesma vaga de sempre, entre as barras firmes de metal em meio a tantas outras bicicletas iguais às minhas, e segui para o portão da frente sem olhar para trás. Aquela era a nova atitude que eu queria demonstrar: em que eu me mostrava melhor do que qualquer um ali que ousasse cruzar o meu caminho.

Depois do que aconteceu com Chanyeol, eu havia prometido a mim mesmo para que não confiasse por aí em qualquer pessoa que cruzasse comigo nessa cidade. Meu objetivo de deixar todo esse inferno pra trás apenas aumentou quando me percebi completamente sozinho novamente. Parecia que a história da minha vida era ser sozinho, pois desde que me entendo por gente nunca tive tantos amigos assim para poder contar.

Na verdade, a pior parte dessa história toda é que eu não tinha nenhum amigo além dele. Eu sabia disso e, ainda assim, via-me surpreso com essa nova vida que eu deveria começar a aceitar. A vida solitária na qual eu passaria ser cada vez mais parecido como uma rocha no meio de um tormentoso oceano. Aquela qual supostamente resiste desastres naturais, tão alta e sólida que você começa a duvidar se ela não vai acabar se quebrando no meio. Essa, era a mesma dúvida que também rondava na minha cabeça.

Eu sentia que poderia me quebrar a qualquer momento.

Todos os dias quando eu acordava com a luz do Sol se apoderando do meu quarto, sentia em mim que aquele seria só mais um dia pacato naquela cidade pacata. Eu não queria levar a vida da maneira que meus pais estavam levando, e muito menos tinha a intenção de me formar na faculdade e virar um adulto qualquer e desinteressante como o meu pai era. Eu queria me destacar, ser o melhor do país. Queria descobrir coisas, escalar todos os sonhos até o topo do céu. Por isso, logo quando o ano começou, prometi apenas uma coisa que iria levar para o resto dessa jornada: que eu me esforçaria para sair dessa cidade antes do fim de 1989.

Caminhando para perto do portão da escola, eu ainda guardava esses mesmos pensamentos. Por isso, acabei ignorando todos os garotos idiotas que ficavam provocando a paz das pessoas ali na entrada. Ignorei as garotas que tentaram me parar no caminho, e ignorei também que eu estava mais do que atrasado para a primeira aula do dia.

Não havia nenhum walkman no meu bolso, o que era uma verdadeira merda. Seria mais um dia que eu passaria o tempo todo pensando sobre coisas que talvez não deveria pensar. Era verdade que aquele lugar não tinha tanto significado para mim assim, mas deixar a escola de vez também não era algo que um desgraçado feito eu poderia fazer. O plano era simples: aguentar toda a ladainha do ano eletivo, e quando fosse a hora, finalmente dar o pé dali. Mesmo que aquilo significasse não ver os meus irmãos nunca mais.

De repente aquela ideia fez os meus pés pararem bem no meio do corredor.

Não ver mais os meus irmãozinhos. Será que seria ao menos possível? Eu odiava o meu pai, e a maneira como ele trava os gêmeos. Odiava que a minha mãe havia virado uma casca da pessoa que ela era por causa dele, e odiava que a nossa família já não existia mais. Mas eu poderia deixar os meus irmãos para trás, sabendo que os dois não tinham ninguém além de mim?

A resposta era uma que eu já sabia e temia em admitir.

No corredor principal da escola, acabei sentindo alguns caras esbarrar em mim pelo caminho, me olhando feio. Tentei não me incomodar com os babacas e caminhei diretamente ao lugar em que eu sabia que deveria ir: meu armário.

Ele ficava bem no fim do corredor, ligeiramente perto do latão de lixo. Talvez fosse uma metáfora clara de onde os perdedores como eu pertencia. Ou talvez tinha sido um baita azar que aquele armário era o único que havia sobrado na escola inteira desde quando me mudei pra cidade, há 3 anos atrás. Pelo menos, o vizinho não era tão ruim, já que nunca realmente me encontrei com ele entre a troca de aulas. O que era melhor — eu odiava todo aquele drama da conversa afiada.

Quando finalmente cheguei lá, no entanto, acabei me deparando com uma grande surpresa. Pude ver o mesmo garoto gordinho de ontem mexendo no armário ao lado, com fones enormes entre os cabelos pretos, e balançando a cabeça ao som de qualquer que fosse a banda que estava tocando ali.

Sorri quando abri o meu armário, o que fez com que ele se assustasse. Olhou pra mim com os grandes olhos castanhos arregalados, por de trás das lentes que tomavam boa parte da sua cara. O esparadrapo ainda estava ali, o que me fez sorrir instantaneamente. Era quase impossível não ficar encarando, porque ele era bem fofo. E também porque ele parecia tímido agora, parecendo perceber que era eu ali do seu lado.

Aproximei do seu fone, ainda achando graça de como ele estava chocado em me ver. Toquei os seus cabelos macios enquanto eu movi a alça que os cobria, até o pescoço, de modo que o headphone ficou pendurado um pouco acima do peito dele. Kyungsoo vestia um suéter azul escuro cheio de flocos de neve branco, com o desenho inteiramente fixado no peito. Ele parecia bem quente com aquele pano todo.

Ele ainda me olhava sem dizer uma palavra, então fiz questão de quebrar o primeiro gelo inicial:

— Oi. — Eu disse, tentando me apresentar casualmente para ele.

A verdade é que eu não tinha tanta certeza se ele lembrava de mim, porque se eu fosse sincero, também não me lembrava tanto assim do nome dele. Apenas que era alguma coisa com K.

O garoto, porém, continuou olhando para mim como se não soubesse o porquê de estarmos conversando. Talvez eu devesse me explicar melhor. Tentei parecer um pouco mais casual, e cruzei os braços por cima da blusa preta que estava vestindo.

— Desculpe, mas eu não me lembro do seu nome. — eu disse.

Ele piscou, acordando pelo que parecia a primeira vez desde que saiu da cama. Acabei sorrindo involuntariamente para a sua face surpresa. Os lábios entreabertos lhe davam um ar infantil que me deixava sentindo um pouco esquisito.

— É-é Kyungsoo. D-do Kyungsoo.

Ah, agora tudo estava mais claro. Do Kyungsoo. Era mesmo esse o nome dele. Com a letra K. Eu faria questão de não me esquecer nunca mais.

— Kyungie... É verdade, me lembrei agora. — Eu disse, tentando fazer ele rir, mas não havia dado muito certo.

Pois ele continuou me encarando com aqueles… olhos. Deus, era perturbador olhar para ele. Seu olhar era intenso demais, e as minhas mãos já estavam ficando um pouco suadas de apenas ficar ali lhe encarando de volta.

Pigarreei, desviando os olhos daquela intensidade. Pelo corredor eu pude ver que vários dos alunos já estavam entrando nas salas, mas até agora eu não havia visto nenhum sinal de Chanyeol. O que era bom, na realidade. Seria meio chato ter que encontrar com ele aqui também, quando tudo o que eu queria era esquecer de uma vez que já tínhamos sido amigos.

— O seu sapato está desamarrado. — A voz grossa me despertou.

Eu pisquei, voltando a encarar o garoto do meu lado. Ele estava apontando para o chão, e foi logo ali que o meu olhar acabou ficando. Logo percebi que ele tinha razão: meu all star preto estava desamarrado.

— Ah… Obrigado. — eu disse, abaixando-me para amarrar.

O que eu não estava esperando é que ele também fosse se abaixar comigo no mesmo momento. Olhei para o lado, percebendo ele ainda estava ali no mesmo nível que o meu. Fiquei surpreso novamente.

Kyungsoo esticou os dedos para o chão, tirando um papel debaixo do próprio pé. Ah, mas como fui um grande idiota. Então era pra isso que ele havia se abaixado, é claro.

Amarrei o meu sapato rapidamente, enquanto me levantei e pude ver de relance que o flyer que ele segurava. Era algo cheio de notas musicais e nomes esquisitos, deveria ser sobre o baile de formatura. Ele estava lendo atentamente o folheto, segurando firme as hastes dos óculos redondos como se desse jeito conseguisse ler melhor. Sorri para o seu jeitinho peculiar.

A minha curiosidade já estava grande o suficiente para que eu não ligasse de me intrometer ali. Por isso, não me importei de perguntar aquilo que estava morrendo pra saber.

— É sobre o baile? — perguntei baixinho, percebendo a respiração dele se alterar.

Estávamos muito próximos, percebi isso agora. Dei dois passos para trás, mas continuei esperando por uma resposta. Ele olhou para mim, e concordou com um aceno.

Ah, o baile de formatura. Uma porcaria sem tamanho. Eu duvidava que seria mais divertido conviver com aqueles imbecis bêbados do que ter que conviver com eles diariamente falando sobre suas vidinhas fúteis. Bufei, sentindo a vontade de sumir dali pelo que parecia a milésima vez naquela semana. Apenas imaginar 3 horas de um evento como aquelas pessoas me dava desgosto.

— Eu não sei porque eles insistem em fazer essa tortura com a gente. — Comentei amargamente.

— O quê? — Kyungsoo perguntou, alheio às minhas reclamações.

— Um baile? Quer dizer… quem em sã consciência quer passar mais um minuto nesse inferno? Quando der o último dia de aula, eu espero estar bem longe daqui e não assistindo garotas se digladiarem por uma coroa.

Kyungsoo me encarou, ficando um pouco acanhado. Ele dobrou o flyer com cuidado, guardando-o bem guardado no bolso da mochila amarela que ele carregava.

— Eu… gostaria de ir. — disse, murmurando baixo.

Isso me deixou bem surpreso. Porque ele gostaria de ir? Achei que ele fosse melhor do que todas aquelas pessoas fúteis. Mas pelo jeito, eu estava enganado sobre aquilo.

— Você… quer ir? Por quê? — Eu realmente queria saber quais eram os motivos dele.

Quer dizer, ele me parecia ser uma pessoa legal. Pessoas legais não tinham interesse nas pessoas da escola, porque todas elas eram mesquinhas demais. Podres demais. Era exatamente o motivo de eu não tenho ter nenhum amigo ali. Então porquê Do Kyungsoo, alguém que aparentava ser como eu, teria interesse em estar no meio dessas pessoas?

Ele olhou pra mim, enquanto abriu os armários. Tirou de lá um livro de química, um de física quântica e outro que parecia ser de filosofia. Fiquei encarando o seu armário enquanto isso, percebendo que era repleto de fotos de alienígenas, figurinhas de nave espaciais e mais uma porção de cartões daqueles filmes americanos. Torci os lábios para aquele monte de bobajada. Parece que ele era mesmo diferente, totalmente diferente do que eu pensei. Ele era um nerd completo.

Kyungsoo pareceu perceber que eu estava encarando, e logo fechou a porta com tudo. Trancou o armário com um cadeado, e acenou um adeus apressado para mim como se estivesse fugindo. Fiquei perplexo, porque ele estava realmente andando para a aula sem me responder.

— Hey! Do Kyungsoo! — gritei, mas ele não pareceu se importar.

Na verdade, ele andou mais rápido. Estava fugindo de mim mesmo. Acabei rindo da cena sem acreditar. Ele estava fugindo de mim.

— Esse garoto… — reclamei, dessa vez abrindo o meu próprio armário.

Redescobri as coisas que havia deixado lá desde o mês passado, pois havia ali metade de um sanduíche mofado, pedaços de partituras que não levei pra frente, mas o mais importante, tinha duas fitas ali das quais eu nem ao menos lembrava mais.

Peguei as duas e enfiei no bolso da minha mochila vermelha, enquanto também joguei no lixo aquele experimento científico não identificado. Cara, como mofo poderia cheirar tão mal? Tampei o nariz no mesmo momento, me sentindo enjoado.

Assim que fui fechar o armário novamente, foi que eu o vi, entrando pela escola abraçado com os atletas do time. Park Chanyeol, o próprio. Estava caminhando entre eles como se pertencesse ali tão perfeitamente como qualquer um dos idiotas prepotentes que andavam do seu lado.

Aquilo foi o suficiente para me encher de raiva.

Fechei o armário com força enquanto me dirigi para a primeira aula do dia. Esperava que não tivesse que encarar ele pelo resto da semana, pois eu já não estava com tanta paciência mais para as suas gracinhas. Muito menos para ter que ver ele se tornar uma pessoa irreconhecível bem na frente dos meus olhos.

Quando entrei na aula pela primeira vez em quase dois meses, foi com o pensamento de que alguma coisa dentro de mim já havia mudado e não iria retornar mais. Se eu fosse como a pedra solitária, iria ter que lidar com aquele mar revolto sozinho, pois eu me recusava a tornar-me alguém que perdera a própria essência.

Custe o que custar.



KYUNGSOO

Eu não fazia ideia porque tinha corrido de Baekhyun daquele jeito. Na verdade, entrei em pânico quando ele se aproximou tão perto de mim. A mera presença dele me deixava um pouco abalado. Isso, era algo que eu não conseguia mais ignorar.

Eu entrava em pânico com muita frequência, pra falar a verdade. Talvez fosse um reflexo da minha ansiedade, ou talvez fosse apenas o efeito que Byun Baekhyun tinha sobre mim. De qualquer modo, me sentia extremamente patético por ter vindo me esconder no banheiro na hora do almoço ao invés de comer como uma pessoa normal no pátio do refeitório. Mas até então, eu também já não era tão normal assim como as outras pessoas.

Eu não sabia o que Byun Baekhyun queria comigo. Tudo bem, eu havia lhe ajudado aquele outro dia quando o amigo dele lhe deu um fora na frente da escola inteira. Mas ainda assim, não era comum que pessoas como ele fossem ser amigas de pessoas como eu. Sempre vivi acostumado com as gozações — e bem cansado delas também, se fosse ser sincero. Então eu já não tinha tanta disposição para fingir interesses com pessoas que também não tinham tanto interesse assim por mim. Só queria poder levar a vida normalmente, por pelo menos uma vez.

Trancado dentro da cabine imunda do banheiro masculino, eu observava o meu almoço na bandeja como se ele pudesse pular dali e me esganar. Já tinha perdido todo o meu apetite e a minha mente estava considerando pular mais uma refeição do meu dia. Eu não tinha tomado o café, e também não estava a fim de almoçar. Mais tarde, talvez pudesse descontar tudo na janta e finalmente comer sem sentir o peso do julgamento daquelas pessoas. Era sufocante.

No começo, quando eu ainda era criança, as pessoas não riam de mim por ser gordo. Sempre fui o bonitinho, o menino de ouro da família. Agora, já com quase 19 anos, me sinto como uma aberração dos filmes de ficção científica. Era ruim ter que lidar com o fardo de ser diferente, mas pior ainda, era ruim lidar com o fato de que eu não conseguia sair daquele mesmo lugar.

Ao mesmo tempo que me via forçado a emagrecer e me tornar um garoto normal, eu também não tinha a disposição para isso mais. Não queria que o mundo me visse apenas pela minha aparência, mesmo que quando isso de fato acontecia, eu me via perdido sem saber o que fazer. Assim como Byun Baekhyun estava me confundindo nesse exato momento.

Eu não queria sentir aquilo tudo por ele. Sabia que no final eu sairia machucado com essa relação esquisita que estávamos formando. Mas era mais forte do que eu poderia controlar, eu realmente tinha interesse nele. E ter interesse nele não fazia com que essa possível amizade tornasse tudo mais fácil para mim.

Suspirei enquanto joguei o resto do que tinha na minha bandeja no lixo. Levantei do vaso sanitário de tampa fechada, e abri a cabine como quem abria a cela de uma prisão. Dei os meus primeiros passos para fora, e percebi que o banheiro estava vazio. Aquilo me acalmou como nunca, pois eu odiaria ter que lidar com algum valentão agora, quando eu estava prestes a chorar.

Olhei no espelho como o bom masoquista que era. A imagem me dizia o que eu mais temia: eu estava um terror. A bochecha rosada e os olhos escuros pareciam piorar o caos em que o meu cabelo se encontrava. Meu nervosismo ia um pouco além dos meus conflitos interiores, eu também estava pensando muito sobre a prova de cálculo que teria que fazer no próximo período.

Queria poder falar com Kyuhyun naquele momento. O pensamento foi involuntário, assim como as lágrimas que caíam dos meus olhos. Deixei a bandeja em cima da pia de granito cinza, e abri a torneira. Lavei o rosto como se estivesse lavando os meus próprios pensamentos.

Decidi dar um fim nessa minha imagem indefesa esse ano. Eu não iria mais ser a pessoa que deixaria ser pisada pelos outros, não iria mais pensar sobre coisas fora do meu alcance. Eu iria me defender, focar no vestibular e conseguir a nota para um curso de medicina, como papai sempre sonhou. Como Kyuhyun esperava. Eu precisava dessa vaga, ou iria acabar vivendo com papai de baixo do Rio Han. E isso não era uma possibilidade.

Afastei os pensamentos sombrios. Não era hora para isso. Era hora para dar o meu melhor, e tentar estudar alguma coisa que servisse para o SAT. Iria gabaritar aquela prova, custe o que custar. Eu provavelmente não teria mais um ano de paz depois de 1989, então o último ano deveria ser com lembranças boas.

Desliguei a torneira, e sequei o rosto no suéter quente que estava vestindo. Segurei a bandeja novamente, e suspirei fundo. Olhei para o meu reflexo uma última vez antes de finalmente sair do banheiro. Prometi deixar para trás tudo que me incomodava pois eu iria precisar estudar agora. Passaria a tarde inteira na biblioteca e esperava que isso fosse resolver pelo menos em parte o meu plano final.

Voltei para o refeitório apenas a tempo de colocar novamente a bandeja de volta ao seu devido lugar. Obviamente, haviam muitos dos atletas do time fazendo a mesma algazarra que sempre faziam, gritando feito malucos cada vez que uma garota passava ali em frente. Sorri lembrando do que Byun Baekhyun havia me dito antes. Aquelas pessoas poderiam ser tolas para o julgamento dele, mas para mim eram apenas adolescentes com os quais eu gostaria de sair.

Observar as pessoas já havia se tornado um hábito meu. Talvez fosse porque eu tinha o costume de almoçar com o meu irmão todos os dias, e depois que ele desapareceu, tudo pareceu a entrar em uma outra sintonia. Percebi que não conhecia tanto assim a escola como eu suspeitava.

Eu já estava me sentindo um pouco esquisito ali, e tornei me virar para finalmente ir embora, quando vi ele ali.

Byun Baekhyun.

Ele estava parado, usando agora uma jaqueta jeans e calças agarradas combinando. Senti um raio frio passando pelo meu peito até a nuca. Ele estava bonito como sempre, mas de alguma maneira, observá-lo de longe ainda o fazia parecer mais belo ainda. Quase intocável. Se eu fosse outra pessoa e ele não fosse um garoto normal, eu iria até ele. Brincaria sobre tudo o que já havíamos visto ali. Mas eu duvidaria que iriam nos deixar em paz. Estar do meu lado era como ser um para raio de confusões.

Com isso em mente, me afastei. Deixei que ele continuasse no mundo dele e eu no meu, bem distante de tudo. Fui até o meu armário e recolhi meu walkman juntamente com os headphones que eu estava hoje de manhã. Senti minha bochecha esquentar com a lembrança de Baekhyun os movendo pelos meus cabelos. Aquilo foi algo totalmente inesperado, mas que do mesmo jeito ainda tinha sido gravado no meu cérebro.

Tentei ignorar toda aquela loucura novamente, ao mesmo tempo que senti uma mão cutucar o meu ombro. Fechei os olhos. Não precisaria olhar para saber quem era, só uma pessoa falava comigo naquela escola. Virei de frente para dar de cara com o melhor sorriso dele, olhando diretamente pra mim.

— Hey, Kyungsoo. — ele disse, sorrindo largo.

Fiquei nervoso pois era a segunda interação que tínhamos no dia. Eu não sabia o que ele tanto queria insistir comigo, mas também não queria deixar de lhe responder. Porque eu sabia que no fundo, estava gostando de toda aquela atenção.

— O-oi. — Eu respondi, ciente que poderia estar parecendo um idiota.

Mas Baekhyun não parecia ligar pra isso. Ele sorriu novamente, encostando no seu próprio armário.

— Eu estava pensando… você por algum acaso… dá aulas particulares?

Tutoria? Aquilo me pegou de surpresa. Senti meus óculos deslizarem para cima em espanto.

— Por quê? — perguntei curioso.

Baekhyun deu de ombros.

— Preciso de um tutor. Não quero bombar esse ano, e isso vai ser um pouco impossível sem a ajuda de um tutor.

Continuei encarando ele como se Baekhyun estivesse doido. Claro que eu não achava que ele era tão negligente como falavam, mas era praticamente a primeira vez que eu o via na escola desde o começo do ano. E ele veio diretamente pedir a minha ajuda.

Algo não estava certo.

— Hm...eu não faço Tutoria Baekhyun. Sinto muito.

Ele suspirou, concordando com um aceno.

— Eu suspeitei. É que… você é o único que poderia de fato me ajudar. Entende?

Não. Foi o que eu quis dizer.

— Sim. — foi o que eu disse.

Isso pareceu animar ele, mesmo que eu havia dito aquilo sem pensar.

— Então você vai repensar? — ele me perguntou.

Encarei ele sem saber o que dizer. Ele tocou o cabelo comprido rajado de mechas vermelhas com os dedos, em um ato nervoso. Mas quem estava nervoso ali era eu. Será que esse tempo todo foi esse o interesse dele comigo? De repente me senti um pouco triste.

Era triste saber que ele não tinha interesse em mim, que ele nunca iria ter. Eu seria resumido ao nerd o qual ele poderia usar para passar no SAT. Nada além disso.

Suspirei, me dando por vencido. Se eu fosse estudar para os SAT com seriedade, podia muito bem fazer isso em companhia. Não seria ruim ter alguém para estudar junto, principalmente, alguém como ele.

Dirigi meu olhar para o dele, cheio de expectativas. Ele queria muito aquilo, eu pude ver.

— Eu vou estudar para o SAT. Se quiser me acompanhar, me encontre na biblioteca do centro às três da tarde. E aí começaremos.

Baekhyun sorriu largo, parecendo bem feliz pelo que eu tinha acabado de falar.

— É sério mesmo? Eu posso estudar com você ?

Dei de ombros, como se não fosse tão importante assim. Mesmo que aquilo valesse muito para mim. Muito mesmo. Eu praticamente estava confiando que ele entrasse em uma parte da minha vida. Aquilo me fazia questionar se estava mesmo fazendo a escolha certa.

— Às três então! — ele sorriu, abrindo o armário pela primeira vez desde quando chegou — Poxa, muito obrigado Kyungie. Mesmo!

Dei de ombros novamente, e simplesmente saí. Pois era melhor que ele não visse o pequeno sorriso que se formou nos meus lábios quando ele gritou no fundo:

— Hey, Kyungsoo! Me deixando sozinho de novo!

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.