Lado esquerdo - Yuu e Meay

*Yuu*

Yuu sentou em um canto, cansada de tanto procurar sua parceira. Deu várias voltas pelo pátio, viu todas as pessoas ali quinhentas vezes, mas não a encontrou. Depois de quase quinze minutos rodando sem parar, desistiu de ir atrás dela e ficou parada, esperando que aparecesse.
Infelizmente, não apareceu. Isso estava deixando a morena nervosa. Já não gostava nada da ideia de estar ali, não tinha absolutamente nenhum poder para se defender, e para completar, não encontrava a única pessoa em quem poderia confiar. Não via como aquilo poderia piorar.

Ela se repreendeu mentalmente. "Toda vez que alguém diz que não tem como piorar, piora". Tentando afastar a ideia da cabeça, ela procurou algo para se distrair. Imediatamente, lembrou do bracelete. Desbloqueou a tela e começou a mexer, procurando todas as funções.

Reparou em um número correndo no canto direito superior da tela. "Próximo desafio em 8min47seg". "Pelo menos não vou ficar sozinha por muito tempo" pensou, aliviada. Mas ao mesmo tempo ficou nervosa. Não queria acreditar de jeito nenhum que só teria mais oito minutos de segurança. Tinha certeza que era a mais indefesa dali. Não sabia lutar, não tinha poderes, não tinha nada. Nem mesmo uma estratégia! Pelo que entendeu, sua parceira seria responsável por fazer planos. Se ela não estava ali, o que Yuu faria?

Sacudindo a cabeça, mirou o bracelete com os olhos, decidida a parar de pensar em coisas ruins. Elas iriam acontecer, mas por hora Yuu preferia fingir que não. Clicou aleatoriamente na tela, abrindo uma página qualquer, mas pulou de sustou quando um holograma surgiu bem na frente de seu rosto. Mostrava um meio círculo com vários pontos cinzas dentro – provavelmente um mapa do pátio onde estava. Cada ponto tinha um nome do lado. Yuu procurou sua parceira ali também, mas depois de ver todas as pessoas duas vezes, percebeu que não lembrava o nome dela.

Ela acertou o próprio rosto em um facepalm. "Não acredito na minha própria estupidez".

Emburrada, fechou o holograma e voltou a fuçar nas páginas, procurando algo sobre a garota. Não demorou para encontrar uma página intitulada “informações sobre a dupla”.

Para sua sorte, lá tinha o nome dela. Meay Shirogane. Suspirando, Yuu estava a ponto de voltar para o mapa, mas a curiosidade não deixou. “Talvez eu deva ler o que essa página diz...

Ela pensou duas vezes. Estaria gastando o pouco tempo que sobrava. Mas mesmo assim... Ela tinha que saber alguma coisa sobre a parceira, e talvez não descobrisse falando pessoalmente.

Cedendo à curiosidade, ela começou a ler a ficha da outra – e que ficha. Era enorme, tinha coisas desde a idade e o lugar de origem até o tipo de sangue e as habilidades. Só não tinha nenhuma foto dela. Ao terminar, Yuu ficou curiosa também sobre a própria ficha. Talvez ela dissesse o que a fazia estar ali, ou qual poder ela deveria ter.

E estava certa. Já no final, nas últimas linhas da página, havia um parágrafo falando sobre seu suposto poder. Os olhos de Yuu dobraram de tamanho ao ler aquela parte.

Yuu: Strength... – sussurrou,sem reação.

Ela conhecia Strength, conhecia há muito tempo. Mas não podia imaginar que estava ali por causa dela.

*Meay*

"Então essa garota se transforma em uma lutadora 100 vezes mais forte que ela quando está em perigo?"

Meay, ao terminar de ler a ficha da tal Yuu Kotari, sua nova parceira, pensou se não deveria ter ido falar com ela antes. Ela passou uma boa parte do tempo se "escondendo" da garota - preferia passar aquela meia hora observando os outros para tentar descobrir o queelesfaziam de especial. Yuu não era a prioridade, Meay imaginou que o bracelete teria informações sobre os poderes dela, e acertou. Já os poderes dos outros ela não teria como saber depois, então queria descobrir antes para ter pelo menos uma pequena vantagem no primeiro desafio.

Mas ao ler aquela ficha, ficou curiosa. Talvez devesse ir atrás dela... Tentar conhecê-la pelo menos um pouco, já que o tempo estava quase acabando. Ela considerou a ideia, mas desistiu ao ver que só faltavam quatro minutos para o primeiro desafio.

Suspirou, encostando a cabeça na parede. Começou a cantarolar uma música aleatória enquanto lembrava das habilidades que descobriu nos últimos minutos.

Havia um garoto e uma garota que estavam juntos, falando cada um com sua dupla. Meay entendeu que eram primos e que seus poderes vinham de seus pais, mas eles não disseramquemeram. Descobriu que a garota se chamava Thalia e que lutava com uma lança. Já o outro, Meay não ouviu seu nome, só ouviu que ele também lutava e que tinha habilidades relacionadas com gente morta e escuridão. Estavam meio afastados, mas ela tinha certeza que era isso.

Um pouco mais perto dela, havia duas garotas, uma morena sentada de costas para a parede e uma de cabelo rosa escuro que falava sem parar. Delas, conseguiu ouvir que a morena tinha cachorros que a defendiam e lutavam por ela. E mais perto ainda, havia outro grupo de quatro pessoas. Dois deles se conheciam. Ao ver um garoto de estranhos olhos brancos encarar fixamente a parede por um bom tempo, Meay deduziu que ele deveria ver através dela ou algo do tipo.

Concluindo: descobriu uma lutadora, um necromante, uma dona de cachorros e um raio-x. Não era muita coisa, mas pelo menos ela saberia o que fazer caso Yuu tivesse que enfrentar um dos quatro. É, no final das contas, ela achou uma boa escolha ter ficado ali. Estava no canto mais distante dos outros no pátio, e o grupo do garoto de olhos brancos estava bem em sua frente, impedindo que Yuu a encontrasse. Foi uma boa ideia.

Esperando pelo fim do tempo livre antes do primeiro desafio, ela imaginoucomoseria a tal Yuu transformada na garota lutadora, Strength. Não tinha nenhuma imagem da outra na ficha que Meay leu no bracelete, então tudo que podia fazer era imaginar. "Será que ela usa espadas ou armas?" pensou. "É do tipo guerreira antiga, lutadora de artes marciais ou protagonista de filmes de ação?"

Ficou tão distraída imaginando coisas que nem percebeu quando o tempo acabou e as luzes brancas se apagaram.

Lado esquerdo - Inukashi e Firtina

Firtina sentou no chão com as pernas cruzadas, de frente para a garota que seria sua parceira dali pra frente. Inukashi era seu nome. Cabelos castanhos desgrenhados, pele morena, cara fechada. Era com ela que a garota deveria se acostumar.

Firtina teve que convencê-la a conversar. A resistência da morena só a deixou mais curiosa, então ela insistiu até conseguiu. E agora estava ali, de frente para ela, pensando no que falar.

Firtina: Então... Inukashi - começou - me diga, quantos anos tem?

Inukashi bufou, sentada de costas para a parede.

Inukashi: Por que quer saber isso?

Firtina: Apresentações básicas - ela ergueu uma sobrancelha – “qual é o seu nome? Quantos anos você tem? De onde você vem?” Você sabe, educação... Não posso pular direto pra parte em que você me diz por que está aqui.

Inukashi: Se ao menos eu soubesse por que estou aqui - murmurou, mal humorada.

Firtina: Não foi isso que eu quis dizer - ela deu um quase sorriso de lado - estou falando daquelas “habilidades especiais” que as regras mencionaram. Está aqui por causa delas.

Inukashi: Isso? - a outra fez que sim com a cabeça - sinto informar, mas também não sei de nada.

Firtina: Ah, vamos - ela abanou a mão no ar - não precisa esconder. Vamos morrer de qualquer jeito.

Inukashi: Eu não vou morrer nesse lugar - protestou, a cara ainda mais fechada que antes.

Firtina: Talvez não - ela desviou os olhos - mas só se trabalharmos juntas. E isso quer dizer que eu preciso saber o que você faz.

Inukashi: Estou dizendo, não faço nada de especial - ela cruzou os braços e apoiou nos joelhos.

Firtina: Ah, claro, me desculpe - ela balançou a cabeça como se lembrasse de alguma coisa - já ia esquecendo das apresentações básicas. É por isso que você não quer dizer, não é? Mil desculpas, eu deveria ter feito isso. Vamos lá... Meu nome é Firtina Grace, e o seu?

Inukashi: Isso é ridículo...

Firtina: Tenho 13 anos - continuou - moro com minhas duas irmãs mais velhas na França. Uma tem 17 e a outra tem—

Inukashi: Tá, já chega! - disse, quase gritando - meu deus, como você é irritante!

Firtina: Poxa, Inu... - ela fez um biquinho, fingindo estar magoada - eu só queria ser sua amiga...

Inukashi: Inu? - repetiu entre dentes, os olhos cheios de raiva - o que é isso?

Firtina: Um apelido, ué - respondeu - ou você prefere Kashi? Acho que eu gosto mais de Inu... É mais simples, não é? Mais fácil de—

Inukashi: Garota, cala a boca! - reclamou, tampando os ouvidos com as mãos.

Firtina: Só estou te perguntando sobre você - ela sorriu, zombando da outra - mas parece que não vou ter resposta... Então talvez eu possa responder por você, não é? Que tal assim: Meu nome é Inukashi Sousa da Silva Pinto, eu tenho 15 an—

Inukashi: Ahh, tá bom! - cedeu, irritada - se isso te fizer calar a boca, eu falo.

Firtina: Que bom - ela deu um sorriso amarelo.

Inukashi: O que quer saber?

Firtina: Nome completo?

Inukashi: Inukashi.

Firtina: E o sobrenome?

Inukashi: Eu não tenho sobrenome - disse, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.

Firtina: Certo, certo. Idade?

Inukashi: Desnecessário.

Firtina: Família?

Inukashi: Eu não tenho família.

Firtina: Amigos?

Inukashi: Eu não tenho amigos.

Firtina: Caramba, tá difícil - reclamou - você não diz nada!

Inukashi: É porque eu não tenho nada pra dizer - respondeu - e não é minha culpa se você só quer saber detalhes idiotas.

A outra suspirou, pensando no que fazer. Aquela garota a deixava cada vez mais curiosa.

Firtina: Ok, então vamos direto ao ponto - disse, encarando os olhos escuros de Inukashi - qual é a sua habilidade?

Inukashi: Vai continuar insistindo nisso? Eu já te disse que eu não tenho habilidade nenhuma!

Firtina: Tem que ter! - ela disse, indignada - as regras eram claras: de cada dupla, uma pessoa tem uma habilidade especial.

Inukashi: E por que devo acreditar que não é você? - jogou contra a outra.

Firtina: Porque... - começou, mas não encontrou uma resposta. Pela primeira vez, a morena sorriu - ok, você me pegou.

Inukashi: Vai finalmente calar a boca?

Firtina: Não, é claro que não - ela deu um sorriso de orelha a orelha. Inukashi puxou o cabelo com raiva.

Inukashi: O que eu fiz pra merecer isso?? - lamentou.

Firtina: Tudo bem, vamos fazer um trato - propôs a outra - eu te deixo em paz...

Inukashi: SIM!

Firtina: Se...

Inukashi fechou a cara e fez bico. “Tinha que ter um “se”. Não vou me livrar dessa peste tão rápido”.

Firtina: Se... Você me responder uma pergunta.

Inukashi: Ah, lá vem ela - revirou os olhos, prevendo mais uma pergunta desnecessária.

Firtina: É uma pergunta simples - garantiu, o rosto sério - no quarto onde eu estava, tinha um quadro com fotos... E com um papel falando sobre você. Lá dizia “itens adicionais: cachorros”. O que isso quer dizer?

A morena se surpreendeu. Não imaginava que Firtina perguntaria sobre isso. Com um pouco menos de mau humor, respondeu:

Inukashi: Provavelmente eles trouxeram meus cachorros pra cá - disse - quando arrumo briga, eles atacam por mim. Só isso.

Firtina: Cachorros... aqui? - perguntou, estranhando - e quantos você tem?

Inukashi: Não era só uma pergunta?

Firtina: Por favor - a outra suspirou.

Inukashi: Algumas dúzias - respondeu simplesmente, sem definir nenhum número.

Firtina: Dúzias? - seus olhos dobraram de tamanho e seu queixo caiu - mas como podem trazer todos pra cá?

Inukashi: Não vou responder mais nada - bufou - já foram duas perguntas. Minha paciência está acabando.

Firtina: Certo - ela se levantou, tirando a poeira da roupa - nos vemos depois... Inukashi.

Ela deu um sorriso antes de se afastar e sentar do outro lado do pátio, mexendo no bracelete que usava. Inukashi agradeceu por estar finalmente sozinha, como gostava.

Ela suspeitava daquela garota. Era estranha... Não sabia se era o cabelo rosa, o nome esquisito, a falação infinita ou a expressão debochada em seu rosto, mas Inukashi não foi com a cara dela. Definitivamente não confiaria na garota. Estava decidida a não seguir nenhuma ordem da estranha Firtina durante os desafios.

Lado direito – Kanade e Reeika

Reeika: Então quer dizer que você é um anjo?!

Os olhos verdes de Reeika brilharam. Ela sempre imaginou como seria conhecer um anjo... Mas não esperava que isso realmente acontecesse. Agora estava de frente para um, que seria sua dupla a partir daquele dia. Ela não acreditava.

Kanade: Mais ou menos – respondeu. Mesmo inexpressiva, continuava sendo fofa aos olhos de Reeika.

Reeika: Como assim “mais ou menos”? – perguntou – você é um anjo caído ou...?

Kanade: Não é exatamente isso – ela pareceu pensar em uma resposta por algum tempo – é complicado... Pode-se dizer que sim, eu sou.

Reeika: Puxa – ela sorriu – esse lugar me pareceu até um pouco menos assustador agora que eu sei que minha dupla é um anjo – seu sorriso sumiu de repente, dando lugar a uma expressão de confusão – espera, e por que você não tem asas?

Kanade: Minhas asas... Só aparecem quando eu quero.

Reeika: Uuh... Pode fazê-las aparecerem agora? Ah, não – ela sacudiu a cabeça – esqueci dessas pessoas... Elas vão acabar vendo, e vão usar isso contra nós nos desafios. Tudo bem, esquece o que eu disse.

Kanade: Também acho melhor não – ela concordou com a cabeça.

Reeika: Certo. E... Você tem algum outro poder de anjo?

Kanade: Sim...

Reeika: Sério? Tipo o que? – ela não continha a empolgação. Já tinha até esquecido que poderia morrer dali a alguns minutos.

Kanade: Tipo... Lâminas que saem dos meus braços. E escudos invisíveis.

Reeika: Uh, lâminas? Não são meio... Agressivas demais pra anjos?

Kanade: Não muito. Eu só uso quando é realmente necessário.

Reeika: Isso é incrível – disse, olhando para o outro lado. Em alguns segundos, ela se perdeu em pensamentos, e pela sua expressão, Kanade diria que ela estava imaginando as tais asas ou coisas relacionadas a anjos. Se pudesse, mostraria, mas isso deixaria claro para os outros o que ela fazia de especial.

Mas mesmo assim... Reeika era uma garota legal.

Kanade: Talvez eu possa te mostrar... – disse ao ter uma ideia, acordado a outra do semi-transe.

Reeika: Sério? – ela sorriu.

Kanade: Sim – continuou – pela mente.

Reeika: Pela mente? – perguntou, confusa, mas logo lembrou da conexão pelo bracelete – ah, sim! Tudo bem!

As duas rapidamente clicaram em “conexão” no bracelete, e pouco menos de um minuto depois, a breve dor de cabeça deu lugar às vozes.
“Eu não podia imaginar que é possível conectar duas pessoas pela mente” pensou a morena, animada. “Gostei disso! Está me ouvindo, Kadade?"

"Estou" disse a voz dela em resposta.

"Então, como você vai me mostrar as asas assim?”

“Não sei direito” Kanade respondeu, pensando em alguma coisa. “Vou tentar imaginar... Possivelmente você vai ver”.

“Ok” ela concordou e fechou os olhos.

Com alguma dificuldade, Reeika conseguiu “ver” pequenos trechos, que falhavam como uma televisão piscando. Depois de se concentrar neles por algum tempo, as imagens apareciam com mais detalhes. Primeiro viu Kanade com uma lâmina parecida com uma espada saindo das costas da mão. A mesma lâmina se transformou em outra mais fina, depois em outra dividida em três partes, e por último em algo que lembrava uma enorme flor de lótus metálica.

A próxima imagem foi a de dezenas de riscos vermelhos indo na direção de Kanade, mas sendo impedidos por algo... Uma barreira invisível, bem na frente dela. Quando os riscos pararam, a mesma lâmina de antes surgiu em seu braço, mas antes que pudesse atacar quem quer que estivesse tentando acertá-la, a imagem mudou outra vez.

Agora Kanade tinha asas, enormes asas brancas, que provavelmente tinham mais que o dobro de seu tamanho. Em sua mão direita, havia uma lâmina diferente – era dividida em duas partes e ficava presa em uma base roxa.

As visões pararam aos poucos. Quando não havia mais nada em sua mente, Reeika abriu os olhos.

Reeika: Não tenho palavras pra dizer que eu achei disso – ela sorriu de orelha a orelha – mal posso esperar pra te ver em ação no primeiro desafio.

Kanade não entendia como Reeika estava tão alegre. Há poucos minutos receberam a notícia de que sua morte estava praticamente marcada, mas mesmo assim ela estava radiante. E ainda por cima estava ansiosa para os desafios!

Kanade: Você está bem? – perguntou.

Reeika: Ahn? – ela estranhou a pergunta tão repentina – estou... Por que?

Kanade: Você está tão alegre – continuou – pensei que talvez... Talvez estivesse tentando esconder o medo desse lugar parecendo feliz.

Reeika: Medo? Mas eu não estou com medo – ela sorriu. Kanade capotou por dentro.

Kanade: Por que não?

Reeika: Sabe... Eu fiquei surpresa no começo, e até meio assustada com aquela voz – confessou a morena – mas como não posso fazer nada pra sair daqui, prefiro não gastar meu tempo reclamando ou com medo.

Kanade se surpreendeu com o pensamento da outra. Não deixava de ser verdade, era melhor gastar o pouco tempo que tinham falando sobre coisas úteis. Mas aquele rosto infantil e os olhos brilhantes a impediram de imaginar que Reeika pensaria coisas do tipo.

Reeika: E você é um anjo! – exclamou a outra – quem aqui pode ganhar de um anjo?

Kanade: Talvez eles possam – respondeu – não sou tão forte quanto você pensa.

Reeika: Tá brincando? Aquelas evoluções da lâmina no seu braço... Foi a coisa mais incrível que eu já vi!

Kanade: Por que acha que são evoluções? – perguntou, sem entender como Reeika chegou a essa conclusão – elas são tão diferentes.

Reeika: Ué, não são? – ela ergueu as sobrancelhas.

Kanade: São, mas... - começou, mas não terminou a frase. Ia dizer quem todo mundo achava que eram armas completamente diferentes, mas lembrou que Reeika estava ali por ter a "mente avançada" - deixa pra lá.

Reeika: Quando você me mostrou, uma se transformava na outra – lembrou – como se evoluíssem mesmo, não como se fossem diferentes. Aliás, como chama aquela enorme que parece uma flor de lótus?

Kanade: Hand Sonic version 4 – respondeu.

Reeika: Foi a minha favorita – disse – é como bater nos outros sem deixar de ser fofa.

Kanade: Essa foi a minha intenção quando eu criei – ela quase se permitiu sorrir.

Reeika: Espero que você possa usar essa arma no primeiro desafio.

Kanade olhou para baixo, imaginando como seria. Esperava não ter que machucar ninguém, muito menos matar.

Reeika percebeu o olhar da outra.

Reeika: O que foi? – perguntou, parecendo realmente preocupada – está com medo? Não precisa se preocupar, garanto que não é hoje que vamos morrer.

Kanade: Não, não estou com medo disso – uma ideia surgiu em sua cabeça, mas ela não disse nada.

Reeika: Então o que é?

Kanade: Eu pensei que... – ela começou, mas ao ver a expressão da outra, não se permitiu continuar – nada, deixa pra lá.

Reeika: Vamos, pode confiar em mim.

Kanade: Eu... Pensei no que aconteceria se eu morresse – disse, tendo certeza que se arrependeria.

Reeika: Como assim? – ela franziu as sobrancelhas.

Kanade: É que... – ela suspirou – Reeika, eu já estou morta.

Ela encarou os olhos verdes da outra, esperando por uma resposta. Exatamente como previu, ela se arrependeu de dizer aquilo.

Lado esquerdo - Thalia e Akane

A primeira coisa que Thalia pensou quando R parou de falar foi "eu preciso arrumar um jeito de sair daqui". Detestava receber ordens, ainda mais de alguém que ela nem conhecia. Lutar por sua vida tudo bem, ela já estava acostumada, mas ter que fazer tudo que uma voz aparentemente sem dono dizia? De jeito nenhum.

Mas mesmo observando cada detalhe daquele pátio, não encontrou nenhuma saída. A única opção era tentar por aquelas portas, mas ela sabia que do outro lado não havia nada além de quartos, então nem considerou a ideia. Pensou em ir atrás de sua parceira - pelo que lembrava, Akemi, Akame ou alguma coisa do tipo - mas isso seria fazer exatamente o que R queria, ou seja, deixá-la no controle. E isso Thalia não podia fazer de jeito nenhum.

Tentando bolar um plano, ela encostou na parede mais próxima, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, viu uma cabeleira preta que ela com certeza já tinha visto antes. Demorou para lembrar quem era, mas quando lembrou, seus olhos dobraram de tamanho.

Ela foi até o garoto, que estava virado de costas falando com um loiro - provavelmente seu parceiro - e tocou seu ombro.

Thalia: Nico...? - ela chamou o filho de Hades, que também arregalou os olhos quando a viu.

Nico: Thalia?? - ele ficou pálido - o que está fazendo aqui?

Thalia: Eu que te pergunto - ela ergueu as sobrancelhas, cheia de dúvida. "Então quer dizer que podem ter mais semideuses aqui além de nós?".

Nico: Se eu soubesse - respondeu, nervoso.

Thalia: Droga, achei que só eu estava nesse fim de mundo - murmurou, mais para si mesma do que para Nico. Ao levantar os olhos, viu o estranho loiro que ainda estava parado perto deles - e quem é esse? Um filho de Ares?

Nico: É minha dupla - ele fez uma cara de "cala a boca" quando Thalia falou sobre Ares - Shano Kuuya.

Kano: Kano Shuuya - corrigiu, apertando a mão de Thalia. Por um momento, ela teve vontade de rir, lembrando do Sr. D trocando nomes. Mas a confusão em sua cabeça não deixou. Um de seus olhos era vermelho, e as únicas pessoas que ela lembrava com olhos vermelhos eram alguns filhos de Ares. Mas o outro era tão azul quanto os olhos do próprio Zeus. Ela não entendeu quem ele era, semideus, mortal ou talvez até um monstro. Em caso de dúvida, preferiu não falar mais nada.

Nico: Ei, Thalia - disse, quando ela soltou a mão do loiro - você não viu...

Thalia: Algum outro meio-sangue? Não - ela sacudiu a cabeça, completando o pensamento de Nico - pelo menos não até agora.

Nico: Que bom - ele suspirou aliviado - pensei que talvez Percy pudesse estar aqui.

Thalia: Percy? - ela franziu as sobrancelhas - por que exatamente ele?

Nico: Você sabe... Os três grandes.

Thalia: Ah, claro. Faz sentido - disse, concordando com a cabeça - não, eu não o vi.

Kano: Do que vocês estão falando? - perguntou, curioso - o que é isso de três grandes?

Thalia: N-nada - disse, antes que Nico pudesse fazer qualquer coisa - são só... Nossos pais - ela mordeu a própria língua para não continuar falando.

O loiro a encarou, procurando alguma prova de que estava mentindo. Thalia se sentiu idiota por dentro, mas aqueles olhos realmente a intimidavam.

Nico: Acho que ele deveria saber - disse, depois de pensar um pouco, quebrando o silêncio - ele não parece ser um monstro nem nada.

Thalia: De jeito nenhum - disse, autoritária - você sabe que a maioria não parece.

Kano: Monstro? Eu? - ele deu uma risada - sério, gente, o que tá acontecendo?

Nico: Tá, é verdade - disse, ignorando Kano - mas você leu as regras, não leu? Temos que confiar na nossa dupla se quisermos sair daqui.

Thalia: Sério, Nico? - ela ficou indignada - você vai fazer o que essa tal de R quer? Tipo um fantoche?

Nico: O que eu posso fazer? - respondeu - não tem como sair daqui, Thalia!

Thalia: Você é filho do rei dos mortos! - exclamou - vai dizer que uma voz é mais forte que você?

Kano: Cara, vocês estão me assustando - ele chamou a atenção dos dois.

Eles se encararam por um tempo. Os olhos de Thalia pulavam de Nico para Kano, e depois para Nico outra vez. "Brigando com o Nico pra não falar pro loiro sobre os deuses, e aí eu mesma falo" ela se repreendeu mentalmente. "Eu e minha boca grande".

Thalia: Tudo bem - ela foi a primeira a dizer alguma coisa - eu vou atrás da minha dupla, volto em um minuto. Fale o que você quiser, Nico - ela olhou para ele, com uma expressão que dizia claramente "não fale nada".

Nico: C-certo.

Sem mais nenhuma palavra, ela saiu em qualquer direção.

Dando uma olhada em volta, pôde encontrar facilmente sua parceira pelo 9-B em sua roupa. Estava um pouco afastada, provavelmente também procurando Thalia. Era uma garota de cabelos negros compridos, com uma franja até um pouco acima dos olhos. Parecia ser amigável... "Ainda bem" Thalia suspirou aliviada. Detestava admitir, mas garotas como Clarisse, do acampamento, a faziam tremer de medo.

Ela se aproximou e a tocou no ombro como fez com Nico.

XxX: Ahn... Você é... - os olhos da garota alternavam entre Thalia e o número em sua roupa - Thalia Greene?

Thalia: Thalia Grace - corrigiu - sim, sou eu.

XxX: Ah, eu estava te procurando - ela deu um sorrisinho - sou Akane Fujisaki... Sua dupla, pelo que tudo indica.

Thalia: Minha dupla... - ela analisou a garota de cima a baixo - Akane, se importa de conhecer um amigo meu?

Akane: Não, claro que não - ela disse - mas... Tem amigos seusaqui?

Thalia: Sim... Acho que nos daremos melhor nesse lugar se estivermos juntos em um grupo.

Akane: Ah, claro - ela concordou.

Thalia: No caso, seremos duas duplas trabalhando juntas - continuou - nós duas, meu amigo e o parceiro dele - ela apontou para Nico e Kano do outro lado.

Akane: Que bomouvir isso - ela suspirou -é bom saber que vou ter com quem contar... Eu não conheço ninguém aqui.

Thalia: Sim... Temos uma vantagem, pelo menos. Enfim, vamos? - Akane fez que sim. As duas garotas foram juntas até onde Nico e Kano ainda conversavam. Mas antes de chegarem perto o suficiente para ouvirem a conversa, Thalia lembrou de um detalhe... E resolveu alertar a outra - ei... Akane?

Akane: Sim? - respondeu.

Thalia: Provavelmente você vai me ouvir dizer algumas coisas estranhas... Eu e o Nico, o moreno ali - disse, apontado para o semideus com a cabeça - não, provavelmente não,com certezavocê vai ouvir.

Akane: Estranhas? - ela ergueu as sobrancelhas - tipo o que?

Thalia: Tipo... Coisas sobre "os três grandes", ou sobre monstros... Entende?

Akane: Sim, eu acho...

Thalia: Então... Por favor, não se assuste. Eu sei que isso soa estranho, mas é melhor que você não saiba, pelo menos por enquanto - disse, mas ao ver a expressão da outra, acrescentou: - provavelmente depois você vai saber, mas...

Akane: Certo... Entendi - respondeu, o rosto cheio de confusão e de suspeita.

Thalia: Ok - ela deu um meio sorriso antes de continuar andando.

Mas ao olhar para os dois outra vez, a semideusa viu Kano com os olhos gigantes e o queixo caído, encarando Nico, que parecia assustado.

Thalia: O que é isso? - disse, olhando para o loiro.

Kano: V-vocês são mesmo...? - ele não terminou a frase. Thalia encarou Nico, pedindo uma explicação.

Nico: Ele estava insistindo - disse antes de qualquer coisa.

Thalia: Insistindo...? - começou, mas logo entendeu o que estava acontecendo.

Kano: Vocês são... Semideuses? É sério isso?

Akane arfou atrás de Thalia. Seus olhos, que estavam em Kano, passaram para Nico cheios de raiva, dizendo "o que eu falei sobre não contar nada??". O filho de Hades encolheu os ombros, como quem diz "não foi minha culpa".

Akane: Semi... Deuses? - ela disse, olhando para Nico e Thalia - é verdade isso? Era sobre isso que você estava falando?

Thalia: Sim e sim - disse, ainda encarando Nico - me desculpe, não queria que vocês descobrissem tão rápido. Por favor, não fiquem assustados, não é nada tão ruim quanto parece.

Kano: Assustados? - ele deu uma risada - por que eu ficaria assustado? Isso é incrível!

Akane: Eu sempre gostei de mitologia - ela concordou com o loiro - e considerando esse lugar e esse jogo bizarro, nem posso duvidar de vocês.

Kano: Mas afinal, quais são os seus poderes? Quem são seus pais?

Akane: Centauros existem? - ela continuou - e harpias? A Medusa...?

Thalia e Nico trocaram um olhar enquanto os outros dois continuavam fazendo perguntas, empolgados. Os dois puderam ver claramente nos olhos um do outro o que pensavam: "isso não vai ser nada fácil".

Lado esquerdo - Shikamaru e Kakushi

Neji: Shikamaru?

Neji tirou Shikamaru de seus pensamentos. Ele assoprava sem parar uma mecha de cabelo que insistia em cair na frente de seus olhos - o que não era comum, já que estava sempre com o cabelo amarrado.

Shikamaru: Ahn? Sim? - disse, sem tirar os olhos do cabelo.

Neji: Não acha que você deveria ir atrás da sua dupla? Eu sei ele devia vir aqui, mas se até agora não veio...

Shikamaru: Sério, cara? - ele encarou o Hyuuga pelo canto do olho, mas ao ver a expressão severa, não disse mais nada.

Neji: Você passou os últimos vinte minutos sem fazer absolutamente nada - ele repreendeu Shikamaru, que apenas o encarava entediado - e só temos meia hora! - continuou - Isso é uma perda de tempo. Achei que você era inteligente.

Shikamaru: E eu achei que você sabia que eu sou preguiçoso - completou.

Neji: Shikamaru, isso é sério!

Shikamaru: Tá bom, tá bom - se rendeu, erguendo as mãos - eu vou.

Neji: Traga seu parceiro pra cá - sugeriu.

Shikamaru: Vou trazer - respondeu, e com um suspiro, saiu na direção em que viu o garoto pela última vez.

O lugar era grande, e embora várias pessoas estivessem ali, estavam espalhadas, fazendo com que fosse fácil ver todo mundo. Pelo menos foi isso que Shikamaru pensou... Até olhar em volta várias vezes e não encontrar seu parceiro.

Ele já o tinha visto antes, viu o 10-B em sua roupa, então lembrava sua aparência. Mas mesmo assim não o encontrava. Em um canto, uma morena sentada no chão estava com uma garota de cabelo rosa. Em outro, havia um grupo de quatro pessoas, que conversavam sem parar. Haviam também duas garotas "perdidas" e um garoto encostado na parede. Nem sinal do 10-B.

Shikamaru suspirou. Pensou em como aquele lugar todo era um problema e em como queria estar em casa. E, é claro, imaginou o que uma pessoa tem na cabeça para inventar um jogo assim. "Com certeza é idiota" pensou. "Mais idiota ainda por incluir alguém como eu nisso".

Suspirando outra vez, ele se preparou para dar uma volta, imaginando que talvez o tal 10-B estivesse "escondido" atrás daquele grupo. Mas parou ao ouvir uma voz desconhecida vindo de trás.

XxX: Shikamaru? - disse. Ele virou e deu de cara com um garoto moreno de olhos azuis berrantes. Lembrou tê-lo visto minutos antes, quando as duplas ainda não haviam se juntado. Uma breve olhada na roupa dele e Shikamaru confirmou: era seu parceiro - sou Kakushi...

Shikamaru: Minha dupla - completou. O outro fez que sim - estava te procurando agora mesmo.

Kakushi: Eu vi... Vim atrás de você por isso.

Shikamaru: Aliás, onde você estava? - perguntou - eu não te vi em lugar nenhum.

Kakushi: Ali - ele apontou para um canto atrás do grupo, exatamente o lugar onde Shikamaru imaginou que seu parceiro pudesse estar - fica meio escondido... Talvez não tenha visto por isso.

Shikamaru concordou com a cabeça, fazendo a mesma mecha insistente cair entre seus olhos. Ele sentiu o rosto queimar de raiva. Mas antes que pudesse assoprar ou afastar com a mão, Kakushi disse:

Kakushi: Então... Acho que a gente devia conectar o bracelete antes de qualquer coisa - sugeriu.

Shikamaru: Ah, claro - concordou, esquecendo parcialmente do cabelo.

O bracelete era simples - era fácil de mexer e todas as funções eram claras. Sem dificuldade, tanto Shikamaru quanto Kakushi encontraram a opção "conexão" que ouviram R falar. Quando Shikamaru encontrou, levantou os olhos e viu Kakushi fazendo que sim com a cabeça, como se dissesse que já estava pronto. Ele repetiu o gesto antes de conectar.

Como viu a expressão de Neji e de Rick, já estava esperando pela dor. E nem foi tão ruim, era apenas como uma dor de cabeça comum. Mas com Kakushi foi diferente, e pareceu ser pior que a dos três. Ele fechou os olhos com força e colocou uma mão na cabeça, parecendo meio tonto. A outra mão, a do bracelete, ele fechou com tanta força que parecia tremer.

Quando acabou, Shikamaru continuou olhando para Kakushi. Primeiro ouviu a voz dele em sua mente, tão baixa que precisava se concentrar para entender. Mas depois de mais alguns segundos, ele já conseguia ouvir tudo sem esforço.

"Parece um inferno" ele ouviu. "Minha cabeça está queimando, ou derretendo, ou sendo furada, ou..."

Ele parou ao abrir os olhos e ver que Shikamaru o observava.

"Você está bem, cara?" Shikamaru perguntou.

"S-sim, só estou meio zonzo..." respondeu. "Você não sentiu dor nenhuma?"

"Mais ou menos... Só um pouco, eu acho"

"Sério?" ele pareceu surpreso. "Minha cabeça quase explodiu... Tem certeza que não sentiu nada assim?"

"Não, nada tão forte".

"Nossa... Me senti idiota agora" disse, e seu rosto ficando vermelho confirmou.

"Não se sinta. Deve ter sido mais difícil entrar na sua mente ou sei lá".

"S-será?"

"Talvez..."

Um silêncio estranho se seguiu, até mesmo na mente dos dois. Foram poucos segundos, mas mesmo assim, estavam deixando Kakushi agoniado. Então ele chamou a atenção do outro: "Hm, vamos... Sentar ali onde eu estava? Não gosto muito de ficar aqui no meio"

"Ah, na verdade eu ia perguntar se você não prefere ficar com a gente ali" ele fez um movimento com a cabeça na direção do lugar onde Neji e Rick conversavam - ou melhor, se encaravam, conversando pela mente.

"Será que eu devo?" perguntou, imaginando se os outros dois não gostariam. "Quer dizer, eles podem não gostar de mim ou sei lá..."

"Ah, não se preocupe com isso. Neji é meio sério demais, mas não é tão chato quanto parece. E Rick... Bem, ele não parece ser do tipo que não gosta das pessoas"

"Tem certeza?" perguntou, inseguro. Ainda preferia seu canto, muito mais quieto.

"Claro. Não precisa ter medo, eles são nossos aliados aqui"

"Tudo bem então" pensou. Mas não estava nada bem.

Kakushi detestava admitir, mas era muito tímido. Não era de andar com muita gente, e sempre se perdia se tinha que conhecer algum grupo. Tentou ao máximo ignorar sua timidez quando foi atrás de Shikamaru, mas não sabia se conseguiria fazer isso mais uma vez.

Shikamaru: Então... - ele o chamou em voz alta, interrompendo seus pensamentos - vem?

Kakushi: Estou indo - disse, seguindo o outro.

Foram na direção de Neji e Rick. Um deles tinha cabelos ruivos meio mal cortados e bagunçados, era baixinho e mesmo de longe algumas sardas eram visíveis em suas bochechas. Seus olhos eram tão azuis quanto os de Kakushi. O outro era mais alto, mas como estava de costas, tudo que podiam ver era o cabelo - castanho, liso, ia até a metade das costas. Kakushi sabia os nomes deles, só não sabia quem era quem.

Ambos estavam de braços cruzados e se encaravam. Quando estavam perto, Kakushi pôde ver a expressão do rosto dos dois: o ruivo tinha um sorriso debochado no rosto, e o moreno estava sério (além de parecer de mau humor).

"Ei, é sério, eles são legais" disse Shikamaru em sua mente, sentindo o nervosismo do outro.

"Eu sei" respondeu. "Eu que sou meio... Sei lá. Não me dou muito bem com pessoas"

"Vamos todos nos dar bem, você vai ver" garantiu.

Shikamaru: Ei, vocês dois - ele chamou por Rick e Neji - vão continuar aí se encarando? Sério, isso já tá ficando chato. Parecem dois idiotas.

Neji: Um idiota, pelo menos, nós já temos - respondeu, emburrado, olhando para Rick.

Rick: Não fica bravo, Nejizinho - ele sorriu falsamente - só porque eu já provei que sou melhor que você duas vezes? Poxa, não precisa ficar assim...

Neji: Isso é ridículo - grunhiu.

Shikamaru: O que vocês estão fazendo? - perguntou, mas antes que um dos dois pudesse fazer alguma coisa, ele levantou uma mão, interrompendo-os - tudo bem, eu não quero realmente saber. Bem, Kakushi - continuou, falando com o parceiro agora - esses são Neji e Rick. Neji e Rick, esse é o Kakushi.

Ele acenou timidamente para os dois.

Neji: Você foi rápido, Shikamaru - disse, irônico - preguiçoso desse jeito, achei que iria demorar mais.

Shikamaru: Por que está falando assim, Neji? - ele sorriu - o jeito do Rick já te contagiou?

Neji: Nem diga uma coisa dessas - resmungou, fechando a cara de novo.

Shikamaru: Mas... - continuou - você está certo, eu provavelmente teria demorado mais pra encontrar o Kakushi... Na verdade, foi ele que me encontrou.

Neji: Tá explicado - ele deu uma risada - enfim, sinta-se sortudo por não ser a dupla de alguém como o Rick.

Rick: Ei!

Neji: Não reclama, você sabe que é irrritante.

Rick: É, eu sei - ele sorriu - eu faço de propósito. É legal irritar gente rabugenta que nem você. Ainda mais quando você não pode me bater!

Neji: Não posso? - ele levantou o punho.

Rick: Não! Lembre-se, se eu morrer, você também morre.

Neji: Mas apanhar um pouco não vai te matar, não é? - ele apertou os olhos.

Shikamaru: Vocês podem parar com isso? - disse, ao ver a expressão confusa de seu parceiro.

Rick: Ops! Me desculpe, Kakushi - ele fez uma reverência exagerada - não vou deixar o Nejizinho te assustar de novo.

Neji: Para de me chamar de Nejizinho!

Rick: Está vendo, meu amigo? - ele passou um braço pelo pescoço de Kakushi, em um quase-abraço desajeitado - irritar esse cara não é divertido? Quer tentar?

Kakushi: E-eu não... - ele tentou, mas foi interropido.

Neji: Cala a boca, Rick - grunhiu.

Rick: Por que? Quer que eu seja o único te irritando? - ele deu um sorriso irônico - está vendo, você gosta de mim.

Neji: Ahh, não acredito que estou perdendo tanto tempo com idiotices!

Enquanto os dois continuavam a discutir, Shikamaru olhou pelo canto do olho para Kakushi. "Então... Sinto informar, mas são esses dois que vamos ter que aturar".

"Eles são... Estranhos" respondeu, enquanto ainda os observava.

"Eu sei..." ele suspirou. "Não estou nem reconhecendo o Neji. Geralmente ele é tão sério... Esse Rick está mesmo mexendo com ele"

"Não sei se vou me dar bem com os dois" confessou. "Quer dizer, não que eu não tenha gostado deles, mas... Como eu disse, não sei se vão gostar de mim"

Shikamaru suspirou, derrotado. Não conseguiu fazer Kakushi confiar em Rick e Neji de primeira - mesmo se a culpa foi mais dos dois do que dele mesmo.

O único pensamento que veio em sua cabeça foi "isso vai ser complicado".