VITOR

Minha menininha mexeu. Nem sei como me controlar:- Sou tudo isso aí mesmo.

Elas riem:- Ai Vitor...

Cintia:- Mas foi hoje de manhã?

Paula sorri:- FOI! É uma sensação tão boa...

Dulce:- Você mexia muito.

Paula:- Queria sair logo!

Brinco:- E tinha que sair mesmo. Como eu ia viver?

Dulce:- NOSSA! Que amor avassalador é esse?

Cintia ri:- Um poeta, que isso... PALMAS!

Paula:- Viram só!? Como sou honrada...

Rio:- Vocês nem são irônicas...

Diva me serve o café:- Dessa até eu ri...

O café da manhã foi brindado. Logo depois Paula e eu nos sentamos pros detalhes do casamento:- Falamos como se estivesse tão longe...

Paula:- Estou começando a ficar apreensiva...

Interrompo ela- Se acalme. Tem 30 dias...

Paula:- Isso foi ironia? Só restam 30 dias pra um dos dias mais importantes da minha vida. Você já passou por isso.

Viro-me pra ela:- Se soubesse o quanto me irrita falar assim! Como se eu não fosse viver...

Paula me interrompe:- Desculpe. É que ás vezes você parece tão mais calmo com tudo isso, como se...

Respiro fundo:- Como se... Nem termine sua frase.

Levanto-me e a deixo sozinha. Se ela soubesse que me sinto muito mais nervoso por esse casamento, porque é agora que estarei no altar com quem gostaria de ter estado desde a primeira vez. Passam alguns minutos e ela aparece.

Paula:- Aonde vai?

Estou arrumando minhas coisas:- Vou precisar sair. Mais tarde eu retorno.

Paula:- Você precisa provar seu terno, é hoje.

Vou até ela:- Eu sei. Passo lá e provo...

Paula:- Então eu vou com você.

Pego meu celular:- Não precisa.

Saio do quarto e ele me chama. Retorno: Sim?

Paula:- Não faz assim comigo. É que parece que nem vamos nos casar...

Olho atônito pra ela:- Vamos. Faltam 30 dias...

Paula:- Vitor, não fala assim...

Respiro fundo e fecho a porta do quarto, levo-a até a cama e a sento:- Está bem. Vamos lá... se sente aqui. Paula quando me casei com Cláudia foi tudo muito corrido, desde meu pedido louco até o dia do casamento. Fiz de tudo de uma maneira que eu não tivesse que ter tempo pra repensar e acabar voltando atrás. Já havia feito o pedido, motivado por tantas coisas dentro de mim, mas não necessariamente amor, eu acreditava que Claudia seria uma ótima mãe pros meus filhos e que já estava na hora de começar uma família e eu pensava que você já não me queria, alias você me dizia isso... Mas não vem ao caso porque já sabemos de toda a história. Vivi o dia do casamento muito emocionado, era tudo novo aquilo e eu tinha muita esperança de uma nova vida, de provar pra mim que eu e você já tínhamos acabado e eu não precisava de você. Mas foi um grande engano que me custou MUITO, eu me propus a reviver tudo isso da maneira certa agora. Estou preocupado, estou tenso, estou mais nervoso, mas tento ao máximo que você não sinta nada disso, mesmo sendo tão gostoso sentir porque sei que você fica exatamente como agora, apreensiva. Pra mim Paula, esse é meu primeiro e único casamento. Minha antiga união com Claudia me ensinou muito pra saber que casamento é que nós iremos viver, como um dos dias mais importantes da minha vida. É a prova de que se fiz algo correto, porque você é coisa mais certa que eu fiz na minha vida. - Levanto-me da cama enquanto ela fica em silêncio e saio do quarto. No caminho aviso para Dulce ir vê-la se possível:- Mais tarde volto.

Assim que chego na cidade vou até o apartamento de mamãe:- Sua benção.

Ela me recebe e me dá a benção:- Que bom que veio aqui. Cadê a Paula?

Espero ela fechar a porta:- Vou experimentar o terno hoje...

Ela sorri:- Eu sei, e por que Paula não veio?

Penso:- Porque eu também precisava falar com você sobre aquele assunto.

Marisa:- Ele telefonou pra cá. Disse que compreendia você não poder ir até lá e aceitou o que você mandou, está contente.

Fico abismado:- Não esperava isso...

Marisa:- Ele confirmou, vai aguardar tudo que você falou, que confia.

Respiro fundo:- Ótimo! Você já foi ver suas coisas pro casamento? Deixei tudo avisado, liberado com a Paula.

Marisa:- Sim. Já cuidamos de tudo isso... O que está te incomodando? Tenha calma, está tudo sob controle.

Levo as mãos a cabeça:- O tempo está me incomodando. Mas vamos falar de coisa boa... aconteceu algo hoje que eu fiquei muito feliz. A Vitória mexeu e eu pude sentir!

Mamãe dá um pulo:- Meu deus VI!

Começo rir:- Foi mágico. Mas então... se apronte pra irmos experimentar minha roupa.

Ela se arruma e em vinte minutos chegamos ao local. Reajusto as medidas, o modelo da gravata, a escolha do calçado, da flor. Ao sairmos já com o terno em mãos, busco as alianças que mandei fazer:- Gostou?

Marisa:- E como... São lindas, dá até uma sensação no coração! Mas e esse colar aqui é o que?

Rio:- Presente pra Paula.

Marisa:- Todo mês você dá uma joia pra ela?

Paramos no semáforo:- Não.Uma joia não... mas procuro dar algo, seja o que for. O que vejo sabendo que ela vai gostar, eu dou!

Ela ri:- Você está mais apaixonado, não é?

Começo rir, e olho pra ela:- Só porque a presenteio estou mais apaixonado?

Marisa:- Pelo presente não. Mas pela lembrança que você tem dela em tudo...

Sorrio e olho pra ela:- Nunca deixei de estar.

Poderia começar aqui meu melhor livro de vida. Os dias se passaram entre corridinhas na casa para lá e para cá. Ela, todos os dias com um sorriso diferente, mais dependente. Vitória crescendo fortemente naquele ventre que tanto amo. Dias intensos, corridos, de certa forma, turbulentos. Nervosismo a flor da pele, a ansiedade se alastrando por meu corpo inteiro, estava chegando o dia, o medo. Semanas correm, dias se atrapalham nas horas, todas as minhas emoções decidiram ressurgir e me acompanhar até hoje. Decidimos por essa data, barriga de Paula ainda é tímida em comparação ao que ficará até os últimos meses pela forma que cresce a cada dia que passa. Nosso casamento será no fim de tarde, asseguramos contra qualquer transformação do tempo. Acordei me deparando com arranjos por toda a casa, a decoração como ela desejava e que tanto me agradou. Minhas mulheres já não estão aqui, hoje é o dia delas, o meu dia. Observo pela varanda do quarto a correria, agradeço com sorrisos quem de longe acaba me observando. Decoradores, montadores, arranjadores e mais dores gritam ordens de um lado para o outro. E confesso, sinto um arrepio pela pele, uma vontade imensa de que Paula pudesse estar aqui:- Chegou o dia.

Mamãe está aqui:- Chegou! E está tudo deslumbrante Vitor. Nunca vi algo tão perfeitamente harmônico, de paz... Quando você sair lá fora verá!

Continuo observando:- Queria a Paula aqui.

Ela ri enquanto coloca meu terno na cama, já devidamente passado:- Você acordou tarde. Mas melhor assim, vai aparentar estar mais descansado.

Começo sorrir sozinho:- Felicidade a gente transborda!

Ela se aproxima e me abraça:- Daqui a algumas horas estarei com você no altar. E filho...

Começamos a nos emocionar:- Hoje é dia!

Ela ri:- Eu sei que é o dia da sua melhor decisão! Vou dormir em paz por saber que você será tão feliz quanto merece. Até muito mais!

A abraço forte e Diva entra no quarto se emocionando, ajudando, conferindo os últimos detalhes. Assim que me organizo vou para fora e cumprimento meus familiares tanto paternos quando maternos que já chegaram. Confiro o som, os preparativos e não me contenho a cada vez que confiro os gritos de “concluído”. As horas passam, as pessoas começam sair pra se aprontarem, os responsáveis por me aprontar chegam:- Agora que vai começar... – Tomo um banho e me sento para que comecem o que é preciso. Em quarenta minutos estou devidamente pronto e contando da minha ansiedade para a equipe que ficou responsável de filmar cada passo do casamento:- Estão filmando a Paula também?

Equipe:- Sim.

Sorrio e indico pra que filmem a decoração. Ainda não posso sair do quarto, a noite resolveu nos presentear um pouco mais cedo. As luminárias são acesas e sinto meu estomago se dissolver em borboletas. Peço que me deixem sozinho antes que eu tenha de ir até lá fora. Assim que saem, vou até meu quarto com Paula, pois estava em um de visita para me aprontar. Tranco a porta e ajoelho-me sobre nossa cama. Tomo em mãos uma dos presentes que ela me deu, uma medalha. Antes que consiga dizer algo sinto-me conectar com um mundo a qual me traz paz. Meus olhem se enchem feito as cachoeiras que tantas vezes acompanhei Paula pela Serra do Cipó, a lembrança me faz rir...

“Entre os soluços de minha alma. Os batimentos frenéticos de meu coração que por estes meus olhos escorrem o tamanho do meu amor, agradeço-lhe Senhor. Me acompanhaste até aqui, em nenhum momento, mesmo com tantos erros, me permitiu esquecê-la. Sua voz, seu toque, seu corpo e principalmente sua alma. Hoje, terei ela como a mim, terei a mim como ela por uma benção e escolha que agora deito-me em paz ao saber que veio de ti. Não me desampare nessa nova caminhada de marido e pai, para que para minha família eu não seja o melhor, mas aquele que junto de ti se faça o que minhas vidas necessitarem. Obrigado Senhor, por essa nova oportunidade de viver que tens me dado por estar aqui respirando, com poucos minutos me separando do grande dia de minha vida. Não saberei explicar o que dentro de mim passa, o que passará quando vê-la como minha esposa, minha protegida. Perdoe-me de minhas falhas e ajude-me, peço novamente, nessa nova caminhada. Esteja em minha casa, em cada ato ou fato que estivermos, sobre esse quarto, sobre nossas vidas, por todas as vidas, juntos. Conduza-me para saber a melhor forma de conduzir minha família...”

Respiro fundo me recompondo, mas é como impossível deixar de se emocionar com a sensação premiada que sinto. Beijo nosso retrato e sinto-me impulsionado a encarar o barulho que soa de fora para vê-la o quanto antes. Batem a porta e abro:- Oi...

Marisa:- Meu príncipe!

Começo rir:- Confesso que hoje estou me sentindo lindo!

Ela me olha, me revira:- Meu filho, nunca o vi tão lindo quanto hoje!

Seguro a mão dela e peço que dê uma volta:- São efeitos da felicidade. Você está uma GATA!

Ela ri:- Sabe o que me passou agora? Vou me sentir entrando com você...

Rio:- Me fala da Paula mãe. Ela já está aí em algum canto?

Sorri:- Não posso revelar isso pra você. O que posso dizer é que me emocionei quando a vi.

Meu coração dispara:- Não sei se terei forças.

Marisa:- Irá sim! E é bom começar de agora... Respire...

Faço o que ela pede inúmeras vezes:- Pronto!

Ela sorri pra mim, segura em minha mão e passamos pela porta. Sorrio ao imaginar que da próxima vez que entrarei com ela, seremos casados. Vou passando pelos corredores, pelos cômodos que foram privados da Fazenda, tendo acesso somente a família. Paramos na porta inicial, não faço ideia do que tem do lado de fora, só ouço as pessoas conversarem, uma música mansa de fundo que me embala. Fico preocupado se tudo já está em ordem, mas me acalmam quanto a isso:- Cadê ele?

Marisa:- Vou chamá-lo.

Minutos depois ele surge e me aproximo para cumprimentá-lo:- Seu Osvaldo...

Osvaldo:- Não sei o que lhe falar.

O olho:- Pense em uma coisa... O sonho da Paula é que o senhor pudesse estar aqui, é que vocês pudessem se acertar. Ela não sabe de nada ainda, então peço que por hoje o senhor seja pai, e seja avô da minha filha que sua filha, minha esposa, está gerando. O depois, depois resolvemos...

Osvaldo:- Confiarei em você.

Fito-o:- Eu quem estarei confiando em você. Portanto, seu Osvaldo, não me decepcione, tudo aqui é parte da Paula e parte da Paula sou eu.

Um dos organizadores, conhecido meu, vem até nós e nos explica como tudo irá proceder:- Está bem.

Marisa:- Vitor... Está na hora!

Cumprimento novamente seu Osvaldo:- Não se esqueça... Ela o ama imensamente!

Vou até mamãe, seguro em seu braço entrelaçado ao meu e as portas da magia se abrem...

Da porta inicial da sede da Fazenda até o local de onde eu sairia, há um imenso corredor onde os convidados não sabem o que se passa. Um corredor onde as paredes são flores com grandes lustres de cristais que caem em luz branda sobre meus olhos. Chego a parte aberta e me emociono de forma que é necessário mamãe me abraçar. Transformaram a fazenda em um pedaço do céu. Há grandes postes de cristais distribuídos por todos os lados do grande gramado, repletamente coberto de pétalas de flores. A piscina está coberta de pequenas luminárias que flutuam sobre a água. Os convidados foram postos em cadeiras estofadas devidamente alinhadas em frente a um grande portal que se entrelaça e se contrapõe ao gramados com flores do chão, trazendo-nos a sensação de que o chão os formou e o céu o pincelou sobre a terra. Estão todos já acomodados, consigo sentir tanta ansiedade e isso me faz rir. Próximo a eles, em direção ao grande portal feito de altar, há uma passarela da qual receio pisar por pena. Flores, muitas flores de todos os tipos enfeitam, dançam, se beijam, se amam aos nosso olhos.

Observo Cintia, Nilmar já no altar como também Leo, Tatianna, Paula (irmã). Sorrio sem saber cessar para eles, para os convidados que se viram e levantam para me verem adentrar. As notas da canção faço meus passos apressados, meus olhos que não cansam de chorar. Tento curvar-me a todos, em agradecimento por terem vindo. Fotos são tiradas a cada segundo, e a cada segundo que passa meu futuro ao lado dela me diz presente. Entregue, beijo minha tão preciosa confidente que se coloca junto a todos no altar que cumprimento emocionado, onde cada um me transmite uma energia. O juiz está posto, os convidados mais alvoroçados, pois, a próxima entrada será dela! Começam a conversar e percebo que estão preocupados pela demora de Paula...

Continua...