Vitor sente aquele momento com tamanha intensidade, pela saudade, pelo amor, pela mulher que ele tanto amava e estava ali... Estava ali para ser amada como merecia. Estava ali para amá-lo como sempre mereceu. Lágrimas escorrem de seus olhos enquanto volta beijar o corpo de Paula que se contorce desesperadamente, chamando por ele, por tudo que ele pudesse oferecer naquele momento, para o resto da vida. Quando Vitor a preenche, perde a razão... Suspira profundamente, o arranha ferozmente. Naquele espaço pequeno do sofá, se entrelaçam como nunca... Paula inverte as posições, cavalga sobre ele deixando todo seu mundo para trás. Longos minutos se passam, entre carícias, feridas de um amor que era paz e guerra de mãos dadas. Em grito desesperado, caem suados do perfume que produzem...

– Esse sofá...- sorri.

– Esse sofá...- acaricia as costas dela. Você está quente...

– Não tem como não estar...- ergue a cabeça, indo até a boca dele e beijando. Eu te amo...

– Eu sei! - sorri e eles riem.

– Vivi parecia saber que precisávamos disso... Não fez um barulinho até agora.

– Conversei com ela...

– Convencido! - riem. Acho que ela sabia que tentaríamos trazer um irmãozinho a ela...- tenta entrar no assunto.

– Não adianta tentar entrar nisso...

– Vi...

– Vamos falar de outra coisa...- deita-se sobre ela.

– Não estou me prevenindo...- tenta continuar.

– Paula...

– Vitor... Vitória não pode ser sozinha...

– E nós não podemos ter um filho agora!

– Podemos sim... Por que não?

– Você quer ocupar o lugar do filho que perdemos! - a observa digerindo as palavras dele e se arrepende de ter dito. Me perdoa...- beija seu ombro. Pulinha...- ela se vira e o coração dele dói. Nós vamos ter outro filho! Teremos outros filhos que seja... Mas, não agora. Nossa perca é muito recente para...

– Não tive a oportunidade de gerá-lo... De ver seu rostinho... Mas, ele não morreu! Meu filho está aqui! - se vira e olha para ele.

– Paula...- se preocupa com ela. Tudo bem...- resolve não estender o assunto. Podemos falar disso depois? - beija-a.

– Tá...- o abraça. Mas, temos que conversar sobre isso...

– Nós iremos, mas não agora!

– Eu quero outro bebê, Vitor! Você não quer?

– Não íamos falar disso depois? - se levanta, vestindo-se.

– Você não entende! - senta-se.

– O que eu não entendo é como você deixou de ir ao médico...

– Eu...

– Não aja feito uma ignorante! Pensando que não tem que fazer isso... Paula, é sua saúde e comece a pensar na vida de um bebê, nesse momento, no meio da nossa vida. Não dá!

– Não dá, porquê? Vitória nasceu no meio dessa vida...

– Paula...- respira fundo para não discutir com ela. Nós vamos ao médico essa semana e você irá se prevenir.

– Não...- levanta, colocando a camisola. Eu não vou ao médico até que eu engravide!

– Que maluquice é essa? - a encara.

– Eu não vou! - começa a chorar.

– Paula...- vai até ela.

– E se eu não puder ter mais filhos!? - olha para ele. E se o médico dizer que não teremos mais filhos porque eu não saudável o suficiente para segurar uma gravidez sem ser de risco? - chora. Você entende que...

Vitor a observa sem saber o que falar. Era esse o medo dela. Por isso ela queria tanto um outro filho.

– Quem foi que falou que você não pode ter mais filhos? Meu amor...- senta-se com ela. Você é uma mulher muito saudável.... É que uma gravidez requer muita energia. Você estava vivendo tudo de uma vez e isso piorou a situação. Não tem nada ver você não ser capaz, não ter saúde para isso! Paula... Você teve a Vitória em um parto normal, mesmo já tendo perdido rios de sangue. Como pode dizer que não é saudável? Que não é forte? Você suportou todas as dores da última gravidez... Mesmo sabendo que nosso filho poderia não nascer. Nenhum médico explica isso... Ninguém pode dizer que você não poderá ter mais filhos!

– Eu tenho medo...- ele enxuga as lágrimas dela. Isso tudo me fragilizou de uma forma...

– Não se preocupe... São apenas momentos... Não vou te pedir que seja forte, só vou te pedir para que não permita que esses pensamentos consuma você. Teremos nosso bebê no momento certo... Ele precisa conhecer a mãe que tem! - sorriem.

– Vitor...- encosta a cabeça em seu peito, abraçando.

– Vou ficar feliz com o que vier... Mas, não sei se sei ser pai de menino...- riem.

– É... Confesso que eu também não sei se você saberia. Mas, eu sei que você seria o melhor de você e isso tornaria nosso filho feliz!

– É estranho, né!? - ri. A maioria dos homens querem meninos... Mas, eu não sei jogar bola, vídeo game, e todas essas coisas...

– Não mesmo! - ri. Mas, você poderia ensinar a fazer xixi...

– Isso é verdade! - riem. Já ensinei meus sobrinhos, a única coisa coitados!

– Você é incrível! - sorri. E é inexplicável a sensação que sempre carreguei em mim... Que você seria os pais dos meus filhos. Para mim não há outro homem, se não você, para isso!

– Minha pequena...- beija-a.

– Vi...- desprende-se dos lábios dele. A Vitória...- se levanta.

– O que foi!? - faz o mesmo.

– Já era para ela ter acordado para mamar...- calça os chinelos. Vou vê-la!

– Vamos...- apaga as luzes, desliga a TV e saem juntos.

Ao chegarem no quarto, Dulce está sentada com a neta em uma poltrona.

– Um... Rum... Um... Rum...- canta, acariciando os cabelos da neta.

– Mãe...- sussurra.

– Onde estava? - olha feio para Paula. Vitória estava chorando, te procurei pela casa e não achei.

– Estava na sala... Do outro lado. Ela dormiu? - se aproxima.

– Sim...- levanta-se, levando Vitória ao berço.

Vitor, para não encarar Dulce naquele momento, vai para o banho de fininho.

– Vou me deitar...

– Eu havia ligado a babá eletrônica. Mas, algo não funcionou...

– Por que não pediu que eu ficasse com ela? Teria evitado ela ficar aqui chorando sozinha...

– Eu só fui até a sala ver um filme...

– Nesse estado!? - olha para ela.

– O que tem?

– Enfim... Faça o que quiser, mas preste atenção na sua filha. Durma bem...- sai.

– Uai...- Vitor aparece com metade do corpo na porta do banheiro. Ela ficou brava porque estávamos nos relacionando como todo casal?

– Vitor! - vira para ele rindo. Por que não ficou para ouvir comigo? - vai até lá.

– Ás vezes acho que sua mãe...- volta para o banho.

– Que bagunça! - pega a roupa do chão, todo molhado por ele. Afff... O que tem minha mãe? - joga a roupa suja no cesto.

– Nada...- enxagua-se olhando para ela pela vidraça.

– Estou exausta! - retira a camisola, amarra o cabelo e vai para o banho.

– Muito exausta? - a beija.

– Razoavelmente exausta...

– Isso quer dizer que ainda há um pouco de disposição! - a ensaboa.

– Aiai...- compreende a intenções dele. Sentiu muita saudade?

– Você nem imagina...- a acaricia. Só tenho o travesseiro de companhia...

– Ainda bem! - ri. Pois se tiver outro tipo de companhia...

– Já sei...- ri.

– Retiro todas suas coisinhas!

– Credo, Paula! - riem.

– Deixa eu sair...- pega o roupão. E você venha logo... Chega de enrolar nessa ducha.

– Estou indo...- desliga. Meu roupão...

– Aqui...- entrega para ele.

– Obrigado!

– Vi...

– Hum...- a olha enquanto se seca.

– O que você acha deu colocar silicone? - se observa no espelho.

Vitor a encara pelo espelho, como se dispensasse as palavras para responder.

– É que ás vezes...

– Paula...- vai até ela. Não gosto dessa ideia... Acho que não há nada para se mexer.

– Você não gosta?

– Do que?

– De mulheres com...

– Tenho que gostar de você. E sem obrigações, eu te amo. As outras mulheres não são você! Você precisa entender que as outras não existem para mim... Você é minha esposa, minha companheira, minha amiga... As outras são apenas mulheres com qual tenho que lidar. Esqueça isso de comparar o que acho bonito em outras! Achar uma ou outra bonita, não me faz amar elas. Eu amo você! Eu conheço você. E você é o suficiente para que eu não queira conhecer, estar com qualquer outra... Ás vezes penso que você não acredita em mim! - diz nervoso.

– Você é o único homem que me faz elogios, brigando ao mesmo tempo! - ri. Calma...- o abraça. Eu acredito sim!

– Não parece!

– Deixe de besteira...- beija o pescoço dele.

– Pensei que estava exausta...

– Você falou que eu ainda tinha disposição! E eu tenho mesmo...- retira o roupão dele.

– Mas, eu não quero!

– Não!? - ri. Tudo bem... Boa noite, então!

Paula retira o roupão e caminha para o quarto. Sabia que ele viria atrás, só não imaginou que tão rápido.

– Pulinha...- aparece na porta do banheiro, a observando se pentear enfrente ao espelho.

– Hum? - o olha.

– Desculpa...- vai até ela. Eu quero...

– Quer o que? - se faz de desentendida, indo para a cama.

– Você! - sorri, deitando-se sobre ela aos beijos.

– Você não merecia! - o beija.

– Merecia sim! - escorrega a mão no corpo dela. Preciso de você toda hora...- olha fixadamente nos olhos dela. E isso tem me matado sempre estou longe! Não é só para isso. Preciso de você como um todo! - beija-a.

Amam-me como se em nenhum momento antes daquele tivessem se amado. Paula deita-se ao lado dele, que a observa atentamente.

– Acho que agora eu esgotei... Para valer...- ele ri.

– Vamos ficar para sempre assim... Ao menos não brigamos. - riem.

– Brigar? Nesse momento? É... Bem difícil haver brigas.

Ficam alguns minutos em silêncio e Vitor percebe que ela está quase dormindo.

– Paula...- abre os olhos dela. Acorda...

– Para! - bate na mão dele. Vamos dormir...- se ajeita na cama.

– Não...- puxa ela. Ainda está cedo!

– Bem cedo mesmo! Já são 5h...- olha no relógio. Daqui a pouco Vivi acorda e eu nem dormi.

– Calma...- mexe no olho dela. Paula...

– Meu Deus, Vitor! - riem. Vai dormir...

– Ainda não... Estou cansado... Mas, não consigo dormir.

– Você precisa ir a algum médico... Não é normal alguém não conseguir dormir desse jeito. - aconchega-se nele, acariciando seu rosto.

– Isso...- fecha os olhos. Faz carinho...- sorri.

– Você e Vitória são muito dengosos...- sorri. Você precisa desligar a mente e descansar...

– Hum...

– Shiu... Não fala nada, relaxa....- continua.

Vitor adormece em minutos. Paula, o observando, grava seu ronco para mostrar na manhã seguinte. Logo ajeita-se em seus braços e dorme também.

12H30...

– Paula? - bate na porta.

– Dulce... Eles devem estar dormindo.

– Mas, Vitória precisa comer! - olha para Lucy.

– Mas, eles são os pais... Sabem disso. E se até agora não levantaram, quer dizer que a bebê também está dormindo.

– Paula? - bate novamente.

– Vitor não vai gostar disso, Dulce! Vou perder meu emprego...- diz aflita.

– Lucy...

– Por favor, vamos aguardar eles na cozinha.

– Afff! Tudo bem... Só porque você não para de falar! - sai da porta do quarto e Lucy a segue aliviada.

Paula sai do banheiro, retira os fones de ouvido e escuta Vitória resmungar ao lado de Vitor.

– O que foi? - vai até ela. Já acordou...- sorri. É o papai...- ri da filha batendo a mão nas costas de Vitor. Acorda! Fala para ele acordar... Passou da hora.

Pega a filha no colo e vai até o quarto dela, banhando-a e retornando ao seu quarto tempos depois.

– Está cheirosinha! - a beija. Fica aqui...- coloca no chão. Mamãe vai se trocar...- retira o roupão e começa vestir a roupa que separou. Cuidado...- observa Vitória se levanta na cama. Você vai acordar ele? - ri dela olhando Vitor dormir. Fala, minha filha... Não fica só "hum, hum"... Tem que falar Vitória...- vai ao banheiro.

Vitor abre os olhos quando Vitória começar a mexer no seu nariz e rir sozinha.

– BU! - riem. Bom dia, minha princesa...- beija a mãozinha dela.

– Vitor, levante...- retorna. Já deveríamos ter acordado. Passou do horário de Vitória comer...

– Vai indo!

– Nada disso! Faz muito tempo que você não tem uma refeição com ela... Pode levantar!

– Separe minha roupa que já vou...- se espreguiça e Vitória ri. Vivi! - riem.

– Vem, meu amor...- a pega. Vamos esperar o papai lá fora... Não demora Vitor!

Paula vai para a cozinha e ao chegar é fuzilada pelos olhos de Dulce.

– Vitória deveria ter comido há duas horas atrás...

– Eu sei...- a coloca na cadeirinha. Mas, ela acordou a pouco... Não dormiu bem essa noite, coloquei ela na cama agora de manhã.

– Por que será que não dormiu bem?

– Mãe...- senta-se. Por favor...

– Será que sabe? Chega de agir feito...

– Mãe! - a interrompe. Qual o problema?

– Uma criança não pode ficar sem comer até essa hora! Tão pouco dormir até essa hora... Vitória não pode viver como Vitor! Nem você. Vocês precisam de um rotina saudável e não de viver acordado quando se tem que dormir... Tudo desregulado.

– Tudo bem...- tenta encerrar o assunto. Já almoçou?

– Nem quero! - levanta-se.

– Oi Diva! - sorri chateada para a funcionária.

– É difícil, né!?

– Muito... De um lado ela, de outro o Vitor. Ela reclama das nossas decisões... E Vitor reclama que ela não tem que reclamar nada. Ás vezes penso que eles não se dão bem...

– Não pense isso! Vitor gosta muito da Dulce...- senta-se. O negócio é que... Isso é muito delicado. Você sabe que ele não gosta que se intrometem na vida de vocês...

– Sei e ele está certo! Eu também não gosto... Mas, é minha mãe... Eu não sei como conversar com ela sobre isso. Ela sempre quis meu bem e sei que faz tudo isso por bem.

– Mas, a vida é nossa! - Vitor chega, sentando-se. Bom dia, Diva! - sorri.

– Bom dia! - se levanta. Café ou suco?

– Café. O que está havendo? - vira-se para Paula.

– Nada...- não o olha.

– Não quero ser rude com sua mãe. Não quero que ela se entristeça e se afaste. Mas, somos nós os pais de Vitória. Somos nós os donos dessa casa, dos horários, da nossa vida juntos. E ela precisa entender...

– Não quero...

– Mas, vai ter que falar! - a encara.

– Vitor...- olha incrédula para ele.

– Não vou repetir! - pega o café e bebe.

– Paula, posso servir o almoço?

– Perdi a fome, Diva! - se levanta olhando para Vitor e sai.

– Vitor, imagina se fosse sua mãe...

– Não imagino, Diva... Porque minha filha, minha casa, minha esposa são minha vida e minha mãe já sabe disso há tempos.

– Mas, Paula é muito ligada com a mãe...

– E eu admiro isso! Os conselhos da Dulce são incríveis... Mas, criticar as minhas decisões eu não aceito! Vou fazer o que eu acho certo, não o que outro acha.

– Tudo bem, sr. Vitor...- ironiza reverenciando ele. Mais alguma coisa? É só tocar a campainha...- sai.

– Diva...- se chateia pela brincadeira dela. Vivi...- se levanta e pega a filha, sentando-se novamente. Você entende o papai, né!? - respira fundo. Só quero o que for melhor para gente e me acham frio por isso. Mas, não... Um dia vão entender. Eu espero...- Vitória pega o celular dele na mesa. O que quer fazer aqui? Vamos ver uma pessoa...- coloca na câmera frontal. Olha que pessoa linda! - eles riem.

– Vitor...- retorna.

– Oi Diva... Veio antes deu tocar a campainha, da próxima é despedida.

– Perdão, senhor...- coloca o prato e o suco de Vitória na mesa.

– Vitória...- pega o celular rindo. Você tirou uma foto...- coloca na mesa. Esses dedinhos! Vamos papar agora...- ela resmunga.

– O que faço com os pratos?

– Aguarde... Paula vem comer.

– Mas, ela disse que não queria.

– Paula? Paula vai negar comida, Diva?

– É... Isso é. Vou aguardar...

– Pode colocar nessa mesa, fico aqui no cantinho com Vivi...- começa dar comida para filha. Abre o bocão...

Enquanto Vitor se diverte com a filha, Paula procura pela mãe. A observa no jardim, sentada, folheando uma revista.

– Mãe...- se aproxima, sentando-se em outra cadeira.

– Sim? - não retira os olhos da revista.

– Mãe... Eu queria que a senhora...

– Paula...- guarda a revista. Não irei dizer mais nada!

– Agradeço tanto a companhia da senhora... A senhora sabe disso. É minha melhor amiga, sempre foi minha parceira... Sempre tivemos somente uma a outra.

– Sou sua mãe... Isso não vai mudar. Mas, agora você é uma mulher casada... E eu ás vezes exagero na proteção, nos conselhos. Já não tenho que dizer nada e acabo dizendo... Vitor tem uma personalidade extremamente forte e eu sei que ele odeia que se intrometam na vida dele.

– Não pense que ele não goste de você!

– Não penso! Sei que ele gosta de mim. Mas, não aprova nenhum pouco eu dizer algo...

– Isso é tão difícil para mim!

– Não tem que ser!

– Confie em mim...- a olha. Confie que eu posso ser uma boa esposa, uma boa mulher para casa, uma excelente mãe além de tudo que já sou! Seus conselhos me orientam... Mas, quando Vitor tomar uma decisão, quando nós dois tomarmos, deixe que quebremos a cara sozinhos, se assim for para ser. Somos bons pais, mãe!

– Não duvido disso! Estou fazendo aquele papel chato de sogra...- ri. Mas, eu vou me policiar de agora para frente.

– É melhor! - sorri. Pela própria Vitória... Ela precisa entender que quem dá as ordens somos eu e o pai dela.

– Sim...

– Vamos almoçar com a gente...- se levanta, dando a mão para ela.

– Vamos...- faz o mesmo. Vitor está bravo comigo? - caminham.

– Não... Está tudo bem.

– Hoje vou retornar para cidade... Não te acompanharei nos shows essa semana.

– Ok... Queria levar Vitória... Lucy iria junto. Estou com medo de deixar ela aqui...

– Você e Vitor há conversaram?

– Já... Mas, ele disse que sabe o que fazer. Enfim, mãe... Não quero falar disso agora.

– Sim! Desculpe... Conversaremos depois. Você acha que ele deixará você levar Vitória?

– Não! - olha para Dulce aflita. Tenho assuntos bem delicados para tratar com Vitor...- respira fundo.

– Você deveria aproveitar para fazer isso nos momentos a sós...- ri.

– Mas nesses momentos eu não consigo lembrar de nada! - riem.

– Ás vezes vocês parecem adolescentes...

– Ficamos tantos anos separados, mãe... Que mesmo que fiquemos um dia inteiro se amando seria suficiente para matar a saudade que a gente sente um do outro. Era sufocante estar com outras pessoas e ficar lembrando dele... Em muitos momentos eu pensei que iria pirar.

– Mas deu tudo certo e isso é o que importa! - acaricia a mão dela.

– Sim! - sorri.

– Vitória está comendo?

– Ele deve estar dando a ela...

Entram na casa, indo para a cozinha já podendo ouvir Vitor falar com a bebê.

– Vitória, não! - Vitor segura o copo que ela tenta puxar. Calma aí filha...- limpa a comida que ela derramou no colo. Diva! - chama.

– Sim, senhor...

– Me traz um pano...

– Aqui...- entrega o que está em mãos.

– Deixa o papai colocar aqui...- coloca no pescoço dela, amarrando atrás. Para não se sujar!

– Meu Deus! - ri da armação dele.

– O que foi? - olha para ela.

– Sua filha está linda assim! Ela vai te agradecer por pendurar um guardanapo no pescoço dela...

– É só para não sujar! - começa a dar comida novamente.

– O que é isso? - chegam na cozinha já rindo. Minha filha!

– Um babador!

– Um guardanapo você quer dizer né!? - sentam-se.

– Sirvo agora, Paula?

– Sim, Diva!

– Agora pede para ela? - a encara.

– Desculpe...- retorna, ignorando. Posso servir, senhor Vitor?

– Vitor Chaves...

– Posso servir, senhor Vitor Chaves de Chato?

– Besta! - riem.

– Já volto...- sai.

– Vamos almoçar juntos depois de dias...- tenta puxar assunto.

– Sim...

– Não quer mais!? - Vitória afasta a mão de Vitor. Tudo bem... Calma...- a desce no chão. Não Vitória! - ela vai atrás do paçoca.

– Paçoca! - ele a lambe.

– Agora já foi...- se levanta, tirando as coisas dela de cima da mesa.

Deixam a filha brincar com o cachorro, vigiando enquanto comem. Aos poucos vão interagindo e Paula tenta aproveitar o momento para falar do aniversário de Vitória.

– Já está quase tudo pronto...

– Legal...

– Falta confirmar o local...- observa Vitor reagir.

– Como assim?

– É que estou em dúvida se confirmo no convertion ou se escolho outro...

– Paula...- larga os talheres e respira fundo. O aniversário dela será aqui.

– Não...- encara-o. Será uma grande festa, quero fazer em outro local!

– Grande festa, outro local... Como assim? Conversamos...

– Que eu ia organizar tudo do meu jeito! O batizado será aqui... Mas, o aniversário não.

– Os dois serão aqui!

– Não! Não vou abrir mão disso...

– Licença! - se levanta da mesa e some na casa.

– Paula...

– Não vou fazer a vontade dele! Não vou. Já chega! - volta comer.

Passa o restante do almoço contando os detalhes da festa. Ao terminar, deixa Vitória com Dulce, pega o café de Vitor na cozinha e vai para o escritório, onde ele sempre se refugia dos problemas para fumar seu charuto.

– Não quero conversar!

– Não quero inúmeras coisas...- coloca o café na mesa. Mas, preciso fazer.

– Me deixa sozinho... Você sabe que quando peço isso, é porque realmente preciso.

– É... Mas, hoje não vai dar. - se aproxima dele.

– Precisamos conversar...- senta-se.

– Faça como quis esse aniversário, não tenho paciência para discutir essa besteira.

– O aniversário da sua filha é besteira?

– O aniversário dela não é besteira. Mas, o que a mãe dela está fazendo é.

– Só quero uma festa especial. Nunca fizemos nada...

– Por que essa festa em outro lugar?

– Vitor... Você já percebeu que está criando Vitória dentro do seu mundo? Nem a sua mãe ela vai... E não vai porque você não deixa ela sair daqui. Existe um mundo do lado de fora dessa porteira... Ela precisa respirar outras coisas, ver pessoas. Mas, não... Você e sua mania de achar que vai conseguir manter ela dentro de uma bolha o resto da vida não permite que ela viva.

– Ela só é um bebê...

– Não! Ela é uma criança como seus sobrinhos são. Mas, eles têm um pai que os deixa viver!

– Eles já são grandes!

– Nada disso! Leo sempre os deixou livres. Não ficava escondendo os filhos.

– Paula, não vou discutir com você! - vai para a janela e acende outro charuto.

– Sempre faço suas vontades...- se aproxima dele. Morar em Uberlândia...- começa pensar. Deixar de ver meus amigos, de fazer minhas festas... Criar Vitória sobre seus comandos... Já chega! Isso acabou.

– Você não sabe o que está dizendo... Pare antes que se arrependa.

– Sei! E para mim já deu.- se afasta. E tem mais... Ela vai comigo nos próximos shows e dane-se se você não deixar.- sai, batendo a porta fortemente.

– Aconteceu algo? - vem correndo ao ouvir o barulho da porta.

– Não...- respira fundo tentando se acalmar. Está tudo bem...- vai para fora.

– Diva...- Vitor abre a porta do escritório.

– O que foi? - repara que ele estava chorando.

– Peça pro Elias deixar meu carro pronto... Saio daqui dez minutos.

– Tudo bem...- vai fazer o que ele pede.

Vitor passa pela sala e observa pela janela Paula e Vitória sentadas no jardim. Respira fundo e segue adiante. Recolhe seu celular e carteira e retorna para parte exterior da casa.

– Obrigado Elias...- abre a porta do carro. Elias...- olha para o funcionário. Fique de olhe na Paula e na Vitória...

– Sempre, Vitor.

– Obrigado! - entra e liga o carro, saindo da fazenda.

Ao ouvir o barulho de um carro, Paula se levanta com pressa. Diva, que vem vindo com sucos para servi-las, já imagina o que houve.

– Diva...- Paula a olha.

– Sim, foi ele! - já responde.

– Meu Deus! - se entristece.

– O que aconteceu Paula?

– Disse coisas que não deveria... Que ele não merecia ouvir e muito menos ser culpado.

– O que você falou, filha?

– Mãe...- engole seco, pensando se deveria repetir o que falou.

– Paula... Quantas vezes já te falei para pesar o que diz?

– Eu sei! Mas, eu fiquei tão... Tão irritada com a maneira controladora dele!

– O que você disse a ele? - a encara.

– Que sempre faço as vontades dele...- lembra. Morar em Udi...

– Paula! - se espanta. Paula ele te deu a oportunidade de escolher...

– Mãe, eu sei! - senta-se novamente. Mas...- se preocupa com Vitor. O que fui fazer? Ainda disse que não via meus amigos, não fazia minhas festas...

– Meu Deus!

– Vou ligar para ele...- pega o celular e sai, discando o número do marido.

Vitor conecta o celular ao carro e ao ver que é ela, atende.

– Vitor...- se acalma por ele atender.

– O que foi Paula?

– Meu amor... Me desculpa... Tudo que eu disse foi da boca para fora!

– Você disse porque quis...- presta atenção na estrada.

– Vitor... Eu te amo tanto! Nada daquilo é mais importante que você e Vitória na minha vida. Só fiquei nervosa porque...

– Por que mais uma vez eu quis controlar sua vida?

– Não.... Vi...

– Paula, estou dirigindo. Tchau! - desliga antes dela falar algo.

– Caramba...- desliga o celular triste.

Vitor disca o número da mãe que atende de mediato.

– Mãe...

– Oi meu filho! Tudo bem? Não me ligou esses dias...

– Me desculpa... Estou indo para sua casa, ok?

– Claro! Estou te aguardando.

– Com quindim de calda de goiabada?

– E bolo de laranja com café forte!

– Minha mãe...- sorri.

– Está dirigindo?

– Sim...

– Então desligue... Estou te aguardando!

– Ok... Beijos. Te amo, mãe! - desliga.

Vinte minutos depois Vitor é recebido pela mãe com um abraço apertado.

– Estava com saudades! - olha para ela.

– Não parece! Nem me ligou...

– Desculpa, mãe... Aconteceu tanta coisa nesses últimos dias...- entram.

– Quer conversar?

– Quero, mãe... Preciso!

Marisa percebe que o filho não está bem. Vão para cozinha e ela a serve enquanto ele conta sobre a briga que tiveram antes dele vir. Pede ajuda para mãe...

– Paula é mais livre...- senta-se. Filho, não me leve a mal... Mas, ás vezes você precisa ouvir a Paula.

– Mãe...

– Filho...- segura a mão dela. Você tem saído para jantar com Paula? Para dançar como ela gosta? Custa muito deixar que o aniversário de Vitória seja em outro lugar? Não há problema nenhum em sair para passear com elas. Vitor não precisa esconder sua filha... Tão pouco sua esposa. Você vai desgastar o relacionamento assim. E você a ama tanto...

– É um medo terrível...

– Vitor... Sua filha é um bebê como qualquer outro...- sorri.

– Sim... O que eu faço?

– Confie. Tenha cuidados básicos, mas não excessivos. Sua filha será alvo da mídia até o ponto que você deixar. Esse cuidado não precisa ser dessa forma, tão exagerada.

– Reconheço que exagero um pouco...

– Então... Tenha paciência. Você e Paula tem brigado muito? Se quiser falar...

– Só quando não estamos transando.

– Vitor! - ri.

– Mas, é verdade...- come seu bolo. Toda hora achamos algo para brigar...

– E você está bem assim?

– Ah sim! Já não sei viver diferente disso. Brigamos por conta desse meu excesso de proteção... Mas, agora vou me controlar.

– Fiquei sabendo que você e Leo se estranharam também...

– Ele já te falou?

– Tati contou...

– Hum...

– O que aconteceu?

– Precisei vir embora mais cedo essa semana. Duas vezes.

– E por quê? Aconteceu algo grave?

Vitor olha para a mãe e pensa se deveria falar sobre o ocorrido. Ao ver que ela estava ali pelo bem dele, abre jogo.