12 anos em 12

Capítulo 166 - A casa


Passam mais alguns dias em Ilhabela, aproveitando que uma equipe estava organizando a mudança para Belo Horizonte. Ao chegarem em Uberlândia, separam as últimas coisas e começam a despachar nos últimos caminhões, já de madrugada.

— Pulinha…? - a procura.

— Estou aqui! - o vê.

— Vem aqui…- chama.

— O que?

— Onde coloco? - mostra pra ela.

— Que isso? - ri ao ver o embrulho.

— É para nossa nova casa! Mando nos caminhões ou levamos no carro?

— Deixa eu ver o que é…- vai pegar a peça, mas ele afasta.

— Ainda não! Só na parede nova da nossa nova casa.

— O que é isso? É um quadro… O que tem nele?

— Uma foto…- pensa.

— Uma foto? - ri - Espero que não seja as fotos ocultadas do seu celular…

— Estragou a surpresa! - a encara.

— Vitor…- fica preocupada.

— Não é, né Paula! - ri.

— Sei… - sorri. Me deixe ver?

— Não! Só na parede…

— Nossa… Como você é chato ás vezes… Enfim… Coloque nos caminhões, já temos muita coisa para levar nos carros.

— Acho melhor não! Vai que quebra…

— Por que quis minha opinião?

— Por que você está brava?

— Você é irritante! - se retira e ele vai atrás.

— Já chamou a Bia e o Monteiro pro bolinho da Francesca?

— Já!

— Vamos falar do batizado no aniversário… Fazer o convite?

— Sim! - volta mexer em algumas coisas.

— Minha mesa de poker acabou de sair…- olha pela janela. Nossa adega lá ficou linda! Me mandaram as últimas fotos. Mandaram para você?

— Não… Deixa eu ver! - vai até ele. Que lindo! - sorri. Como a gente planejou! Até melhor…

— Olha a mesa…- mostra. Bem maior! - pisca para ela.

— Quanta indecência! - riem.

— O que é indecente? - Marisa se aproxima com o neto no colo.

— Filho… Vovó está cansada! - pega ele.

— Vitor, tinha uma mala sua, uma azul, lá fora… Eu coloquei no caminhão!

— A azul? Mãe… Aquela mala eram as roupas que eu estava vestindo… Separei ela para levar no carro… Agora vou vestir o que para viajar?

— Impossível eu saber… Você bagunçou tudo lá! - sai do quarto reclamando e ele atrás.

Paula volta organizar as últimas malas com o filho a ajudando separar as peças. Não demora muito e as filhas também chegam. Termina os últimos detalhes e coloca no carro.

— Essa é a última…- entrega para Vitor que organiza no carro.

— O que foi? - olha para ela chorando.

— Nada…- enxuga as lágrimas.

— Uai, Pulinha…- vai até ela, a abraçando.

— Vou sentir falta daqui… Vivemos muita coisa nessa lugar. Não tem como ir embora daqui sem sentir o peito doer…

— Paula…

— Quero muito ir para BH… Mas não muda o fato deu estar já com saudades dessa fazenda!

— Viremos sempre que possível! Leo mora aqui em Uberlândia ainda, vamos visitá-lo e então ficaremos aqui na fazenda. Olha…- vira o rosto dela para ele - estamos começando do zero novamente, em um novo lugar, com nossos filhos, com nossa família, nossos amigos que embarcaram nessa com a gente. Seremos tão felizes quanto fomos aqui!

— Sim! - ri enquanto chora. Estou ansiosa para ver como está lá!

— Também estou…- sorri. Por isso… É hora de irmos! Diva me telefonou e disse que já até preparou nossa comida para quando chegarmos. - riem. Vamos pegar as crianças?

— Vamos!

Seguem juntos para dentro da casa, já vazia. Ficam algum tempo observando aquela vastidão e ouvindo o eco das vozes dos filhos correndo pelo corredor. Se emocionam, agradecem em silêncio por todo momento ali vivido e com Dulce e Marisa, se despedem da fazenda hortense.

Paula seguiu em seu carro com a mãe, Antônia e Francesca enquanto Vitor seguiu no dele com Marisa, Vitor e Vitoria.

Após uma longa viagem, com muitas paradas, muito desgaste, finalmente chegam em Belo Horizonte.

— Graças a Deus! Chegamos… - sorri. Sãos e salvos!

— Amém! - estaciona o carro. Meu Deus… Havia me esquecido o quanto era longe e cansativo dirigir entre Udi e BH! Vitor deve estar quebrado…

— Sim! - ri, tirando o cinto. As meninas seguem dormindo… - olha as netas.

— Francesca deu um show…- olha a filha. Ainda bem que dormiu!

— Tiramos elas?

— Sim mãe… Vamos colocar na sala e quando acordarem, mostramos os quartinhos para elas. - desce do carro.

— Paula…- olha-a de seu carro. Acho que não conseguirei descer…

— Se vire! - começa rir. Antônia e Francesca estão dormindo…- vai até o carro dele. Oi amores…- vê os filhos. Vamos descer e conhecer nossa casa?

— Mãe…- desce do carro. Vou ter um quarto de novo?

— Sim filha! - ri. Jaja vamos te mostrar… Nos ajude aqui! Desce seu irmão…- a vê ajudar Vítor descer.

— Não dormiram um segundo sequer… - Marisa desce.

— Com Vitória tagarelando a todo instante…- Vitor começa a descer as bagagens.

Beatriz e Monteiro se aproximam, para a surpresa de Paula e Vitor.

— Viemos recepcionar nossos vizinhos! - riem se abraçando.

— Nem acredito que estou de volta! - se emociona nos braços da amiga.

— Está sim, franga! Vamos aproveitar muito agora, juntinhas.

Se cumprimentam todos e começam a descarregar as malas. Elias logo se aproxima e também ajuda. Se encontram com Diva, Lucy e Lidi na nova cozinha, que já comentam sobre suas casas e demonstram muito entusiasmo em estarem morando na nova cidade.

— Já estou sentindo falta da Sol, sabia? Fiquei triste por ela não vir… Mas feliz por ela ficar lá na fazenda cuidando de tudo.

— Pois é Paulinha… Mas ela preferiu assim.

— Sim!

— Mãe… A gente pode ir conhecer os quartos?

— Vamos! - ri.

Começam a olhar a casa e Paula se emociona. Vitória pula de alegria ao conhecer seu novo quarto e Vitor não fica atrás. Olham o de Francesca e Antônia e se encantam também e por fim, chegam a suíte principal.

— Aiaiai…- entram rindo. Meu Deus…- sorri.

— Que perfeição, filha! - sorri. Amei…

— O jogo de cama veio! - ri ao ver. Pensei que não chegaria para hoje… Gostou? - olha para Vitor.

— Amei! - ri, emocionado. Ficou perfeito… Vou colocar o quadro aqui…- mostra a parede.

— Cadê esse quadro pra mim ver? Já estou curiosa.

— Vou buscar!

Vitor vai até o carro e pega o quadro. Leva ao quarto e entra para ela que ao abrir não acredita.

— Vitor! - ri. Quando fez isso? - olha para ele. Inacreditável…- passa a mão. É tão perfeito…

— Eu tirei a foto antes de viajarmos e fiz o desenho em uma madrugada!

— É lindo, Vitor…- cumprimenta o genro. Vai ficar perfeito na parede de vocês…

— Está lindo mesmo filho! Você é muito talentoso…

O quadro é um desenho feito a partir de uma foto de Paula sorrindo, descontraída. Colocam na parede e ela imita o desenho para que ele tire uma nova foto mostrando a nova decoração.

Organizam a casa aos poucos, com a ajuda de uma equipe e das mães. Os dias vão passando e as coisas vão tomando forma, porém alguns imprevistos na reforma e na decoração, vai deixando Paula nervosa. O aniversário de Francesca chega e eles preparam um jantar para família e amigos no jardim da nova casa.

— Filha, calma! - tenta colocar o laço. Francesca…- respira fundo. VITOR? - o chama.

— Estou aqui! - aparece. Não precisa esse escândalo! - abotoa a camisa.

— Escândalo é o que essa criança está fazendo… Não me deixa arrumar ela! Me ajuda…

Vitor segura a filha para que ela coloque o laço, saindo com ela em seguida para a área externa para que Paula se arrume. Os outros filhos já estavam prontos e já se divertem com os primos.

— Cadê Paula? - se aproxima.

— Se arrumando!

— Tudo bem?

— Sim… Por quê?

— Parece não estar bem!

— Só cansado… E estressado com tanto estresse da Paula! Ou essa casa fica pronta logo, ou a gente se divorcia… Porque nunca vi tanta implicância em uma pessoa só por conta de pouca coisa.

— Me dê Francesca…- pega do colo dele. Vá beber algo, relaxe e depois volte! Está visível que você não está bem. As pessoas não precisam saber.

Ele retorna para a cozinha e começa procurar um whisk.

— Segunda porta… No armário à direta! - o observa.

— Hum… - pega.

— Está difícil assim permanecer comigo?

— Paula…- respira fundo. Por favor, não faz cena!

— Certo! Pelo menos hoje a gente vai agir como um casal normal, feliz - sorri de forma forçada - é aniversário da nossa filha… Depois nós conversamos! - se retira.

Ela vai para fora e se encontra com a família. Sorri para todos como se nada estivesse ocorrendo, mesmo estando perceptível o cansaço e o mal estar entre ela e o marido. Ele chega no jardim e começam tirar fotos com os filhos, com as mães, tios, e todos os presentes. Em certo momento Vítor vai até a mesa do irmão com a filha no colo.

— Me deixa pegar? - se levanta. Fofurinha da tia! - pega.

— Tudo bem? - pergunta pra Vitor.

— Sim! - sorri.

— Se eu perguntar para a Paula vai ser a mesma resposta?

— Vai!

— Já entendi…

— Só estresse do dia a dia… Dessa casa que não fica pronta e acaba com o humor dela e consequentemente o meu.

— Carol está ajudando… Logo vai terminar!

— Você não conhece Paula quando o assunto é revestimento de parede, cor de janela, tecido das cortinas… Um fio que vem errado ela passa dois dias reclamando, berrando! - bebe o whisk de uma vez.

— Vitor, chega…- pega o copo dele. É o aniversário da sua filha… Você vai precisar cantar parabéns ainda!

— Sim… Estou bem! Só bebi dois copos até agora.

— Não bebe mais.

— Não vou! Acredita que estou dormindo no quarto de hóspedes? Porque não podemos usar nossa cama enquanto ela não dedetiza tudo novamente, já que ela encontrou um escorpião na porta do nosso quarto no dia que chegamos aqui. E as crianças dormem com a gente… Os quatro! Aí eu vou para o chão e ela fica na cama com eles.

— Vitor… - olha para o irmão.

— Não consegui usar a adega…

— É só uma casa… Calma…

— Não Leo! - o encara - é o meu casamento! Ela quis vir para BH, eu topei e viemos. Fizemos tudo como ela quis. Pensei que ela estaria feliz e faz quase um mês que estamos aqui e até agora ela só fez reclamar. De tudo. Ontem foi porque ela descobriu que uma das madeiras do revestimento da parede da sala de jantar está torta. E quem ficou responsável pela sala de jantar? Eu! Então imagina o que passei.

— Você também é chato para decoração de casa…

— Eu? A única coisa que eu pedi foi madeira…

— Tá bem! - ri, batendo nas costas dele.

Vítor fica irritado com o irmão e sai de perto, indo cumprimentar uns amigos que haviam chego. Na cozinha Paula procura por uma louça.

— O que quer Paulinha?

— Aquela louça branca, Diva… Para colocar na mesa…

— Já levei para lá…

— Ok, obrigada! - sai, passando pela sala de jantar. Odeio você! - aponta para a madeira torta.

— Paula…- Dulce se aproxima. Pare de encarar essa parede!

— Não é a parede, é só essa madeira! Me dá nos nervos ver torto assim…

— Vitor já está com cara de quem comeu e não gostou… Por favor, não faça igual!

— Nem comendo ele está!

— Paula!

— O que? Estou cansada! - senta-se. Não imaginei que me estressaria tanto.

— Você precisa se controlar, filha… Nem tudo tem como ser perfeito. E precisa relaxar, voltar as crianças para os quartos e voltar para o seu quarto! Não dá para ficar sem dormir… E Vitor não pode continuar dormindo no chão. Já não tem mais bicho aqui, Paula…

— Eu não sei… Eles não terminam nunca de dedetizar!

— A casa é grande… Demora mesmo! Mas, você ouviu o rapaz dizer que já poderiam voltar para o quarto.

— Não me sinto segura enquanto não concluir tudo.

— Posso dormir com eles no meu apartamento! Aí você fica com Vitor, ficam mais a vontade, sozinhos… Aproveitam a casa!

— Você acha mesmo que vamos conseguir nesse clima que estamos? Parece que entrei com pé esquerdo aqui. Nem nossa cama a gente estreou…

— Como se vocês usassem só cama!

— Não mãe! Lugar nenhum a gente usou aqui. Fica tranquila…- levanta-se. Vamos voltar para lá… Daqui a pouco vou pedir para servir.

Monteiro, Beatriz e as filhas estão com Francesca e Antônia na mesa enquanto Carol já estava com Vitória e Vitor, conversando. Ela vai observando os filhos e não se dá conta do garçom, trombando no rapaz e derrubando champanhe em si.

— Me desculpa! - se assusta. Por favor…

— Eu quem peço desculpas! - olha para ele. Está tudo bem, estava distraída e bati em você! - sorri. Está tudo bem… Pode continuar servindo!

Ela retorna para o quarto pisando alto. Retira o vestido e entra no closet, procurando outra roupa.

— O que houve?

— Onde estava? - se assusta ao ver ele.

— No banheiro! Por que está nua? Tinha um escorpião no vestido?

— Não estou nua… Só estou sem sutiã, procurando uma roupa já que acabei de me molhar de champanhe. E não precisa ser tão sem graça…

— Paula…

— Vitor, por favor! Já chegamos ao nosso limite hoje… Já estou com raiva de mim por não estar curtindo a festa, por não estar fazendo valer a pena as memórias que a Francesca vai levar desse dia… Então, chega… Não vamos brigar de novo.

— Não estou bem!

— E quem está? - pega um outro vestido. Ainda bem que tenho esse! Não estamos dormindo, estamos estressados, cansados, nervosos… Como vamos estar bem?

— É…

Ela coloca a roupa e pede a ajuda dele para amarrar nas suas costas.

— Pode apertar mais…

— Assim?

— Isso! Está bom… - se olha no espelho enquanto ele conclui.

— Pronto! - acaricia os ombros dela. Está linda!

— Obrigada… - fica sem graça.

— Estou com saudade da gente… Sem se preocupar com casa, madeira, cortina…

— Madeira, cortina, escorpião faz parte da nossa vida, a gente precisa se preocupar!

— Você entendeu! - se afasta.

— Entendi… E também sinto falta de nós dois, do sexo, dos momentos sozinhos! Pensa que eu gostaria de estar tão estressada e nem ter estreado nossa cama nova?

— Pulinha…

— Por que ás vezes eu penso que você acha que faço isso por gosto!

— Tá bom…- desiste de falar. O presente da Bia e do Monteiro, guardei ali… - aponta. Vai entregar já?

Ela pega e saem do quarto. Pedem para servir o almoço e aproveitam o momento para convidar Monteiro e Beatriz para serem os padrinhos da filha, deixando-os muito emocionados com a responsabilidade. Após o almoço, tiram mais algumas fotos e seguem para cortar o bolo, colocando Maria na videochamada para participar do momento. A filha faz muito farra vendo os irmãos animados cantando, o que deixa os pais imensamente felizes, esquecendo dos problemas ao menos naquele momento.

Algumas horas depois o último convidado sai da festa e eles podem finalmente descansar.

— Mãe… a gente pode abrir? - olham os presentes.

— Coloquem no chão para ela abrir junto!

— Vem, Cacá… - chama a irmã. Vamos abrir seus presentes lindos…- começa jogar os embrulhos no chão da sala de TV.

— Eu quero, pai! - vê o pai chegar com bolo.

— Bem que dizem que pai e mãe não morrem engasgados! - ri. Senta aí…- senta-se no chão com o filho.

— Olha mãe! - abre o presente. É uma bonequinha! - sorri.

— Sim! Linda… Olha lá filha…- mostra para Francesca. Dê para ela ver Nini…

— Aqui…- coloca no colo da irmã. Acho que ela não gostou! - ri da bebê jogando a boneca de lado.

— Ela quer o embrulho…- riem.

Terminam de abrir os presentes rindo das estripulias da filha com os embrulhos. Paula banha os filhos com a ajuda da mãe e se convence de colocá-los para dormir em seus quartos, após olhar várias vezes todos os buracos possíveis. Dulce segue para o quarto de hóspedes com Vitória que quis dormir com ela, e Paula vai para o seu tomar banho.

Arruma-se, prepara a cama e retorna na sala procurando por Vitor, mas não o encontra, voltando para seu quarto sozinha.

Horas mais tarde ele vai para dentro, procura por ela no quarto de hóspedes em que estavam dormindo e não a encontra. Vai para o seu e a vê dormindo já, com as babás eletrônicas na mão. Retira dela, coloca sobre a mesa lateral e a cobre.

Na manhã seguinte ela acorda e não encontra ele na cama. Começa se preocupar e sai até os quartos dos filhos e também não acha as crianças.

— Bom dia! - os vê na cozinha.

— Mamãe acordou… - segura Francesca que se vira para ela.

— Oi! - a pega sorrindo.

— Mãe… Olha…- mostra o pão. Tem caretinha! - ri.

— Sim! Quem fez? - sorri.

— Papai… - come. Comi o nariz! - ri.

— Onde você dormiu? - olha para Vitor.

— No nosso quarto! Você estava capotada… Nem me viu chegar. - vai até a pia. Antônia me acordou as 7 da manhã, querendo mamadeira!

— Entendi…

— Nossa cama é maravilhosa, por sinal!

— Sim! Indicação do seu primo…

— Vou agradecer!

— Onde estava ontem a noite? Te procurei para ir deitar…

— Estava lá fora… Precisava de um ar!

Ela se retira da cozinha e arruma-se. Durante o dia atende alguns compromissos, conversa com o produtor do seu novo disco e resolve mais pendências da casa com Carol.

— O que você acha?

— Eu adorei, Carol… - sorri.

— Você está bem? Podemos ver depois…

— Estou, estou! Imagina… Não vou tomar mais seu tempo. Você é uma design de interiores muito requisitada! - riem - Não posso ficar ocupando sua agenda toda hora.

— Você sabe que não é um problema isso! Não se preocupe. Então eu realmente posso voltar outro momento… Ou finalizamos por videochamada mesmo. Só volto para Uberlândia semana que vem.

— Só estou um pouco cansada… Mas, quero concluir isso logo!

— Tudo bem! Vamos lá então… O Vitor comentou que queria as portas azuis cobalto, como de fazenda!

— Sim! Eu acho lindo também…

— Podemos fazer para o lado exterior essa cor e por dentro deixamos o branco.

— Prefiro assim mesmo!

— PAULA? - grita. PAULA, CORRE AQUI!

— O que é isso? - se levanta correndo. O QUE HOUVE? - o encontra na sala com Francesca.

— PEGA O TELEFONE… ELA ESTÁ ANDANDO!

— QUÊ? - pega o celular correndo e começa filmar. MEU DEUS!

— Filha… Vem com o papai! - chama ela. Vem…- estende os braços. Vem, amor…- chama.

— Cacá, vem…- Vitória chama ao lado do pai. Anda!

Os irmãos começam a chamar a atenção da bebê que segue na direção deles, mas cai após três passos.

— Parabéns, meu amor! - Vitor a pega. Você já está quase andando filha… - a beija.

— Já está crescendo! - vai até eles. Rápido demais! - beija a filha emocionada.

— Mãe, você gravou também quando andei?

— Gravei sim! - ri. Depois a mamãe te mostra… Gravamos você e seus irmãos… Todos pitoquinhos andando pela primeira vez! - sorri.

— Ela não é mais bebê agora?

— Até vocês são bebês! - pega Antônia no colo.

— Eu não! - ri.

— São sim! - riem. Para mim serão sempre! Me recuso acreditar que cresceram…- beija os filhos.

— Vai com a mamãe, filha…- entrega Francesca.

Vitor se retira da sala, visivelmente emocionado. Paula o observa de longe chorar, mas deixa-o. Carol se junta a ela e as crianças e ficam no chão da sala jogando conversa fora até serem chamados para tomar café da tarde.

— Vitor, vá chamar o papai para comer…

— Tá…- sai.

— Sei que não somos tão próximas ainda, mas quero que isso aconteça - riem - mas, posso perguntar se está tudo bem?

— Carol…- bebe um pouco de café - Está sim… Bom, está normal. - pensa - Na verdade, não está. Porque não posso dizer que está normal quando estamos estranhos, estressados, sem dormir! - ri. É a nossa realidade há quase um mês…

— Entendo… A casa tem tomado o tempo de vocês…

— E a paciência! Nunca teria saído de Uberlândia de soubesse que passaríamos tanto estresse ao chegar aqui. Por mais que eu ame estar aqui!

— Não, não! - segura a mão dela - Não posso permitir que você pense isso… Trabalho com isso há anos e sei o quanto realmente estressa. Mas, a partir de agora você pode deixar tudo comigo! Vou prolongar minha estadia aqui e vou finalizar essa casa.

— Carol…- sorri. Leo não vai gostar disso… Vocês precisam retornar para…

— Paula! - a interrompe - É meu trabalho! Fica tranquila… A partir de hoje você não precisa se preocupar com luz, com porta, com cor de janela, cortina… - riem - Eu vou resolver tudo. A questão da dedetização também.

— Aceito! - sorri. Mas precisa me deixar te pagar…

— Não…

— Se eu não puder pagar, não aceito! Porque é um trabalho e você vai assumir tudo que está sem resolver ainda… Por favor!

— Está bem! Mas, depois falamos disso, ok?

— Tudo bem! - sorri.

— Olá! - chega.

— Oi! - sorri. Que bom que vieram! - se levanta. Tudo bem? - cumprimenta a cunhada Paula e Rafael. Sentem, estamos tomando café! Marisa veio? - senta.

— Sim! - senta. Está chegando aí… - ri.

A irmã de Vitor juntamente com a mãe e o marido, chegam na fazenda e aproveitam para tomar café da tarde com eles. Leo chega pouco tempo depois e se junta a eles. Conversam por um bom tempo, relembrando a infância com os familiares em BH. Marisa coloca a neta para tentar andar e é presenteada com alguns passos da bebê.

— Francesca não é mais um bebê!

— Ah, é sim! Pode parar…- segura a neta, beijando. São todos meus bebês! - riem.

No cair da noite se despedem, rumo a cidade, planejando jantarem em um restaurante mais tarde. Dulce chega na chácara para ficar com os netos, após passar o dia em seu apartamento.

— Como foi o dia?

— Foi bacana! Os irmãos do Vitor estavam aqui até agora pouco… Nos chamaram para jantar mais tarde.

— Que bom… Vocês irão? Já vim para ficar com as crianças mesmo.

— Não sei… Vou conversar com Vitor.

No quarto encontra-o no closet procurando uma camisa.

— Vou para cidade… Nos encontramos lá?

— O que vai fazer na cidade? - estranha.

— Resolver umas coisas…

— A essa hora?

— Alexandre só conseguiu agora… Vou estar no escritório dele, mas é rápido! - coloca a camisa. Depois nos vemos no restaurante com meus irmãos… Pode ser?

— Não queria dirigir sozinha… Enfim… Que seja! - sai, chateada.

— Vai ser rápido, Paula… Vou estar no restaurante quando você chegar lá! - segue ela.

— Não se preocupe. - entra no banho.

Ele se despede dos filhos e sai de casa. Dulce estranha, mas não se envolve. Quando Paula termina seu banho se depara com a mãe e os filhos em seu closet.

— Estávamos vendo uma roupa para você ir! - ri.

— Não vou…

— Vai sim! - se levanta da poltrona. Olha esse vestido…

— Mãe, por favor!

— Vitória, leva seu irmãos para a sala de TV… Jajá a vovó chega lá. - espera a neta sair com os gêmeos. Paula… Você não vai deixar ele ir jantar sozinho com os irmãos! Você não deixar que a família dele pense que vocês estão mal.

— Eu? Não tenho que ter essa responsabilidade.

— Filha… Você sabe que há pessoas que aguardam uma brecha no seu relacionamento para se meterem…

— Mãe…

— Por favor! - a interrompe.

— Faça isso por você! Se arrume, muito bonita! Use e abuse da maquiagem, coloque aquele vestido ali e esteja mais bonita que todos naquele lugar.

— E se ele não for?

— Ele vai! São os irmãos dele. Talvez ele pense que você não irá… E é aí que você vai mostrar para ele que acima de tudo você sabe quem é e que não vai deixar nada te abalar.

— Com coisa que ele se importa… - começa se secar.

— Ele se importa! Ele foi de uber… Ele quer voltar com você no carro.

— Ou nem quer voltar…

— Por isso você vai! Se ele não quiser voltar, que se dane para lá… Né, amorzinho? - olha para a bebê que ficou no seu colo. Deixa o seu pai para lá se ele quiser desperdiçar sua mãe!

— Fica parecendo que sou um objeto!

— Aí Paula… Não começa! Se arrume… Vamos te esperar na sala.

Pensa em tudo que ouviu e mesmo sem entender bem o que a quis dizer, resolve ir. Arruma-se com o vestido que os filhos escolheram.

— Mãe… Você está linda!

— Oi! - ri. Vem aqui…- vê a filha na porta.

— Eu amei seu vestido de borboleta! Você guarda pra quando servir em mim?

— Filha…- ri - Mamãe vai guardar tudo para você e suas irmãs, tá bom? As roupas, os sapatos, as bolsas…

— As maquiagens…- mexe nos pincéis.

— Também! - sorri. Tira uma foto da mamãe?

— Sim! - pega o telefone da mãe.

Antônia tira várias fotos da mãe, se divertindo como fotógrafa.

— Vou mandar pro meu pai! - manda.

— Não filha! - olha para ela.

— Por que? Você está de mal dele? Eu tô de mal da Vitória…

— Por que? - a pega no colo.

— Você acredita que ela foi no meu quarto, pegou a boneca que o papai me deu e deixou jogada lá fora?

— Filha…- a acaricia. Vou conversar com ela depois. Mas, não fique de mal dela… Irmãos não podem ficar de mal.

— Você e o papai também não!

— Não estamos! - sorri. Inclusive, mamãe precisa ir se encontrar com ele….

— Tá bom…- desce do colo da Paula.

Vai até a sala e Vitória fica encantada com o vestido de borboletas. Ela conversa com eles e segue para a cidade. Ao chegar no restaurante, encontra o marido na entrada.

— Estava te ligando…

— Descarregou e só vi no carro… Antônia estava mexendo!

— Ela quem me mandou a foto? - sorri.

— Foi! Seus irmãos já chegaram?

— Ainda não… Vamos entrar?

— Vamos…

— Você está linda! - segura a mão dela.

— Obrigada! - sorri - As crianças que escolheram…

— Vamos sentar ali…- aponta.

— É a mesa dos seus irmãos?

— Não… Eles não vem!

— Como assim? - estranha.

— Cancelei…- puxa a cadeira para ela. Na verdade só adiei… Vamos jantar com eles amanhã. Hoje, vamos jantar sozinhos…

— Como tinha certeza que eu viria? - senta.

— Liguei para sua mãe…

— Desconfiei! Ela estava estranha demais.

O maître os serve com o vinho preferido de Paula. Fazem os pedidos e aguardam.

— Quis que jantássemos sozinhos hoje porque precisava conversar com você… - a olha.

— Conversar…? - se preocupa - Não gostei do seu tom de voz… Me chamou aqui para pedir o divórcio?

— Quê? - começa rir. Por mais que estejamos brigando nos últimos tempos, não há razão para termos um divórcio, né? A não ser que exista outra pessoa na sua vida! - provoca.

— Ah Vitor… Me erra! - se irrita. Eu ouvi você conversando com minha mãe ontem…

— Foi só um modo de me expressar, exatamente por estarmos mal por conta da casa.

— Não sei! Ás vezes eu não sei o que passa na sua cabeça.

— Você não acredita que eu te ame?

— Vitor…- respira fundo - Amor não sustenta um casamento! Você sabe disso. É óbvio que nos amamos muito… Jamais duvidaria disso. Temos algo em nós que só Deus explica. Acontece que a gente tem se desentendido tanto e eu não sei mais o que fazer!

— Temos nos desentendido por conta da casa! E é por isso que te chamei aqui… Precisamos tomar uma decisão… Ou colocamos tudo na mão de alguém e você aceita que as coisas não saem perfeitas mesmo, ou a gente procura ajuda Paula para suportar até o fim da reforma… Tudo que menos quero nessa vida é me distanciar de você. Preciso de você. Então precisamos dialogar sobre isso…

— Carol fará isso! Ela se ofereceu hoje para organizar tudo, ficar responsável por tudo. Vai ficar mais dias aqui em BH e vai concluir o que falta.

— Sério? - se surpreende. Nossa Pulinha… Me aliviou até a alma agora. Que ótimo que ela tenha se disponibilizado para isso. Estava até - pega o telefone - procurando algumas empresas que pudessem assumir isso…- mostra pra ela - mas sendo a Carol é muito melhor porque ela entende o que queremos. Ela aceitou receber?

— Sim! Eu falei que só aceitaria que ela assumisse esse compromisso se aceitasse. Ela já estava nos ajudando e não seria justo.

— Exato! Estou feliz que ela tenha aceitado.

— Sim…

— Você não está bem ainda…

— Não é isso! - bebe um pouco de vinho.

— E o que é? Pensei que conversarmos sobre isso, que acharmos ajuda resolveria nossa situação… Mas, você está aí… Com essa cara…

— Estou bem… Só fico meio… O que está havendo com a gente? Não era pra uma simples reforma conseguir tirar a gente do juízo ao ponto de colocar o assunto divórcio em pauta!

— Paula… Não cogitamos o divórcio!

— Você cogitou!

— Meu Deus Paula! Sério isso? Eu fiz um comentário com sua mãe só explanando o que eu estava sentindo… Foi só uma expressão!

— Você se distancia de mim se discordo de algo, ou se estou…

— Paula, chega!

— Está vendo?

— Só evito que a discussão vá para um rumo nada ver… Como está ocorrendo agora. Parece que você está achando uma razão para gente não se entender.

— Não! Só estou tentando entender porque a gente se desentende por tão pouco…

— Isso acontece com todo casal! Não dá para esperar que a gente tenha uma vida perfeita, sem discussão, sem briga, sem desentendimento! Somamos tudo que estávamos passando ao fato de não estar dormindo como deveríamos, não estávamos transando como deveríamos, estávamos lidando com a adaptação das crianças… Então… Não é pouca coisa! Só estamos cansados e chateados por coisas saindo do nosso controle!

— É! - se serve e bebe uma taça de vinho de uma vez.

— Pulinha… - observa. Vai com calma!

— Não posso beber um pouco mais do que o costume? - bebe novamente.

— Pode… É que… - se aproxima dela - Não gosto de fazer amor com você assim…

— Sabia que não seria de graça esse jantar… - ri.

— Pelo amor de Deus… Precisamos voltar à nossa vida sexual de antes! Esquecíamos um pouco dos problemas…

— Vou concordar! - riem. Tudo bem… Já deu de vinho…- afasta a taça. Para onde iremos?

— Para casa… Temos uma adega lá…

— Vamos para o seu apartamento… Você ainda tem a chave, né!? Sua mãe não está lá ainda… Estavam instalando os móveis.

— Tem certeza que não quer ir para casa?

— Sim… Nossa casa quero usar pela primeira vez quando estivermos sozinhos! Para usarmos cada cantinho como deve ser…- riem.

— Tudo bem… - sorri. Vamos para o apartamento! Tenho boas lembranças de lá…

— Vamos?

— Não quer sobremesa?

— Amor… Vamos… - se levanta - nem você quer a sobremesa!

— Não quero mesmo! - faz o mesmo.

Vitor paga a conta e seguem para o apartamento dele. Já no elevador, sozinhos, beijam-se sem qualquer preocupação alheia.

Saem tropeçando em si mesmos e antes mesmo de fecharem a porta do apartamento, Paula se livra da camisa dele.

Jogam-se no sofá da sala de TV e se despem da pouca roupa que havia restado e de toda a mágoa que poderiam estar um do outro pelas últimas semanas. Do sofá se enrolam no chão e grudam uma alma na outra, aproveitando a acústica do cômodo para não se privarem de falarem alto o quanto se amavam e gemerem o prazer que um causava ao outro, como ninguém. Não se preocupam com a hora e ali mesmo, nus, adormecem nos braços um do outro.

Já pela manhã Carol, que também estava responsável pela obra do apartamento, segue para o prédio juntamente com Leo e Marisa que iria decidir o lugar dos móveis. Ao chegarem na porta ela percebe que está aberta e então começam a se preocupar.

continua…