1001 cartas para chegar até você

Capítulo 2 – A história continua...


Dormiu mal pensando sobre a conversa maluca que teve com DC. A identidade do remetente era um segredo, ainda que estivesse bem óbvio quem teria escrito aquilo. Duvidava que pudesse ter sido outra pessoa que não o Do Contra. Ponderava sobre o assunto: ele não mentiria, certo? Ainda que ele fosse um poço de sinceridade, ele optava por dizer a verdade da forma que queria, omitindo o que achava irrelevante e muitas vezes subvertendo a ordem e o sentido das palavras. Ele podia ser bem confuso, principalmente quando queria. No entanto, isso nem era o pior... O que ela precisa que ele dissesse era o motivo pelo qual tinha mandado a carta. Não saber isso realmente a perturbava.

Na manhã seguinte, Mônica tinha as olheiras da noite de divagações. Seu pai e sua mãe não comentaram, mas tinham percebido. Ela aproveitou o silêncio e o constrangimento para se apressar. Tomou café mais rápido possível e foi para a escola. Lá, a primeira pessoa que encontrou foi Magali que ainda estava na entrada. Correu até ela, abraçando-a procurando conforto. Precisavam conversar e o melhor seria aproveitar que estavam só as duas lá antes da aula começar. O olhar de Mônica era triste e distante, por causa da noite mal dormida, ou da lição malfeita. Magali falava distraidamente sobre a matéria e de como fez uns exercícios a mais para ver se tinha entendido bem, mas...

— Aconteceu alguma coisa diferente na sua vida? – Mônica pergunta-a repentinamente.

— Tipo? – Magali rebate, sem entender a pergunta.

— Não sei, qualquer fato anormal, diferente...

— Não, por quê? Na sua aconteceu? – O sorriso provocador e a sobrancelha levantada da amiga fizeram Mônica recuar.

— Não, nada não... – desconversou sem graça. A carta foi só para ela então? – É que muitas aventuras acontecem com a gente no normal. Essa rotina, onde nada acontece, isso é estranho, né? Sei lá, falta uns monstros do espaço, corporações do mal tentando dominar o mundo, um crime, um mistério, bruxaria... – o tom desconcertado era incriminador.

Magali riu alto.

— É, nossa vida de adolescente é bem agitada mesmo. Mas é bom um pouco de “nada”, não? Faz a gente curtir mais as aventuras quando elas acontecem. Além do mais, ninguém suporta perrengue todo dia... Temos que agradecer a vida. Até quando ela é “chata”, é especial... A rotina tem sua magia, está em tudo tão vivo e em movimento...

— Que poético.

— É. Poesia faz parte quando se acorda de bom humor, depois de uma noite bem dormida...

— É... Ou quando se tem um dia bom... Nenhuma relação com o fato da primeira aula ser de Biologia... – provocou Mônica, fazendo Magali corar.

— Não... Desta vez, só em parte... O Quim tem testado umas receitas bem gostosas e me pediu para experimentar. Tomei café com os pãezinhos doce que ele fez. Sinceramente, cada dia melhor.

As duas riram. Parecia um dia normal. Aulas maçantes, exercícios difíceis, matérias chatas, nada em que Mônica queria focar naquele momento. Uma parte da cabeça dela ainda estava na história da “carta”, se é que podia chamá-la assim. Um conto curto de final aberto que convidava para o próximo. E teria próximo? Conhecendo o DC, nada estava garantido. Mesmo que ele não admitisse, ela sabia quem era o remetente de tão estranha correspondência...

Um pensamento a atravessou subitamente: Mônica podia investigá-lo! Saber o que ele fazia na rotina ajudaria a descobrir quando a colocava na caixa de correio para confrontá-lo sem escapatória. Sim, mas isso só faria sentido se houvesse mais de uma carta, se ele planejasse contar a história toda... Se aquilo fosse como um raio que só caísse uma vez no lugar, então, tchauzinho para a continuação da história. Uma pena. Parecia uma história até legal... Obrigou-se a prestar atenção na aula e evitar aqueles pensamentos “pecaminosos”. Riu do adjetivo, mas condenando-se levemente por se encaixar perfeitamente à sua situação.

No fim das aulas, despediu-se logo da turma, dando alguma desculpa esfarrapada. Apressou-se para chegar em casa logo e certificar-se que a história continuava. Nada na caixa de correio. Não podia esconder a decepção. Talvez a mãe tenha pego antes?

Entrou em casa e viu-se sozinha. Sua mãe não devia ter voltado da feira ainda. Observou onde ela teria colocado a carta se tivesse alguma. Na entrada, na cozinha, em cima da mesa, dentro da fruteira... Nada. Quem mandou a primeira carta ainda não tinha mandado a segunda. Suspirou. Talvez nem mandasse nenhuma. Ou mandasse para outra pessoa da turma. Precisava esperar... Sozinha, pensou em verificar novamente a carta que recebera. Estava lá, em cima de sua escrivaninha.

Releu-a passando rapidamente os olhos por alto. A escrita era rebuscada, quase pedante, mas a trama continha um mistério que a tragava, como ressaca do mar. As pontas soltas eram um convite para o futuro onde seriam amarradas. A Princesa deu a ele mais uma chance, então era isso o “continua”, certo? Olhando as folhas, com a cabeça apoiada na mesa ela sonhava. Qual era o tesouro que o filho do mercador pediria à princesa? O que valeria a pena arriscar a própria vida? Amor? Seria bobo... Isso era uma história de amor? Não, romântico é clichê demais para o Do Contra. Um tesouro que ouro não compra... O personagem dentro da história do mercador também buscava o tesouro que a fada lhe daria. Até o cego queria e arriscou a própria vida, perdendo a visão. O que valeria a pena arriscar a vida? Diamantes...

— Está estudando, filha? – sua mãe bateu à porta de seu quarto, tirando-a das elocubrações – Mais uma cartinha para você... – Dona Luísa sorriu travessa, como se sentisse cúmplice do segredo da filha – Namoradinho?

— Não, mãe, nada disso. – Mônica riu com vergonha – É só um texto enviado estilo folhetim, um capítulo a cada dia. Quer ler? – ofereceu, mas torcendo que a mãe recusasse.

— Algum programa escolar? – a mãe pegou a carta, olhando por alto o conteúdo, mas devolveu à Mônica, que tentou não transparecer o enorme alívio que sentia.

— É, tipo isso.

— Hum, projeto interessante. Bem, vou fazer o almoço. Não demoro, viu?

— Ok, enquanto isso vou terminando aqui a lição...

A mãe concordou com um sorriso singelo e de pronto se foi. O coração da jovem batia acelerado quando percebeu que tinha uma nova carta em mãos. Suas faces queimavam vermelhas, suas mãos suavam ao segurar o envelope. Ela não queria que a mãe percebesse sua ansiedade, mas ela silenciosamente implorava que a mãe sumisse. Assim que a viu longe, Mônica rasgou cuidadosa o envelope e começou a ler:

***

Halam Al-Hakim, mercador de Zenóbia, apresentou-se ao salão principal na hora combinada, escoltado pelos guardas reais. Lá aguardavam a Princesa Layla Al-Jamila e sua corte de nobres, que jamais admitiriam, mas estavam ansiosos pela continuação da história. Posicionou-se confortável no tapete, lhe serviram o que comer e beber, de novo comeu um único pedaço de pão e bebericou um gole de chá. Assim que pareceu pronto, uma criada virou a ampulheta para que ele começasse a narrar a continuidade de sua história:

Nas horas antes do pôr do sol, Farhad Al-Naim, filho de Nerum, sapateiro de Girah, chegava à gruta de Djal. Os raios alaranjados que ainda arranhavam os céus indicavam que não era a hora certa de entrar na caverna. Ele sentou-se na relva selvagem em frente à entrada do local. Tirou da cabeça o véu de sua mãe, do lado colocou o punhal de seu pai. Cogitou por uns instantes guardar a arma para caso precisasse. Mas decidiu que era melhor não. Não era sensato lutar contra um animal o qual não poderia encarar. Fazendo parte do Sol, também não morreria... Sua estratégia não seria o ataque. Teria de esgueirar-se silencioso na gruta, pegar as agulhas mágicas e sair o quanto antes. Pelo que o cego lhe dissera, não era uma caverna profunda e a partir da entrada já poderia ver o brilho prata de um milhão de agulhas. Elas o guiariam para onde precisasse pegá-las. Como eram mágicas, talvez não precisasse de muitas... Um brilho repentino cortou o céu e desceu até a gruta. Farhad fechou os olhos depressa para não correr o risco de se cegar. De repente, tudo ficara escuro, sinalizando que a hora de agir era chegada. Levantou-se de súbito, e certificando-se de não carregava nada além da túnica. Tirou até mesmo as sandálias e dirigiu-se ao destino.

Lá dentro, o brilho solar, ainda que distante, iluminava fracamente. Era realmente uma gruta de dimensões menores do que imaginaria. À esquerda, havia uma câmara lateral de onde o fraco brilho advinha. Aparentava dar para uma escada, fazendo Farhad concluir que o animal-guardião estava sob seus pés. Apesar de ser iluminado pela luz indireta, o calor do sol era quase que insuportável, obrigando-o a agir rápido. À sua frente, um tom prateado reluzia, convidando-o a se aproximar mais e mais. As agulhas enchiam uma parede, apontadas ameaçadoramente contra o visitante que ousasse ali adentrar. Era um brilho hipnótico, que o atraia como uma brilhante teia de seda a convidar a tola mosca. Farhad foi cauteloso o quanto pode, sendo o mais silencioso que podia ter sido. Ao aproximar-se, Farhad olhou-as bem. Eram de cor prata, duras como diamantes. Apesar de finas e frágeis, Farhad logo compreendeu que as aparências enganam. Estavam firmes na parede, seria impossível tirar de lá alguma se fazer barulho. Ponderava sobre o mistério delas. Farhad estava inseguro e temia cometer algum erro que o condenasse. Decidiu parar de lutar, fechou os olhos lembrando-se da Fada e clamou em alto bom tom: “Djal, guardião das agulhas mágicas, eu, Farhad Al-Naim, filho de Nerum, sapateiro de Girah, imploro que não me devoreis, pois as lágrimas de minha mãe salgam-me, os pesares de meu pai amargam-me... Venho humildemente pedir-vos que me permitais levar algumas de vossas agulhas prateadas para minha viagem até a Montanha de Vidro e Gelo.”

Não demorou para que um rugido estrondoso e pavoroso irrompesse pela diminuta gruta. De olhos fechados e de costas para a direção de onde o leão viria, Farhad aguardava sem fraquejar. Apesar de sentir que o lugar ficar mais iluminado com a presença da fera, não sentiu mais calor que antes. Beirava ainda o suportável. Sentiu o hálito quente do animal, fazendo-o dar-se conta de que agora estavam na mesma sala. Djal rugiu novamente para impor medo ao intruso, mas ele não vacilou. Respondeu pacificamente: “Grande Djal, leão de fogo e guardião das agulhas pratas mágicas, peço-vos encarecidamente que ajudai em minha jornada. Preciso delas para conseguir escalar a Montanha de Vidro e Gelo, onde reside o Palácio de Cristal da Fada Jandira Al-Nour, que aguarda-me como convidado. Não teria me posto a caminho de tal aventura, se não fosse a convite de nobre senhora. Por isso ajudai-me.”

A calma e a eloquência do jovem desarmaram Djal. O nome da Fada levou-o à submissão. Por fim, o leão grunhiu e replicou: “Farhad Al-Naim, filho Nerum, sapateiro de Girah, teu destino e tua morte a mim não pertencem. No reino da Fada Jandira Al-Nour, se ela te convida, estás seguro. Leva as agulhas e segue teu caminho. Enquanto andares certo, as agulhas não o machucarão. Não carregues nada além do necessário. E se me permitires um conselho, te o darei: Não peça mais do que é oferecido: na casa onde és hospede, jamais dita as regras.”

Farhad escutou atento aos conselhos de Djal e agradeceu profusamente. Com a autorização, pegou facilmente as reluzentes agulhas de prata. Retirou-se da caverna em segurança. Recuperou o véu de sua mãe e o punhal de seu pai, calçou as sandálias e descansou a noite para bem cedo reiniciar sua jornada até a Montanha de Vidro e Gelo. Farhad não tinha mais fome, nem sucumbia ao cansaço. A força que lhe transmitia a Fada fazia-o suportar todas as provações. No deserto, não queimou os pés, nem foi perturbado pela sede, nem assolado pela fome. Caminhou sem descanso, passando de uma vila a outra. Almas piedosas lhe ofereceram o que comer e o que beber. Farhad muitas vezes recusava com um sorriso humilde: já não precisava mais disso, mantinha-se firme na jornada, determinado a parar apenas na chegada.

Na cidade de Xákria, a caminho da Montanha de Vidro e Gelo, Farhad encontrou uma criança que quis seguir com ele a viagem: era um órfão que vivia na rua e não tinha rumo. Dividiu com ele o pão velho que recebido por caridade. No começo, a criança aceitou o pouco que recebia receosa. Assim que soube para onde Farhad seguia, abriu-se esperançosa. Muito tinha ouvido falar sobre a Fada Jandira Al-Nour, seus poderes maravilhosos e sua capacidade de realizar sonhos, por isso deveria ir até ela. Queria lhe pedir um futuro. Tinha perdido há pouco tempo os dois pais, vivia pelas ruas com medo, sobrevivendo por meio da caridade alheia, sem a proteção de uma figura paterna ou materna... O menino pequeno e indefeso queria crescer, para assim ser independente. O olhar dele apelava ao coração bom de Farhad e este não teve como lhe recusar o pedido. Aceitou que ele seguisse seus passos, mas alertou que não poderiam levar nada além do necessário. A criança não compreendeu bem as palavras dele, apenas sorriu: não tinha o que levar, senão o corpo. Assim passou a acompanhá-lo, como um carneirinho a seguir seu pastor.

Na cidade seguinte, em Jadhrir, um segundo companheiro implorou-lhe que o deixasse acompanhá-los: era um homem idoso sentado na soleira de uma pobre casa. O olhar perdido do homem refletia a tristeza e o cansaço da alma. O velho já não enxergava bem, repetia as falas como se estivera louco, apoiava-se em uma bengala e tremia... Quando soube que Farhad rumava à Montanha de Vidro e Gelo, animou-se de forma inesperada. Repentinamente ficou em pé para logo ajoelhar-se implorando-os que o levassem consigo. Precisa pedir à Fada que o ajudasse nessa má hora que era a velhice, que lhe restabelecesse ao menos um pouco da saúde perdida. Com o coração pesado, Farhad concordou, mas repetiu o que disse à criança: nada mais do que o necessário podia levar. Sabia que o homem não suportaria a caminhada; a criança, mais resistente, já tinha dificuldade e lhe atrasava o passo. Farhad colocou o velho nas costas e andou no ritmo que o menino ditava. Os três comiam e bebiam o que lhes era oferecido no caminho, descansavam pouco. A vontade de chegar até a Fada Jandira Al-Nour os dava força e coragem, compensando as dores e dificuldades.

Na cidade ao pé da Montanha de Vidro e Gelo, Terah, um terceiro companheiro de viagem se juntou ao trio: uma mulher de meia idade. Quando passavam por lá, o marido e sua esposa ofereceram ao trio um lugar para descansarem e a pouca provisão que tinham: farinha temperada, castanhas, furtas secas e chá torrado. O marido perguntou ao trio aonde iam com tanta determinação. A criança respondeu impulsiva que iam para a Montanha de Vidro e Gelo. O homem achou graça do modo do menino e ofereceu a casa como estadia para aquela noite. Farhad olhou os companheiros e concordou agradecido. A mulher lhe dirigiu a pergunta, querendo se certificar de que iam para a Montanha e se tinham meios de escalá-la. Depois que ele confirmou, ela prostrou-se sob seus pés e implorou-o que a levassem com eles, pois ela também tinha um desejo que gostaria de pedir à Fada. Há muito pedia um milagre e a chegada do estrangeiro eram de certa forma resposta às suas preces. O coração de Farhad doeu. Sabia da dificuldade da viagem, mas sentiu-se obrigado a retribuir a caridade do casal. Permitiu-a que fosse com eles, alertando-a igualmente como anteriormente fizera com os outros dois: não carregar nada além do essencial. A mulher estava determinada a realizar o desejo que não levaria nada mais que a roupa do corpo.

De noite, enquanto todos dormiam, Farhad ajoelhou-se humilde de frente para a direção da Montanha de Gelo e Vidro e pediu à Fada Jandira Al-Nour que permitisse a entrada de seus companheiros: a criança, que é tão pequena, passaria desapercebida tal como faísca; a mulher, leve como uma pluma, não seria difícil de carregar; e o velho, de ossos à mostra, não carrega nada além que o peso da idade. Ele não poderia subir à montanha deixando para trás os três cujos pedidos eram as únicas coisas a carregar, por isso ele pediam à Fada a autorização de levá-los. Em sonho, ela apareceu para ele: a mesma bela visão que ele vira outrora: “Farhad Al-Naim, filho de Nerum, neto de Samael, sapateiro de Girah, por sua humildade de me pedir, aceito que traga consigo seus convidados. Se seu coração deles se apetece, o mínimo que faço é ouvir-lhes a súplica. Mas entenda, desejo e necessidade podem até se verem como semelhantes diante de um espelho; contudo, enquanto um é objeto concreto e afável, o outro é vã imagem volátil. Se isso compreende, não te doerá o coração.”

A ampulheta novamente encerrou a narração, fazendo o filho do mercador calar-se novamente. A Princesa Layla Al-Jamila insistiu que era imprescindível terminar a história antes de declarar qualquer sentença, por isso instituiu que mais uma vez Halam Al-Hakim teria a oportunidade de terminar seu conto no dia seguinte.

***

A carta terminou deixando Mônica ainda mais curiosa. Como seria o encontro entre a Fada e o sapateiro? O que pediriam e o que receberiam os três? E será que a Princesa Layla estava gostando da história ou para não ter que dar o tesouro ela mentiria? Os nomes confundiam-na um pouco, tinham o ar ficcional e estrangeiro... O quanto seriam próximos da realidade? Tratava-se de um fac-símile de contos de outras eras? Outros povos? Era engraçado imaginar DC quebrando a cabeça para criar essas histórias. Não que ele não fosse capaz, era bem criativo, mas... E se forem cópias? Partes tiradas de um livro? Algo que já terminado... Não faria mal pesquisar. Tinha muita coisa na Internet!

Sim, aqueles contos deviam ter saído de algum livro, ele não iria criá-los do zero, daria muito trabalho. E tudo isso para quê? Para escrever uma carta confusa para uma pessoa que as leria uma, duas vezes no máximo... Seria trabalho demais para pouca recompensa. Uma pessoa normal saberia que não valeria esse esforço todo. Mônica gladiava mentalmente enquanto digitava a pesquisa. Em vão, buscava: mudava os termos, procurava os nomes diferentes, depois resumos da história principal, por fim pesquisando trechos inteiros... Nada.

Acabou se sentindo tola. Era o Do Contra! Não, ele nunca fazia a escolha mais lógica e mais fácil. Com ele nada era simples, normal ou previsível. É claro que ele lhe mandaria capítulo por capítulo de um livro que ele escreveria do zero, sobre uma aventura de personagens de nomes estrangeiros, vindos de lugares que nem existem... E ele escreveria sem ter nem certeza se ela leria, ou se rasgaria furiosa por ser uma história inacabada... Ele mandaria mesmo se ela desistisse de ler... E se ela parasse de receber?

Ela jamais esperava receber uma carta como aquela, a segunda fora realmente um alívio. Agora não sabia o que faria se não recebesse nunca mais a continuação. Elas tinham mistério e uma delicadeza ímpares que a prendiam e convidavam-na para mais, prometendo não acabar. Se fossem simples cartas de amor, ponderou, que elogiassem sua beleza ou sua força, Mônica até gostaria de receber, mas não teriam o mesmo impacto... Seria ótimo lê-las, mas não a deixariam pensando nelas horas depois. Agora ela terminava de ler, esperava ansiosamente que o dia acabasse para que ela pudesse ter a continuação... Ela precisava saber o final da história.