Acordo sentindo uma dor aguda em minha cabeça. Apoio meu rosto em minhas mãos, sentindo minha testa latejar.

Procuro no divã meu remédio para enxaqueca e engulo o comprimido, sem água.

Apoio minha cabeça na cabeceira da cama, respirando fundo. A única coisa que era possível ouvir, era um zumbido alto em meus ouvidos.

— Bom dia. - Paraliso ao reconhecer aquela voz. Olho para a cama e lá está Austin. Deitado ao meu lado. Sem camisa.

Reparo em como o quarto está bagunçado. Roupas jogadas no chão, travesseiros por todos os lados, e até mesmo em um cobertor que estava na entrada do banheiro.

— Você está bem? - Ele toca em meus braços nus. Como um instinto, puxo o cobertor, verificando se eu estava vestida. Respiro aliviada ao ver que estou usando meu pijama.

— O que você está fazendo aqui? - Pergunto enfim.

— Você não se lembra? - Respondo que não. Ele passa a mão pelo rosto, e bagunça o cabelo. - Bom, você estava bêbada, e eu não estava tão sóbrio quanto gostaria...

Oh meu Deus. Levanto num pulo, entendendo a situação. Passo as mãos em meus cabelos, desesperada. Eu havia perdido a virgindade com Austin Mônica Moon, e eu ao menos me lembrava. Respiro fundo, tentando me acalmar.

— Está dizendo que eu e você...

— Que eu e você o que? - Ele me olha confuso, mas no segundo seguinte parece entender. - Você acha que a gente dormiu junto?

— É o que está parecendo. - Olho para ele, com seu peito nu; e aponto para as roupas no chão.

— Por Deus, Ally! - Ele começa a gargalhar. - Nós não transamos.

Minha respiração volta ao normal e meu coração não parece estar tão acelerado quanto antes. Olho em volta, me perguntando o que aconteceu na noite passada, ou melhor, o que eu fiz na noite passada.

— Do que você se lembra?

— Bom, eu fui caminhar... Lembro de ver alguma mensagem relacionada com Harvard e depois eu fui a um bar e contei minha vida inteira para o barman... Não lembro de nada depois do terceiro copo de uma bebida muito ruim.

— Eu fui atrás de você, porque estávamos todos preocupados. A gente conversou um pouco sobre... – Austin para por um segundo, como se estivesse escolhendo as palavras certas. – Sobre a vida. Fomos embora e você vomitou, quando fui te ajudar você vomitou na minha camiseta. - Isso explica o fato dele estar sem nenhuma. – Trish foi te dar um banho e você vomitou nela também. Depois de um tempo você a expulsou do quarto porque queria que eu ficasse aqui cuidando de você.

Sinto uma leve tontura e sento novamente na cama.

— Fez guerra de travesseiros e dormiu no chão do banheiro. Tive que te trazer para a cama. – Ele começa a rir sozinho, com as lembranças.

Anotação mental: Nunca mais encher a cara.

***

Assim que chegamos ao parque de diversão, avistamos uma barraca com uma pelúcia de Golfinho gigante. Trish pulou animada, dizendo que queria ganhar aquele brinquedo custe o que custar. Golfinho era seu animal preferido.

Pegamos as pistolas d’água, o objetivo era simples, conseguir acertar o buraco com a água até o balão estourar. Quem conseguir estourar o balão dentro do tempo, ficava com a pelúcia.

— Isso é por vomitar em mim e me expulsar do quarto! – Assim que o cronometro começou a contar, Trish se vira para mim e aperta a pistola, molhando meu rosto.

Não perco tempo e a molho também. O dono revira os olhos, acostumado com a cena, pelo jeito isso era comum em sua barraca. Soltamos um grito desaminado quando o tempo acabou, e junto com ele a nossa guerra.

— Seguinte, dou dez dólares pelo golfinho. – Trish aponta para o brinquedo.

— Fechado. – O homem aceita o dinheiro e lhe entrega a pelúcia. Ela comemora.

— Agora que as madames já terminaram, vamos começar com a diversão de verdade. – Dez aponta para o mapa em suas mãos. – Uma das maiores montanhas russas de Miami.

Ele não mentiu quando disse que era uma das maiores da cidade. A primeira subida era equivalente a um prédio de quinze andares, e o carrinho ia a uma velocidade de – aproximadamente – 140km/h. Era impossível não se arrepiar só de olha-la.

Minhas mãos estavam tremendo, mas fui mesmo assim. A velocidade era tão alta que só se me dei conta que estava no brinquedo, quando a volta acabou.

Fomos em todos os brinquedos possíveis, e em todas as montanhas russas possíveis, com looping (o que me causou enjoo e tontura), com subidas íngremes e descidas de tirar o folego. No elevador, tive a sensação que meu corpo subiu e minha alma ficou, e quando descemos em queda livre meu coração errou uma batida e quase saiu pela boca.

— Agora a atração principal, baby. – Paramos em frente a um galpão, a fila estava grande. – Montanha russa inspirada em The Walking Dead. Não é Zallien Sugando Cérebro, mas dá para o gasto. – Os olhos de Dez brilhavam, tamanha sua felicidade.

Todos os pelos do meu braço se levantam, em sinal de alerta assim que entramos por um corredor escuro.

— Temos que atravessar um labirinto cheio de zumbis para chegar à montanha russa. – Ele diz animado.

Seguro na mão de Austin – que estava atrás de mim – quando escuto um grito. Os alto falantes projetavam esses sons, assim como os tiros ou os passos se aproximando. A única luz nos corredores era vermelha, e piscava freneticamente.

O loiro aperta a minha mão como se estivesse dizendo: Estou aqui, fique calma. Ele podia sentir o meu medo.

Enfim chegamos à montanha russa. Não era possível ver os trilhos, apenas sentir as voltas e as descidas. Todo o percurso foi no escuro.

— Pare com isso Trish. Não tem graça. – Tiro sua mão que estava encostada em meu ombro. Olho para o lado e vejo uma mulher. Com muito sangue.

Escuto gritos, mas dessa vez não eram dos alto falantes, e sim de todos que estavam na sala. Meu medo me deixa paralisada, e não consigo sair do lugar, todos estão correndo pelo labirinto.

Quando tinha apenas seis anos, Trish e eu resolvemos assistir Resident Evil, o que foi o bastante para não me deixar dormir por dias. Quando eu finalmente pegava no sono, tinha pesadelos com mortos-vivos. Desde aquele dia tenho trauma com qualquer coisa que envolva zumbis.

Escuto uma sirene, e quando olho para trás, uma grade se abre. Sinto a adrenalina se espalhando pelo meu corpo.

Corra. Corra. Corra! Era tudo o que eu pensava quando os vi correndo em minha direção. Os corredores eram escuros e confusos, e por mais que eu corresse eles pareciam não ter fim.

Tropeço em meu pé. Me sentia fraca, e tonta. Tento me levantar, mas a exaustão e a dor não deixavam. Minha respiração estava acelerada, e não conseguia controla-la. Eles estão mais pertos, cada vez mais pertos. Seus grunhidos estavam cada vez mais ensurdecedores.

Abraço meu joelho, na esperança de me tornar invisível. Mas eles me alcançam. Eles me tocam e gritam em meu ouvido.

— Ally! – Austin abre caminho entre os atores vestidos de zumbis que me cercavam. Meu corpo tremia e eu não conseguia me mover. Sem dizer uma palavra, ele me pega no colo e me tira dali.

— Caramba Ally, o que aconteceu? Era só uma simulação! – Dez pergunta assim que Austin me põe sentada numa cadeira. Eu ainda tremia. – Foi um ataque de ansiedade? De pânico?

— Eles te machucaram? – O loiro se agacha na minha frente. – Eles fizeram alguma coisa com você?

Digo que não.

— Então por que você está sangrando? – Trish me entrega um pano.

Passo a mão em meu nariz, e vejo sangue. Muito sangue.