Austin

Com flores nas mãos, eu andava de um lado para o outro na sala de espera. Eu simplesmente não conseguia me acalmar, não conseguia ficar sentado por horas sem ao menos ter notícias da Ally. Eu precisava vê-la, precisava saber como ela estava.

Pego minhas coisas, pronto para ir embora, quando sinto alguém tocando meu braço. Eram seus pais.

— Austin? Oh Austin, não sabíamos que você queria... – Penny abaixa a cabeça, claramente culpada por ter ficado todo o horário de visita com Ally e não ter dado a oportunidade de mais ninguém entrar. – Estávamos conversando com o médico, e nem vimos a hora passar. – É, realmente as treze horas de visita passaram voando, sintam a ironia.

— Não, tudo bem. Eu entendo. – Minto.

— Está aqui desde que horas? – Lester olha para o relógio na parede da sala de visitas, eram quase oito da noite.

— Desde as sete da manhã.

Lester arregala os olhos, e também se sente culpado por não ter deixado mais ninguém entrar.

— Se quiser, pode ir vê-la. Faltam quinze minutos. Mas ela está dormindo.

Você só pode estar de brincadeira.

***

Ally realmente estava dormindo.

Toco seu braço, para acorda-la, mas recuo logo em seguida. Ela deve ter tido um dia cheio. Cheio de exames, perguntas, notícias desagradáveis (ou agradáveis), enfim, um dia cheio.

Coloco o buque ao lado de sua cama, com um pote de água, para tentar não deixar as flores murcharem até amanhã. Toco no bilhete, que deixamos junto com as flores.

Me liga! Quero ter notícias suas logo! – Trish
Eu falei que você não estava bem. Eu falei. – Dez
Melhora logo, temos um baile para arrasar. – Austin

— Dez não pode vir, ele teve que ir fazer a matricula na faculdade... Ah sim, falando nisso Dez recebeu ontem a noite a carta da faculdade, e bem, ele passou. Claro, se ele não tivesse passado, ele não estaria fazendo a matricula hoje... – Passei as mãos pelo cabelo. O que eu estava fazendo?

Sento na poltrona, perto de sua cama e a observo dormir. Vejo que seu diário estava perto de mim.

— Ah sim, estou com ódio de seus pais. Ficaram aqui o dia inteiro e não deixaram ninguém entrar. Afinal, só eles podem querer saber como você está?

Não resisto a tentação e pego seu diário, que estava aberto, ao meu lado. Olho novamente para Ally, verificando se ela ainda dormia.

Não toque no meu livro! Era o que ela dizia se eu encostasse no caderno de capa marrom. Ri comigo mesmo, se ela me visse agora, me mataria. Resolvo ler a pagina aberta.

Querido Diário,

Todos os sintomas que ignorei ao longo desses meses, vieram à tona essa semana. Eu não deveria ter feito isso, deveria ter procurado ajuda assim que soube que eu não estava bem, mas agora é tarde demais. Nunca estive tão arrependida em toda minha vida.

Eu ignorei que estava morrendo, e agora não há volta. Os médicos falaram que, infelizmente, nada poderá ser feito no meu caso. Estou no estágio final de leucemia, e nem a quimioterapia, radioterapia ou qualquer remédio pode desfazer isso.

Vão me liberar essa semana para que eu possa morrer em casa. Pelo menos foi o que eu ouvi. Isso parece assustador, e de fato é. Eu tenho, com sorte, um mês.

Nesse tempo, refleti sobre minha vida. E cheguei a conclusão que eu não vivi. Eu não fiz nada que valesse a pena, nunca cometi erros, nunca fiz alguma besteira. Então aqui está uma pequena lista de coisas que fariam minha vida valer a pena:

Saltar de um avião

Invadir uma festa

Ficar bêbada

Ir em um parque de diversões radical

Escalar uma montanha

Jogar golfe

Ir no baile de formatura

Dançar na chuva

Ir em um restaurante chique

Amar e ser amada.

Fecho o diário. Eu não consigo ler o resto, simplesmente não consigo. Enxugo minhas lagrimas, em vão.

Vou até sua cama, e toco em seu rosto. Ela estava morrendo, e eu não podia fazer nada para impedir, ninguém podia.

— Trish veio, mas cansou de esperar, por isso foi embora. Agradeça aos seus pais por isso. – Falo, na tentativa de me acalmar, de distrair um pouco a cabeça.

— Austin, você pode por favor, calar a boca? – Ally se mexeu. – Estou tentando dormir. – Ela deu um sorriso. – Ei, você me trouxe flores? – Ela pega o buque, seus olhos estavam brilhando.

— É... – Enxugo o restante das lagrimas, e tento não derramar mais nenhuma antes que ela perceba. – Peônias brancas são as suas preferidas, então...

— Uau, Dez é um amor de pessoa. – Ela ri com o bilhete.

Olho novamente para o seu diário, lembrando de cada palavra. E então surgiu uma ideia.

Eu tinha um plano.