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Eu não sou maluca


Chego em casa ainda atordoada. É praticamente impossível isso acontecer!

Arrumo alguma coisa pra comer e depois de satisfeita sou vencida pelo cansaço e acabo apagando ali no sofá mesmo.

— Dentro da van -

TAE - Vocês viram a menina do mercadinho? Acho que ela tava seguindo a gente! Como ela descobriu onde a gente mora?

JM - Uma pena... Eu até tinha achado ela fofinha com aquele jeitinho nerd dela.

JK - Ela não é daqui, deu pra ver que ela é estrangeira. De onde será que ela é?!

— Apartamento da Lia -

Acordo com meu celular tocando. Olho a tela e tá escrito: “Omma chamando”...

LIA - Caracaaaaa, esqueci completamente de ligar pra minha mãe!!!

—Ligação on-

LIA - Oi mãaaae, tudo bem?!

MÃE - Camba Lia, por que você não me ligou? Fiquei preocupada esperando você ligar pra avisar que chegou bem...

LIA - Desculpa, mãe, acabei dormindo, tá tudo bem por aqui sim, pode ficar tranquila!

MÃE - Okay filha, seu pai está mandando um beijo! Qualquer coisa liga pra gente tá?!

LIA - Pode deixar, mãe! Beijo, te amo

—Ligação off-

Quando desligo o telefone vejo que dormi a tarde toda e ainda estou com sono

LIA - MDS, to virando o Min Yongi kkkk

Arrumo minhas coisas dentro dos armários e percebo que meu apartamento não tem uma mesa, só mesa de centro que fica na sala. Procuro um post-it no meio das minhas coisas e anoto: “Comprar uma mesa e cadeira” e colo na geladeira. Não tenho coluna pra ficar estudando e corrigindo provas e trabalhos sentada no chão não.

Acabo de arrumar minhas coisas e vou deitar, afinal, amanhã é o grande dia! Fico nervosa só de pensar que amanhã irei sozinha conhecer a universidade.

Pensamento vai, pensamento vem, lembro da cena no mercadinho e que cheguei muito perto do Taehyung, Jimin e Jungkook. Será que eu vi direito?! Meus óculos deveriam estar muito embaçados, ou eu tava delirando de fome, não é possível! Eu não sou tão sortuda assim, não é mesmo?!

Acordo no dia seguinte um pouco tarde, acho que vou demorar a me acostumar a esse fuso-horário diferente. Como um pão de forma com um tipo de queijo que eu achei no mercadinho. Pelo menos isso parece que é queijo. Como eu vou sentir falta de um pãozinho francês quentinho, acho que vou precisar aprender a fazer pão francês.

Ligo pros meus pais e converso com eles um pouco, respondo as mensagens dos meus amigos e vou ver um pouco de tv.

Logo chega a hora do almoço e resolvo comer um lámen por que ainda não tinha comprado nenhuma comida decente. Minha mãe me mataria se visse o que eu estava comendo desde que cheguei. Afinal, ela me fez prometer que comeria direito quando viesse pra cá.

Me arrumo para ir na universidade, coloco uma saia rodada de cintura alta com uma blusinha social por dentro da saia e coloco uma sapatilha preta pra combinar. Faço uma maquiagem básica e arrumo o cabelo. Me olho no espelho e acho que está faltando alguma coisa... Abro a janela e sinto um vento gelado e lembro que não estou no Rio e que preciso de um casaquinho.

Coloco um cardigã e arrumo minha bolsa com tudo que eu acho que vou precisar e saio de casa. Olho no mapa e vejo que só preciso pegar um ônibus que me deixe em frente à universidade, fácil assim, espero.

Quando estou passando em frente à “casa BTS”, acabei colocando esse apelido na casa até saber se realmente o que eu vi era verdade e a casa estava tranquila, como se nada estivesse acontecendo.

Decido parar no mercadinho pra comprar uma garrafinha de água, por que acabei esquecendo a minha. Entro no mercadinho e não têm ninguém lá além do atendente, pra minha decepção.

Ando até a geladeira e pego uma garrafa d’água. Quando chego no caixa para pagar a água que abro a bolsa pra pegar a carteira vejo que eu não estou com ela dentro da bolsa.

LIA (em português) - Que droga, esqueci a carteira em casa!!!

O atendente do mercadinho me olha com cara de espanto e percebo que acabei falando em português.

Peço desculpas e saio que nem um furacão pela rua, pois estava começando a ficar atrasada pra reunião na universidade, e acabo não vendo que tinha um homem vindo pela calçada que eu estava e acabo trombando com ele.

LIA - Me desculpe... - O homem na minha frente pareceu nem se abalar com a minha trombada nele.

XXX - Eu que peço desculpas, você está bem?! - o homem estende a mão para me ajudar a levantar.

LIA - Estou sim, muito obrigada - respondo me curvando um pouco em forma de agradecimento. Quando levanto e olho para o homem em que tinha trombado vejo ninguém menos que KIM NAMJOON.

Acho que não sei mais como respirar, e sinto minhas bochechas ficarem vermelhas quase que instantaneamente. Não consigo pensar em nada além de: “inspira, expira, inspira, expira...”

Namjoon dá um sorriso e aquelas covinhas maravilhosas aparecem, ele está sem graça. Quem não estaria com uma maluca olhando fixamente pra ele sem dizer nada...

NJ - Você está bem, precisa de uma água?

Quando ele acaba a frase eu me lembro que tinha entrado no mercado por uma razão: a água, e que eu tinha esquecido minha carteira e que estava atrasada para...

LIA - Aishhh... - olho o relógio e vejo que estou realmente ficando atrasada e que definitivamente preciso da minha carteira - Me desculpa por trombar em você, eu não tinha te visto, eu não sou maluca - e saio correndo.

Chego em casa com a adrenalina a mil, pego a carteira e a garrafa de água em cima da mesa e saio correndo novamente para a entrada do condomínio. Dessa vez corro tanto que não reparo em nada ao meu redor. Chego na portaria quase sem fôlego e peço para o porteiro chamar um táxi pra mim.

Quando entro no táxi olho para o relógio e vejo que vou conseguir chegar a tempo na reunião e relaxo - péssima ideia, pois acabo lembrando do que aconteceu na saída do mercadinho. Me lembro do Namjoon e lembro de falar “eu não sou maluca”. Isso é exatamente o que uma pessoa maluca falaria, Lia. Me xingo mentalmente e logo depois percebo que se eu vi o Namjoon dentro do condomínio então eu estava certa que tinha visto Jimin, Taehyung e Jungkook no mercadinho ontem e logo em seguida entrando na van. O que quer dizer que eu realmente moro no mesmo condomínio dos meninos.

Perdida em meus devaneios mal percebo que o taxista havia parado em frente a uma construção enorme e que eu finalmente tinha conseguido chegar na universidade.

Pago o taxista e olho pro prédio, quase não consigo ver o fim dessa coisa enorme. Falo baixinho pra mim mesma:

“Vamos lá, Lia! Você consegue!”

E começo a subir os degraus para minha nova vida.