0'Clock

Capítulo 13


7° mês e 22 dias

Minha expressão era de espanto e confusão. Na minha mente me questionava como ela poderia fazer isso com a Sam, beijando o namorado da própria irmã. Sinistro.

Eu tentei esquivar, mas ela prendeu os braços ao redor da minha cabeça e forçou o beijo com uma força já conhecida, mas logo depois afrouxou percebendo que eu não correspondia. Então meu cérebro reagiu e trabalhou empurrando ela para longe.

— Não, Melanie! Você enlouqueceu? Por quê fez isso? — perguntei furioso, segurando os seus ombros, para manter uma distância segura.

— Eu gosto de você, Freddie. — ela respondeu envergonhada, porém com determinação. — Gosto desde a época que nós saímos juntos. Quando a mamãe me contou que vocês estavam namorando, eu não acreditei. Era impossível, já que minha irmã te odiava... E quando você me abraçou naquele dia no shopping, eu senti tanta inveja da Sam.. — Melanie não conseguiu segurar o choro. As lágrimas caiam pingando sem parar no vestido, possivelmente sendo difícil para ela a rejeição. — Pela primeira vez na vida quis ser a Samantha.

Eu fiquei com pena, mas não podia fazer mais nada. Eu gostava da Sam, e nada podia mudar isso.

— Eu sinto muito, Mel. Talvez se nós tivessemos nos conhecido antes, de um outro jeito, tudo poderia ser diferente. Agora eu não consigo pensar em outra garota que não seja a Sam. Eu gosto dela e é impossível eu a trair. — disse, largando-a. — Na verdade, eu amo a sua irmã! — esclarci o meu sentimento.

— Mas nós somos fisicamente iguais! — Melanie empolgou. — Você não entende que nós temos uma ligação, coisa que você nunca terá com ela! Na maior parte do tempo os dois estão brigando, são tão diferentes que nunca dará certo! — insistiu.

— Você não entendeu. — mordi o lábio, hesitando. Eu não a queria magoar mais ainda, mas ficava tão difícil com ela agindo assim. — O que eu tenho com a Sam não é físico. Não é apenas atração, ao contrário, eu gosto da personalidade dela. Sam é tão forte e engraçada, até mesmo quando ela é violenta eu me divirto... No fim das contas, eu também me atraio pelo jeito dela. — conclui, fazendo um gesto com os ombros.

Melanie ficou em silêncio. O choro maior foi quando eu disse que amava sua irmã, após algum tempo ela pareceu estar bem mais tranquila.

Ela fungou e depois de segundos voltou a se pronunciar:

— Você promete não contar nada a Sam? — ela encarou seus sapatos, sem graça. — Eu estou muito envergonhada... me desculpe. Oh Deus! — ela riu, tentando secar os olhos. — Sam nunca mais confiará em mim.

— Tudo bem! Vai ser o nosso segredo. — confortei-a, olhando os nós que meus dedos formavam no volante.

— Obrigada, Freddie. É muito legal de sua parte. Eu me arrependo profundamente de ter te beijado, mas parecia a coisa certa a se fazer entende? — Melanie disse, voltando-se para mim.

— Não! — respondi de supetão. Logo depois me arrependi, pois seus olhos se encheram de novo em lágrimas. — Hm... Acho melhor eu ir. — disse desconfortável com a situação. — Boa viagem, Melanie!

A gêmea da Sam pareceu meio perdida no começo, mas abriu a porta e saiu do carro.

— Obrigada, Freddie! — pediu, segurando a porta do carro. — A minha irmã é muito sortuda por ter você.

Acenei em confirmação, mas não me importando muito já que minha cabeça fervilhava de dúvidas.

Liguei o motor e dei um pequeno aceno de "tchau". Melanie bateu a porta, esperando eu dar a partida e sair.

Durante a viagem, eu não conseguia esquecer o beijo. Por mais que eu me esforçasse, a cena voltava em flashes castigando-me.

Como esconder isso da Sam? Sua irmã havia me beijado, ela tinha que saber. Não queria ter um relacionamento à base de mentiras e segredos... Mas se alguém a beijasse, será que ela me contaria?
Eu me questionei, em conflito.

Quando dei por mim já estava na entrada do Bushwell. Estacionei na vaga e me encaminhai para o apartamento, levando o lanche da Sam na mão. Sai do elevador e fui em direção ao 8-D, entrando e jogando as chaves no sofá. Caminhei até a cozinha e me servi de um copo d’água.

— Freddie? — Sam chamou pelo corredor. Minha mãe cumpria plantão essa noite, por isso Sam resolveu me esperar no apartamento, entrando com a cópia que mandei fazer quando completamos três meses. Sam não poderia ficar arrobando toda vez a fechadura.

Ela veio correndo ao meu encontro, beijando meus lábios com saudade. Fechei meus braços apertados ao redor da sua cintura e a segurei no ar por alguns segundos, a culpa invadindo cada pedacinho do meu ser. Me sentindo um verdaeiro lixo, a soltei e peguei o meu copo em cima da pia, enfiando a água goela abaixo.

— Como foi o filme? — Sam perguntou interessada.

— Foi tudo ótimo. — respondi, terminando de beber a água.

— Que bom!... Então, você trouxe algo para sua namorada? — ela perguntou como se não estivesse interessada, mas seus olhos cobiçosos correram por minhas mãos.

Mostrei o saquinho de papel gorduroso mais o shake de morango. Sam riu e puxou o saco com certo ânimo, sentando-se na cadeira e atacando o lanche.

— Aonde você vai? — ela perguntou, quando eu saia da cozinha.

— Vou tomar meu banho... Estou com dor de cabeça, quero relaxar.

— Isso é que dar passar três horas tendo papo cabeça de nerds. — a loura brincou, comendo o seu segundo hambúrguer.

Eu forcei um sorriso e voltei alguns passos para beijar sua testa.

— Vou ficar te esperando na cama. — disse. Sam apenas acenou e tomou o shake, gemendo de prazer.

Entrei no quarto, tirando minha camisa e jogando ela na estante. Abri a porta do banheiro, observando o meu reflexo no espelho que ficava acima da pia. “Covarde” — pensei, virando o olhar e despindo minha calça e cueca.

Liguei o chuveiro, pulando para dentro do box, a água quente escaldando o meu corpo. Fechei os olhos, chateado. Essa culpa e dúvida estavam me possuindo.

Eu senti mãos alisando meu peitoral e se entrelaçando na minha nuca, abri os olhos assustado e a pequena loura apareceu na minha frente, com um sorriso safado.

— Sam...

— Cala boca, nerd. — interrompeu, me beijando ferozmente.

— O que você está fazendo aqui? — perguntei, parando o beijo.

— Até parece que nunca te vi nú. — ela me respondeu, descendo sua mão.

Nesse momento esqueci todas as minhas angústias, beijando-a com vontade. Prensei seu corpo contra a parede, molhando-a onde nossos corpos se encostavam. Sam se arrepiou toda, prendendo sua perna direita na minha enquanto eu beijava seu pescoço e levantava sua blusa.

— Freddie... — ela gemeu baixinho e de repente a culpa voltou com tudo.

Parei com os beijos e alisamentos, e me afastei dela bruscamente.

— O que foi? — Sam perguntou confusa. Eu não consegui responder, apenas fiquei olhando seus olhos. Notei como os olhos da Sam eram azuis mais claros, um azul do céu de primavera. Enquanto os da Melanie eram escuros e profundos, como o céu da noite. — Não se preocupe, eu trouxe uma camisinha. — Sam continuou inocente, segurando o pequeno plástico nos dedos. — Peguei do seu estoque. — ela sorriu e se aproximou.

— Não, Sam. — disse, me esquivando para o canto da parede.

— Você não quer? — Sam me perguntou, tirando o sorriso do rosto. Ela estava desapontada.

— Não! Eu quero muito! Muito mesmo! — disse com convicção.

— Então! Eu também quero, Freddie, e quero agora! — outra tentativa dela de aproximação.

— Sam... — choraminguei, desviando-me novamente.

— Freddie, eu não entendo, sabia? — Sam começou a se zangar. — Primeiro você fica meses querendo e quando estou aqui, me oferecendo, você rejeita!

Eu ouvi e mudo fiquei, encarando seus olhos cheios de indignação e raiva.

Até que finamente consegui falar algo.

—A Melanie me beijou! — revelei.

— O quê? — Sam perguntou num sussurro, chocada.

— Sua irmã me beijou. — repeti, jogando meu peso contra a parede.

— Eu sei, Freddie! Não era eu naquele... — disse rindo, recuperada do choque.

— Hoje! Melanie, me beijou hoje! — interrompi. Ela arregalou os olhos e se calou, então continuei. — Depois do cinema, eu fui deixá-la em casa e quando eu me despedia ela simplesmente me beijou.

— Você correspondeu? — quis saber, evitando meu olhar, voltando a ficar em choque.

— Não!

— Mas, gostou? — Sam abaixou o rosto, me impedindo de ver a expressão. Seus cachos perdiam a forma, colando em seu rosto a medida que a água caia neles.

—.....

— Gostou ou não? — ela exigiu, com um tom alterado.

— Não dá para te responder, ok? — usei o mesmo tom. — Eu só fui pego de surpresa. Não é como se fosse bom ou ruim.

— Então... — ela fixou seu olhar no meu, seus olhos se estreitaram, protegendo-se da pequena cachoeira de água que era o chuveiro. — Você quer terminar?