Configurações

Caminho do Ninja Amador (nível II): missão 06. Meta 03: verbos (III): o pretérito mais-que-perfeito

Olá, amados ninjas!

Aqui quem vos fala é a Letícia com uma missão um tanto quanto antipática hoje. Porém, não se desanimem! O tempo verbal não é dos mais simpáticos, já que o utilizamos pouco no dia a dia, mas ele ajuda muito na hora de redigir um texto. E eu nem perguntei: tudo bem com vocês?

Além disso, não podemos nos esquecer de lhes dizer sobre o blog da Liga dos Betas (http://www.ligadosbetas.blogspot.com.br/), com conteúdos para ajudar tanto na gramática quanto na estruturação da narrativa. Também, você pode solicitar um beta-reader (http://ligadosbetas.webs.com/membros-da-liga) ou se tornar um (http://ligadosbetas.webs.com/ser-beta-reader). E tudo isso foi feito e continua em progresso especialmente para vocês; então, aproveitem.


Caminho do Ninja Amador (nível II). Missão 06. Meta 02: Verbos (III):
Emprego do Pretérito-Mais-que-Perfeito

Já que o pretérito-mais-que-perfeito pertence ao Modo Indicativo, temos de relembrar algo que já foi dito anteriormente: esse modo indica uma ação, anuncia um ato.

Assim, temos uma escalada para seguirmos, a fim de alcançarmos o cume dessa montanha. Logo, dividiremos em alguns passos para não termos de caminhar continuamente:

Primeira parte: quais são os particípios dos verbos regulares e irregulares.
Segunda parte: como conjugar o verbo com a sua forma composta e a simples.
Terceira parte: quais são os seus empregos.

Preparados? Respirem fundo, mas saibam que não é o cume do Everest. É uma missão curta, caros ninjas, e também é muito útil.

Primeira Parte: Os Particípios Passados Regulares e Irregulares.

O particípio é uma das formas nominais do verbo. Ele é chamado assim por não mudar de pessoa a pessoa (como a mudança do nós para o vocês: começamos e começam) e por não mudar dependendo do tempo verbal (como os demais verbos mudam do presente para o futuro, por exemplo).

Assim, o particípio é uma forma mais fixa, servindo para todas as pessoas. Por isso, às vezes, se assemelha a um adjetivo (aquele que caracteriza as coisas) por poder se flexionar em plural (palavras terminadas em -S) e singular.

Vejamos alguns exemplos:

Verbo / Particípio do Verbo Exemplo
1. CAMINHAR / CAMINHADO Eles tinham caminhado pela tarde.
2. COMEÇAR / COMEÇADO Não haviam começado as aulas ainda.
3. JANTAR / JANTADO Já tinha jantado naquele dia.
4. AMAR / AMADO Ele era amado pelos demais.

Nos exemplos números um, dois e três, o particípio tem caráter de representação de uma ação. Porém, no número quatro, há a indicação de uma característica (podendo conter a insinuação de um estado), podendo se modificar para o plural, transformando-se em "Eles eram amados pelos demais". Dessa forma, o particípio se assemelha a um adjetivo e, por isso, ganha essa denominação de ser uma "forma nominal do verbo".

Outra coisa que conseguimos observar no quadro acima foi que todos os verbos terminam em "-AR", ou seja, pertencem à primeira terminação. Logo, temos a seguinte conclusão:

O particípio dos verbos regulares terminados em -AR termina em -ADO.

Agora, vejamos um quadro com os verbos terminados em "-ER" e "-IR", que terão a mesma terminação:

Verbo / Particípio do Verbo Exemplo
1. COMER / COMIDO Tínhamos comido diversos petiscos antes da janta.
2. MORRER / MORRIDO O coitado havia morrido de solidão.
3. CONDUZIR / CONDUZIDO Tinha conduzido a cerimônia majestosamente.
4. DIZER / DITO Não havia, porém, dito o que realmente sentia.

Ali, analisando o número um, dois e três, podemos concluir:

O particípio dos verbos regulares terminados em -ER e -IR termina em -IDO.

Depois, vemos o verbo dizer, que, por muitas vezes, é irregular. Logo, há alguns verbos que têmum único particípio irregular (já que não existe "dizido"). E são esses verbos:

Verbo com
Particípio Irregular
Particípio Exemplo
1. Abrir Aberto Tinha aberto a garrafa.
2. Cobrir Coberto Estava coberto por edredons.
3. Dizer Dito Havia dito o que não devia.
4. Escrever Escrito Foi escrito há séculos.
5. Fazer Feito Estou feito na vida!
6. Pôr Posto O tinha posto no lugar correto.
7. Ver Visto Ele foi visto pela cidade.
8. Vir Vindo Ele tinha vindo até aqui ontem.

Portanto, há os verbos com particípios regulares e os com particípios irregulares. Entretanto, como o português não gosta muito da palavrinha "sempre", ele tem ainda outra exceção: os verbos que são "mistos" (chamados de verbos abundantes), têm ambos os particípios, os irregulares e os regulares. Por exemplo:

O policial havia prendido o bandido minutos antes de eu chegar ao local.
O delegado tinha prendido um dos foragidos mais procurados.
A vítima estava presa entre as ferrugens do carro.
O criminoso foi preso há poucos minutos.

Desses exemplos, podemos observar que o verbo "prender" têm dois particípios. Com os verbos "haver" e "ter", o particípio é regular (terminado em -IDO pela forma do infinitivo terminar em -ER, pois vem de "prendER"). Com os verbos "estar" e "ser", o particípio é irregular, alterando-se conforme o verbo. Assim, passemos a limpo essa informação:

O particípio dos verbos abundantes será regular quando estiver complementando o verbo "ter" ou "haver" e será irregular quando complementar o verbo "ser" ou "estar".

Alguns exemplos de verbos abundantes são: entregar (entregue x entregado), trazer (trago x trazido), soltar (solto x soltado), acender (aceso x acendido), eleger (eleito x elegido), imergir (imerso x imergido), tingir (tinto x tingido), pagar (pago x pagado), entre várias outras. Para mais exemplos, os sites utilizados como fontes podem ser acessados.

Mas conseguiram entender o particípio? E reparem que não colocamos o verbo "trazer" nem "chegar". E não surtem, mas esses verbos não são abundantes, eles possuem apenas um particípio: o regular (respectivamente, trazido e chegado).

Podemos prosseguir? Respiremos fundo que seguiremos para a segunda parte da escalada, caros ninjas. Agora sim, vamos ver o atemorizador pretérito mais-que-perfeito.

Segunda Parte: Conjugação do Pretérito Mais-que-Perfeito.

O pretérito mais-que-perfeito é conhecido por ser aquele que termina com o "ra": começara, começaras, começara, começáramos, começáreis, começaram (sempre terminando com "AM", nunca "ÃO" nesse tempo, já que o último denomina futuro).

Eu sei, esse tempo é bem chatinho. Ainda que não percebamos, o falamos, sim, diariamente, mas na sua forma composta, não na simples. Lembremos que a forma simples é formada por um verbo só (começara) e a forma composta é formada por mais de um (tinha começado).

Assim, temos, na forma simples, os verbos regulares com tal esquema:

Pessoa
Agente da ação
Verbos terminados em -AR
Primeira conjugação
Verbos terminados em -ER
Segunda conjugação
Verbos terminados em -IR
Terceira conjugação
Eu falara comera conduzira
Tu falaras comeras conduziras
Você/Ele(a) falara comera conduzira
Nós faláramos comêramos conduzíramos
Vós faláreis comêreis conduzíreis
Vocês/Eles falaram comeram conduziram

O esquema acima nos leva, pois, a criar o esquema abaixo, uma vez que os todos os verbos têm a mesma terminação e mantêm a sua forma do infinitivo antes dela:

Pessoa
Agente da ação
Verbos com qualquer terminação
Ob.s.: o infinitivo é o verbo na sua forma mais "primitiva", quando terminado em "R" (-AR, -ER, -IR e "pôr" e seus derivados).
Eu infinitivo + a
Tu infinitivo + as
Você/Ele(a) infinitivo + a
Nós infinitivo + mos
Vós infinitivo + eis
Vocês/Eles infinitivo + am
Observação: O infinitivo tem suas exceções. Pode ser alterado pelos verbos irregulares. Por exemplo: o verbo dizer ("dizer" muda para "disser", se tornando "eu dissera").

Tranquilo? (E como eu sinto saudades da trema aí...)

Então, vamos à forma composta desse tempo verbal. E, nesse momento da nossa subida, estamos encontrando uma bifurcação. Pois é, na forma composta, temos duas opções: ou utilizamos o verbo haver junto ao particípio (havia falado, havia comido, havia conduzido), ou usamos o verbo ter com o particípio (tinha falado, tinha comido, tinha conduzido). Logo, aproveitando o que já vimos na parte anterior, o particípio sempre será regular a não ser que o verbo não o admita. Em outras palavras, caso o verbo tenha dois particípios, usaremos o regular, terminado em -ADO ou -IDO.

Além disso, no estudo das formas compostas desse tempo verbal, devemos comparar os usos do verbo haver com particípio e do verbo ter com particípio. A colocação do verbo ter é coloquial, muito mais utilizada na fala do que na escrita. Assim, podemos aproveitar esse mecanismo para encaixá-la em diálogos, procurando representar uma forma mais informal de falar. À medida que isso ocorre, temos também a forma culta, representada pelo verbo haver com particípio. Ela pode ser utilizada na narração ou em diálogos cultos, pois sempre devemos adaptar o texto às suas ações, não é verdade? Eis aqui uma questão de discernimento. O próprio autor decide a forma mais adequada de acordo com o contexto.


Por conseguinte, teremos:

Pessoa
Agente da ação
TER + PARTICÍPIO
Uso coloquial
HAVER + PARTICÍPIO
Uso culto
Eu tinha + particípio havia + particípio
Tu tinhas + particípio havias + particípio
Você/Ele(a) tinha + particípio havia + particípio
Nós tínhamos + particípio havíamos + particípio
Vós tínheis + particípio havíeis + particípio
Vocês/Eles tinham + particípio haviam + particípio

E reparemos que esses verbos, "ter" e "haver", estão conjugados no pretérito imperfeito do indicativo, já vistos aqui nas missões. Essa construção composta equivale à simples, não alterando o sentido nem nada. "Tinha feito o tema" é a mesma coisa que "Fizera o tema". Entretanto, vejamos os empregos mais comuns do verbo:

Terceira Parte: Emprego do Pretérito Mais-Que-Perfeito.


Os empregos mais comuns são apenas dois:

1. Ao relatar uma ação anterior a outra já passada.

Utilizamos esse tempo verbal para mostrar algo terminado antes de ocorrer algo que também já foi terminado. Por isso, normalmente se diz que é "o passado do passado".
Quando utilizamos o pretérito perfeito, dizemos: "Fiz um trabalho". Essa é uma ação terminada no passado.
Quando utilizamos o pretérito mais-que-perfeito, é porque ele é algo além daquele primeiro tipo de passado.
Quando utilizamos o mais-que-perfeito, temos como referência um pretérito perfeito e indicamos algo que ocorreu antes da segunda ação. Por exemplo: "Quando os seus pais chegaram, ela já fizera o seu trabalho".
É mais fácil reconhecer o uso do pretérito mais-que-perfeito ao substituí-lo pela forma composta que utilizamos: "Quando os seus pais chegaram, ela já tinha feito o seu trabalho". Nessa frase, as ações concluídas foram a chegada dos pais e o término do trabalho. Entretanto, uma ocorre antes da outra, o que leva a essa mudança de tempo verbal: um passado é mais passado do que outro (o pretérito mais-que-perfeito) e o outro é um passado mais recente (o pretérito perfeito). E, relembrando, basta substituir pela forma composta para ver se o uso está correto.
Exemplo:
Assim que se lembrara/tinha lembrado do que tinha a fazer, retirou-se. (ERRADO)
Assim que se lembrou do que tinha a fazer, recordou que já o fizera/tinha feitoanteriormente. (CERTO)

2. Ao denotar um fato vagamente situado no passado.

Quando não há relação temporal com outra ação no passado (sem referência a outra ação), o pretérito mais-que-perfeito pode ainda ser colocado para dar uma noção vaga ao tempo. Por exemplo:
Vivera anos com os seus amigos, e anos esses foram de felicidade.

Observação: algumas expressões com esse tempo verbal foram aceitas pela língua. Por exemplo, podemos indicar que queremos algo quando dizemos "Quem me dera!". Esse verbo aí, esse "dera", nada mais é do que o verbo "dar" no pretérito mais-que-perfeito.

E, assim, chegamos ao cume da montanha. Foi muito difícil? Esperamos que não. E, qualquer coisa, é só perguntar. Estamos aí para auxiliá-los sempre.

Mas, então, vamos fazer aquela resumida?

PARTICÍPIOS
É uma das formas nominais do verbo. Não não muda de pessoa a pessoa (como a mudança donós para o vocês: de começamos para começam) e não se altera de acordo com o tempo verbal (como os demais verbos mudam do presente para o futuro, por exemplo).
Terminação do verbo Particípio regular
-AR -ADO
-ER -IDO
-IR -IDO
Se há o verbo: Use particípio: Exemplo:
SER ou ESTAR IRREGULAR Foi entregue.
TER ou HAVER REGULAR Tinha entregado.


CONJUGAÇÃO DO PRETÉRITO-MAIS-QUE-PERFEITO
Forma Simples
Pessoa
Agente da ação
Verbos com qualquer terminação
Ob.s.: o infinitivo é o verbo na sua forma mais "primitiva", quando terminado em "R" (-AR, -ER, -IR e "pôr" e seus derivados).
Eu infinitivo + a
Tu infinitivo + as
Você/Ele(a) infinitivo + a
Nós infinitivo + mos
Vós infinitivo + eis
Vocês/Eles infinitivo + am
Observação: O infinitivo tem suas exceções. Pode ser alterado pelos verbos irregulares. Por exemplo: o verbo dizer ("dizer" muda para "disser", se tornando "eu dissera").
Forma Composta
Pessoa
Agente da ação
TER + PARTICÍPIO
Uso coloquial
HAVER + PARTICÍPIO
Uso culto
Eu tinha + particípio havia + particípio
Tu tinhas + particípio havias + particípio
Você/Ele(a) tinha + particípio havia + particípio
Nós tínhamos + particípio havíamos + particípio
Vós tínheis + particípio havíeis + particípio
Vocês/Eles tinham + particípio haviam + particípio


EMPREGO DO PRETÉRITO-MAIS-QUE-PERFEITO
A forma simples tem o mesmo emprego que a forma composta.
Uso: Exemplo:
1. Ao relatar uma ação anterior a outra já passada. Não recebera (tinha recebido) dinheiro até a data em que lhe cobraram as dívidas.
2. Ao denotar um fato vagamente situado no passado. Crescera (tinha crescido) com muitos amigos e muitos inimigos.


Tudo tranquilo? Esse tempo verbal não é dos mais divertidos (e daqui, para algumas pessoas, surge a dúvida de quais são), mas vale a pena aprendê-lo para aprimorar a escrita, ganhar padrões estilísticos e encantar os leitores.

Por fim, encerrando assim mais uma missão, esperamos vê-los na próxima também. Abraços, queridos ninjas.

Letícia Silveira e Lady Salieri