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Caminho do Ninja Amador: missão 02. Meta 05: pontuação (V): travessão

Caminho do Ninja Amador. Missão 02. Meta 05.
Dominar a pontuação: o temido travessão e a desconhecida meia risca.


Começaremos com a explicação de que o travessão (—) não é um hífen (-). Ele é um traço maior e, portanto, deve ser respeitado.
Seguimos, então, com as suas funções. Afinal, para quê serve esse tracinho? Podemos utilizá-lo em um parágrafo comum?
Função do travessão
1. Indicar a fala de um personagem ou a mudança de interlocutor (aquele que fala):

— Onde você foi ontem, João?
— Fui ao supermercado.

.

Fácil, não parece? Mas cuide! Sempre que houver a interrupção do narrador, devemos manter a continuação da fala da mesma personagem com um travessão seguinte. Examine:

— Onde você foi ontem, João? — indagou curioso. — Não o vi em casa.
— Fui ao supermercado.


Assim, alguém perguntou para o João, e depois ele respondeu que foi ao supermercado. São dois falantes, então serão dois travessões. Sempre que pessoas diferentes falarem, teremos um novo parágrafo com travessão.

Logo, também perceba que não recomendamos colocar a fala na continuação de um parágrafo. Devemos começar um novo parágrafo assim que avistarmos uma fala. O uso existe, existe, mas não é recomendável. Isso por quê? Simplesmente para evitar confusões por parte de leitores, e mesmo escritores iniciantes, além de uma certa poluição visual:

Ela estava assustada. Não sabia como fazer para ajudá-lo: — Como posso ajudá-lo?


O recomendado seria:

Ela estava assustada. Não sabia como fazer para ajudá-lo:
— Como posso ajudá-lo?


Há também outra observação! Você deve estar se perguntando: “mas, nos diálogos, quando devemos colocar letra maiúscula depois do travessão?”. Se você não perguntou tal coisa, pergunte-se. É uma ótima questão! Basta avaliarmos:

— Onde você foi ontem, João? — indagou curioso. — Não o vi em casa.


Portanto, quando há ponto de interrogação ou ponto de exclamação, a letra que iniciará a interrupção do narrador deve ser minúscula como no caso acima. Também, deve haver ponto final após a interrupção do narrador nesse caso (no exemplo: "indagou curioso."). Assim, se houver, a fala a seguir virá com letra maiúscula (no exemplo: "Não o vi...").

Porém, se o narrador interferir, sem o uso do ponto de exclamação ou de interrogação, na fala e tiver uma continuação depois, devemos colocar a interrupção em letra minúscula e não pontuar. Assim, o que vier depois da interrupção, também deve estar em letra minúscula. Isso ocorre sempre que a frase não tiver terminado ainda. Por exemplo:

— Eu te falei, menino — ela disse raivosa —, não deves te sujar no quintal.


A ideia da frase é “eu te falei, menino, não deves te sujar no quintal”. Por isso, quando adicionamos algo em seu meio, devemos respeitar a pontuação e permanecer com as letras minúsculas.

Assim, quando houver frases que não terminam com ponto de interrogação ou de exclamação, devemos não pontuar antes do segundo travessão, e a letra permanecerá minúscula.

— Eu te falei, menino — ela disse raivosa.


Caso não haja a interferência por parte do narrador, terá de possuir ponto final após a fala. Lembre-se: toda frase tem um ponto final.

— Eu falei, menino.


Assim, podemos concluir que, sempre que o narrador interromper algo, ele virá em letra minúscula. Sim! Em todos os casos! Sem exceções! Apenas cuidem a letra maiúscula ou minúscula. Quando houver um ponto de interrogação (?) ou de exclamação (!) antes da interrupção do narrador, devemos colocar ponto final depois. É o único caso.

Há também outras formas de escrevermos as falas. Uma maneira utilizada por alguns escritores consagrados, como José de Alencar e Machado de Assis, não é a mais limpa visualmente. Utiliza-se um travessão para introduzir a fala; e, depois, a pontuação é feita através de vírgulas para separar o narrador e o falante. Podemos utilizar tal forma se possuirmos alguma dificuldade com o uso dos travessões. Observe:

— Oh! exclamou Aurélia, eu daria por ela toda a minha riqueza... (ALENCAR, José. Senhora)
— Não há nada, respondi; vim ver você antes que o padre Cabral chegue para a lição. Como passou a noite? (ASSIS, Machado. Dom Casmurro)


Outra forma existente é o uso de aspas. Devido ao uso excessivo de aspas, essa pode confundir um pouco o leitor, porém também é aceita formalmente.

"Claro", digo. "Vai lá e pega você mesmo o feno. Alimenta o cavalo depois de dar de comer às mulas".
"Prefiro pagar o do cavalo", ele diz.
"Para quê?" digo. "Não nego a ninguém o feno para seu cavalo". (FAULKNER, William. Enquanto agonizo)


Apenas observe como é a pontuação. Se o narrador for interromper após uma fala, deve haver a vírgula, e a continuação deve conter letra minúscula.


2. Isolar uma expressão explicativa ou uma apositiva (uma explicação de algo) ou destacar alguns termos da oração:

Ele sofria – e como sofria – por aquele amor.
Aquele maldito homem aceitou o cargo – e que comece a minha tortura!
Admirava Martin Luther King — aquele grande homem que lutou pelo povo.


Em alguns casos, o travessão poderá ser substituído pela vírgula ou pelos parênteses. Ou seja, o uso é facultativo, opcional.

Admirava Martin Luther King, aquele grande homem que lutou pelo povo.
Admirava Martin Luther King (aquele grande homem que lutou pelo povo).


Veja o seguinte caso:

A prova, já iniciada — pois já eram nove horas e meia da manhã —, estava muito difícil.


Intercalamos uma oração, um conjunto de palavras que gira ao redor de um verbo, entre vírgulas; então, a próxima vírgula deverá vir após o travessão. Nunca antes! Na frase anterior, teríamos: a prova, já iniciada, pois já eram nove horas e meia da manhã, estava muito difícil.

3. Substituir os dois pontos:


Ele sabia que aqueles homens eram assim — reclamavam, mas não mudavam.


Poderia ser:

Ele sabia que aqueles homens eram assim: reclamavam, mas não mudavam.



4. Dar uma pausa mais enfática (enfatizar):


Admirava Martin Luther King — aquele grande homem.



Quando não podemos utilizar o travessão:

1. Para indicar uma declaração. Nesse caso, é obrigatório o uso das vírgulas. Por exemplo:

Por isso, o Brasil merece, concluiu o presidente, ser um país de todos.


2. Colocar duas vezes no mesmo período:


Admirava Martin Luther King — aquele grande homem — e cobiçava ser como ele um dia — uma pessoa de princípios.


Isso pode confundir o leitor; então, evite essa “poluição visual”.

3. Pontuar depois do travessão em alguns casos! Devemos fazê-lo antes. As reticências, o ponto de exclamação ou o de interrogação devem estar antes do segundo travessão.

Admirava aquela bela mulher — e que bela! — enquanto caminhava pelo calçadão de Copa Cabana.


Assim, podemos concluir o que está escrito acima com uma única sábia frase:

"Dos sinais de pontuação, o travessão é uma dos mais requisitados atualmente, pelo fato de proporcionar mais clareza do que as vírgulas nas intercalações longas e maior ênfase nos destaques." (M. T. Piacentini)

Função da meia risca (–)

É uma pontuação menor que o travessão (—) e maior que o hífen (-).

É comum confundirmos a meia risca com o hífen. Cuidado! Utilizamo-la para:


1. Ligar palavras que possuem uma ligação ou para aproximá-las, mas sem formar palavras compostas:

A estrada Osório–Fortaleza também é conhecida como BR-101.
As relações Brasil–China estão se tornando mais amigáveis.



2. Separar datas de nascimento e morte:

Getúlio Vargas (1882–1954) matou-se.


Veja bem que podemos utilizar o travessão quando indicarmos a cidade também:

Getúlio Vargas (São Borja, 1882 – Rio de Janeiro, 1954) matou-se.


Cumprida e detalhada, as regrinhas do travessão são incômodas. Mas nada como uma revisão para nos lembrarmos de tudo, assim como faremos com a meia risca.

Travessão
1. Indicar a fala de um personagem ou a mudança de interlocutor:
Obs.: sempre que o narrador interromper algo, ele virá em letra minúscula. Sim, sem exceções! Apenas cuidem a letra maiúscula ou minúscula. Quando houver um ponto de interrogação (?) ou de exclamação (!) antes da interrupção do narrador, devemos colocar ponto final depois. É o único caso.
— Eu te falei, menino — ela disse raivosa.
2. Isolar uma expressão explicativa ou uma apositiva ou destacar alguns termos da oração: Admirava Martin Luther King — aquele grande homem que lutou pelo povo.
3. Substituir os dois pontos: Ele sabia que aqueles homens eram assim — reclamavam, mas não mudavam.
4. Dar uma pausa mais enfática (enfatizar): Admirava Martin Luther King — aquele grande homem.


Meia risca
1. Ligar palavras que possuem uma ligação ou para aproximá-las, mas sem formar palavras compostas: As relações Brasil–China estão se tornando mais amigáveis.
2. Separar datas de nascimento e morte: Getúlio Vargas (São Borja, 1882 – Rio de Janeiro, 1954) matou-se.
Observação: pode-se colocar a cidade de seu respectivo nascimento e morte se quiser.


Ufa! Enfim acabamos! Foi ótimo poder compartilhar essa aula com vocês. É muito gratificante saber que somos capaz de ajudá-los. Esperamos vê-los em breve... E aguardamos também sugestões, críticas e comentários. Até breve!

Letícia Silveira e Lady Salieri.