Obi Wane-Shots
O resgate
Correndo desesperadamente, seguindo apenas a própria intuição, Satine sentia a esperança de conseguir escapar com vida se esvaindo aos poucos. Talvez fosse hora de aceitar que não viveria o suficiente para se tornar governante de Mandalore, pois a morte estava em seu encalço. Tendo sido capturada por um grupo de caçadores de recompensa altamente treinados, tudo o que restava a jovem Duquesa era aceitar seu triste fim. Eles não negociariam sua liberdade, não aceitariam trocas. Sua vida era o bem mais precioso que possuíam.
O cansaço começou a dominar seu corpo. Suas pernas se tornaram pesadas e recusavam-se a obedecer seus comandos. Apenas seu cérebro continuava funcionando a todo vapor, mentalizando uma maneira de escapar de sua prisão.
Satine então parou um instante para recuperar o folego. Com a cabeça abaixada e as mãos apoiadas no joelho, tentava inutilmente respirar. Tinha conseguido uma boa vantagem, mas não duraria muito. A base não era grande o bastante para que ela conseguisse se esconder por muito tempo e não haveria outra oportunidade para sua fuga. Se a capturassem novamente, não seria levada para a cela fedorenta na qual fora feita prisioneira nos últimos dois dias. Não, ela seria imediatamente levada para ser executada em praça publica, na frente de todos os seus futuros súditos. Alguns provavelmente aplaudiram e comemorariam sua execução; outros, aqueles que acreditavam em seus ideais pacifistas, lamentariam sua morte.
Pelo menos, pensou a loira, não seria esquecida facilmente. Depois dela, outros surgiriam. Nem tudo estava perdido...
Ao levantar os olhos, seu coração parou por alguns segundos. Era definitivamente o fim da linha. Havia corrido em direção a um beco sem saída. Não havia portas, nem escotilhas, nem mesmo um duto de ventilação pelo qual pudesse se rastejar para fora do complexo. Havia apenas uma parede de concreto revestida de placas metálicas e uma janela pequena por onde a luz do sol entrava.
O ultimo fio de esperança se rompera. Não tinha mais para onde correr. No fim, morreria sem ao menos ter tido a chance de provar para seu povo que era digna de governa-lo. Sem a chance de se despedir dele...
O som de passos se aproximando tornava-se mais alto a cada segundo. Eles a encontrariam a qualquer momento e ao contrario da primeira vez em que foi capturada, ela não iria reagir. Não faria nada. Aceitaria seu destino sem lutar. Estava cansada demais para continuar lutando contra tudo e contra todos.
Satine se virou, pronta para encarar seus capatazes. Inspirou fundo e ergueu o rosto. Suas pernas tremiam por causa do esforço que fizera para chegar até ali e seu coração batia acelerado. Suor escorria pelo rosto, fazendo com que alguns fios louros grudassem em sua testa. Um estado deplorável para uma Duquesa.
O que seu pai estaria pensando? Estaria orgulhoso por ela ter resistido por tanto tempo Ou envergonhado por ela estar desistindo? Possivelmente, a ultima opção. Ele, que lutara até seu ultimo suspiro, jamais se entregaria sem resistir.
Um som esquisito chamou sua atenção e ela direcionou seu olhar para cima. Alguma coisa brilhante e muito quente estava perfurando as placas metálicas que revestiam teto. Quando completou um circulo completo, a placa sobressalente caiu bem próxima aos pés petrificados da Duquesa que continuava a encarar o teto, curiosa. Um vulto então passou pelo buraco recém-aberto e aterrissou no chão, agachado.
O jovem se endireitou rapidamente e lançou um sorriso radiante para Satine, que custou a acreditar no que estava vendo.
— Obi Wan! — Gritou a loira ao se jogar nos braços do padawan, que cambaleou de encontro à parede. — Eu não acredito que você está aqui!
O rapaz a envolveu num abraço carinhoso, apertando-a com força. Queria garantir que ela nunca mais se afastasse de seus braços novamente.
— Satine. — Obi Wan afundou o rosto nos fios louros envoltos no pescoço da Duquesa. — Que bom que ainda esta viva.
Seu alivio era evidente. Nos últimos dias, sentiu como se seu coração estivesse sendo esmagado aos poucos conforme o tempo passava e eles não tinham noticias de Satine. Ele e seu mestre vagaram floresta adentro sem descanso, em busca de alguma pista que os levassem até onde ela estava sendo mantida em cativeiro. Qui-Gon chegou a cogitar a hipótese de que fosse tarde demais, mas Obi Wan se recusou a acreditar nisso.
— Oh, Ben... — Satine se afastou de Kenobi e o fitou. — Eu pensei que nunca mais o veria. Pensei que morreria sem poder me desped...
— Não diga bobagens. — Obi Wan a interrompeu gentilmente, acariciando lhe o rosto. —Estou aqui, não estou? E se depender de mim, não vamos morrer hoje.
Kenobi estava prestes à volta sua atenção para o grupo de caçadores que corriam em sua direção, quando foi surpreendido pelas mãos da Duquesa agarrando seu rosto. Sem hesitação, ela o puxou para perto de si e lhe beijou. Quando seus lábios se tocaram, encaixando-se perfeitamente, o padawan teve a sensação de estar flutuando. O hálito doce da Duquesa o deixou completamente alheio ao que estava acontecendo ao redor. Nem mesmo o som das armas blasters sendo ativadas e apontadas contra sua nuca o despertou do entorpecimento momentâneo causado pelo prazer que estava sentindo formigar pelo corpo.
— Já chega de fugir Duquesa — Gritou um dos homens. Usava um colete surrado e portava duas pistolas blasters, direcionadas para os dois a poucos metros de distancia. — Não vai conseguir escapar dessa vez!
A ameça não surtiu o efeito esperado. O beijo que começou tímido tornou-se mais intenso, pois fora correspondido por Obi Wan. Com as mãos segurando firmemente o rosto da loira, ele não parecia disposto a encerrar o beijo. Ela tampouco.
— Peguem eles. — Ordenou outro caçador, esse vestido com uma armadura Mandaloriana. — Quero o Jedi também.
Três dos quatro capangas marcharam em direção a Obi Wan e Satine e foi nesse momento que eles finalmente se afastaram, ofegantes e extasiados.
— Isso foi... — Obi Wan engoliu em seco. — Foi incrível.
Satine piscou os olhos até conseguir focar no cenário que se desenrolava ao redor deles. Ela também estava entorpecida com a sensação prazerosa e não percebeu que estavam sendo encurralados cada vez mais.
— Se sairmos vivos daqui... — Ela conteve seu entusiasmo. — Podemos fazer isso de novo.
— Satine, por mais que eu tenha gostado, o que claramente não é o caso por motivos óbvios — o padawan tentou soar indiferente ao ocorrido, mas falhou totalmente. Satine o encarava abismada por causa das palavras vazias — eu nem quero pensar no que Mestre Qui-Gon faria conosco se soubesse. — Obi Wan estremeceu e apanhou seu sabre de luz calmamente, pouco se importando com os caçadores atrás de si.
— Não acho que isso seja relevante no momento Obi Wan. — Satine arregalou os olhos e apontou para além do ruivo. — Eles estão vindo!
O padawan se virou, ainda enlevado pela sensação prazerosa do beijo da Duquesa. Parecia estar sob o efeito de algum tipo de entorpecente, pois cada movimento que realizava, sentia como se estivesse nadando em águas turbulentas.
Com o sabre ativado em punho, ele colocou-se em posição de ataque. Satine se aprumou contra a parede, atrás do padawan. Obi Wan era muito habilidoso, ela já o vira em ação antes. Mas eram caçadores de recompensa altamente treinados e muito bem armados... Por quanto tempo Obi Wan conseguiria segura-los?
— Fique atrás de mim, Satine. — Kenobi parecia ter retomado o controle sobre si mesmo. —Assim que Mestre Qui-Gon jogar a corda, você a pega e sai daqui. — Ele olhou de relance por cima do ombro, em direção a loira. — Entendeu?
— Não vou deixa-lo aqui sozinho. Está louco? — rebateu Satine.
Os disparos então começaram. Obi Wan os defendeu habilmente, fazendo com que os flashs vermelhos ricocheteassem na lamina brilhante.
Nesse momento, uma grossa corda então passou pelo buraco aberto por Obi Wan. Metade dela desabou sobre o chão, enquanto o resto continuava sendo segurado por alguém na outra extremidade do buraco.
— Agora! — Ordeou Kenobi desviando outra onda de disparos que voavam em direção a eles.
— Obi Wan!
— Eu estou logo atrás de você! — Disse ele em meio ao som dos disparos.
Satine não queria deixa-lo para trás, mas quanto mais tempo enrolasse para escalar a corda, mais riscos o padawan corria, enquanto tentava protege-la com sua própria vida. Se ele se machucasse, Satine jamais se perdoaria. Relutante, ela agarrou a corda e começou a subir. A distancia entre o chão e o teto não era tão grande. O problema começou quando os disparos começaram a voar em sua direção.
Continuou subindo, mas de olhos fechados. Embora não entendesse sobre os fundamentos da força como os seus guardiões Jedi, Satine se viu implorando a força para que eles conseguissem escapar com vida. Não sabia se seu pedido seria atendido, mas quando sentiu uma mão segurar a sua com força, foi que ela abriu os olhos e viu Qui-Gon encarando-a. Ali, soube que tudo ficaria bem.
Como prometera, Obi Wan escalou a corda logo depois. Quando passou as pernas pelo buraco, Jinn rapidamente puxou com a força o pedaço recortado e o colocou cuidadosamente no mesmo lugar, tampando a saída e impendido que os caçadores de recompensa os seguissem pela passagem improvisada. No fim, o resgate fora bem sucedido.
— Por que demoraram tanto? — Foi a pergunta que o jedi mais velho fez aos dois quando já se encontravam fora de perigo, bem longe das instalações inimigas. — Obi Wan, fiquei esperando o seu sinal para lançar a corda e nada.... O que estavam fazendo lá embaixo?
— Havia muitos caçadores de recompensa lá mestre. — Obi Wan comentou, evitando encarar seu mestre nos olhos. Estava mentindo e Qui-Gon sabia muito bem quando ele mentia. — Eu estava ocupado, dando tempo para que Satine pudesse escapar. Acabei me esquecendo de mandar o sinal.
— Foi isso mesmo? — Qui-Gon fuzilou Satine, que até então se mantivera calada.
— Foi — Ela pigarreou constrangida — Foi exatamente isso.
Com um olhar penetrante, Qui-Gon fuzilou os dois jovens prostrados um ao lado do outro, que olhavam para os próprios pés. Não precisavam contar a verdade, pois ela estava estampada no rosto dos dois devido à vermelhidão que dominava suas faces. Ele tinha até medo de imaginar o que de fato estavam fazendo para fazê-los esquecer de que estavam fugindo para garantir a própria sobrevivência. O que quer que tenha sido fora uma perigosa distração. Uma distração que poderia ter custado à vida de todos.
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