Eu estava em algum lugar com muitas árvores, olhava pros lados tentando encontrar algo ou alguém, mas evitava olhar pra trás. Depois de andar um pouco eu saí daquela área que parecia ser uma floresta e vi que estava realmente em um lugar meio afastado de grande parte da sociedade, embora conseguisse ver uma estrada. Subi por um tipo de gramado meio diagonal, tomando cuidado pra não cair pra trás, e cheguei à estradinha que ficava meio junto de um tipo de rochedo ou montanha (não sei se tem diferença).

Fiquei olhando ao redor na esperança de avistar alguém, inclusive na direção da floresta que eu a princípio tinha medo de olhar pra trás e ver melhor. Ninguém aparecia. Até comecei a fazer sinal de quem pede carona achando que um carro magicamente ia aparecer, mas nada. Era como se eu fosse a última pessoa do mundo. Olhei pra baixo e pude confirmar que estava usando um uniforme de escoteira. Isso significava que eu estava perdida. Estava sol mas eu tinha medo de anoitecer e alguma criatura aparecer pra me devorar. Resolvi pedir ajuda pra Joana.

Ah, ainda não falei da Joana. Ela é uma amiga imaginária com quem eu costumava conversar, mas hoje em dia raramente consigo falar com ela. Dei esse nome pra ela porque na oitava ou nona vez que eu assisti o filme da Frozen eu me atentei à uma parte que a Anna apontava pra um quadro da Joana D’Arc e dizia “Firme aí, Joana?” e achei que seria um nome legal. Ela não tem forma fixa porque eu ficava querendo desenhar ela e nunca me sentia satisfeita com o resultado, então decidi que ela pode ter qualquer forma mas normalmente intercala entre ser invisível, morar dentro da minha cabeça ou ser um ser celestial com uma voz que vem do além.

Olhei pro céu, coloquei minhas mãos dos lados da boca e disse:

— Firme aí, Joana?!

— Sim. – disse a voz feminina vinda do além.

— Que saudade! Pode me ajudar? Eu acho que me perdi dos meus amigos.

— Por que não tenta entrar naquela floresta?

— Não, ali eles não estão!

— Tente escalar o que sobrou desse rochedo, aí terá uma visão bem alta e poderá encontrar aqueles que procura.

Olhei com cara de pensativa pro rochedo. Não é o tipo de coisa que eu normalmente conseguiria, mas pensei “ei, eu devo estar num sonho, dá pra fazer isso”. Aí eu fui dando um jeito de pressionar os dedos na rocha e eles afundavam pra dentro delas o suficiente pra me dar apoio, e eu consegui ir subindo.

— Obrigada, Joana! – falei, sorrindo.

Consegui rapidamente chegar no topo. Comecei a olhar em volta e não conseguia ver um lugar que parecesse ter um acampamento ou pessoas.

— Você está bem, Yumi?

— Não, Joana. Eu estou com medo. – falei, apertando meus braços com as mãos. – Eu tô com medo de ficar muito tempo perdida e quando me encontrarem zombarem de mim de novo dizendo que eu não tenho a esperteza esperada de uma asiática. Não suporto isso. Talvez até prefira não ser mais encontrada.

— Já falei outras vezes pra você não se importar com isso.

— Eu não me importar não faz esse estigma sumir. Ou “essa” estigma? Não lembro o gênero da palavra.

— Se me esclarecer mais uma ou duas coisas acho que vamos encontrar o que você está procurando.

— Diga. – Pedi, olhando pra cima.

— O que exatamente você está procurando? De forma bem específica.

— Meus amigos da escola... – falei, com uma voz um pouco mansa, como se estivesse com um mal pressentimento ou começasse a ouvir uma música extremamente discreta de filme de terror.

— Mas você tem amigos? – perguntou Joana, enquanto eu começava a abaixar a cabeça.

Eu literalmente acordei do nada. Me pergunto se era pra ter acontecido mais algo ou se de alguma forma minha mente queria caminhar pra algo anticlimático. Não quero pensar em teoria muito cedo.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.