Tales of Star Wars
Ossos (Ahsoka)
Mais uma vez, todo o treinamento que Anakin havia lhe dado fora útil. Afinal, apenas isso (ou um milagre) teriam feito com que ela conseguisse furar o bloqueio e adentrar o planeta sem ser detectada. Sair seria outro desafio, mas ela poderia deixar para se preocupar com isso mais tarde. No entanto, Ahsoka Tano sabia que estava no caminho certo, uma vez que não fazia sentido algum aquela concentração tão grande de naves imperiais ao redor do planeta. Algo muito grave ou muito importante (ou os dois) havia acontecido ali para chamar tanto a atenção do Império para aquele planeta isolado nos confins mais perdidos da Orla Exterior.
Sobrevoando o planeta a menos de cem metros de altura para evitar ser identificada, Ahsoka observou a sua superfície vulcânica. Rios de lava escaldante correndo até onde a vista alcançava e colunas de fumaça se elevado ao céu. Com certeza, um lugar insalubre e desagradável para se estar. Não era uma surpresa o planeta ser praticamente desabitado. Definitivamente, ela não mudara em nada a sua opinião sobre o local desde a última vez em que estivera ali.
Ahsoka foi tirada de seus pensamentos pelo bipe do droide acoplado à sua nave.
— O que foi, R3? – ela perguntou e o droide bipou novamente. – Construção? Naves? Acho bom evitarmos isso então, não é?
Ahsoka apertou os olhos e, à distância, conseguiu ver o que o droide se referia. Muitos quilómetros à frente, no alto de um imenso precipício e sob uma cachoeira de lava, algumas naves estavam agrupadas. Aparentemente, uma fortaleza estava sendo construída lá. O interesse do Império no planeta era realmente grande demais para ser uma simples coincidência, e isso deu esperanças à Ahsoka. Sua fonte estava correta e ela tinha certeza que descobriria algo lá.
Com a intenção de evitar as naves imperiais, a togruta diminuiu a sua altura de vôo em alguns metros e desviou o seu caminho. Estava voando a uma altura perigosa, precisando desviar de algumas formações rochosas com frequência, quando o droide bipou novamente.
— Abandonada? Tem certeza? – Ahsoka estava curiosa. – Por que o Império abandonaria uma base assim se está tão interessado no planeta?
Novamente, o droide bipou.
— Isso mesmo, R3, eu vou lá conferir.
Guiada pelas coordenadas fornecidas pelo droide, Ahsoka direcionou sua nave para a antiga instalação que, segundo seu droide, estava abandonada. Após alguns instantes, ela conseguiu identificar a construção no horizonte e, realmente, a impressão era de que nada vivo passava por lá a muito tempo: todas as luzes estavam apagadas, os escudos estavam desligados e, por causa disso, uma boa parte da construção já havia sido destruída por respingos de lava.
Sem confiar na estabilidade da estrutura (e não querendo perder sua única chance de sair viva daquele planeta), Ahsoka achou mais prudente pousar a nave em terra do que na frágil e danificada pista de pouso da estação, posicionada diretamente sobre um intimidador rio de lava flamejante. Uma vez que ela pisou na rocha vulcânica da superfície do planeta, R3D9 se ejetou de seu compartimento, seguindo-a.
Ahsoka cobriu-se com o capuz de sua túnica e avançou pelo solo rochoso de Mustafar até a estação abandonada, crente de que cada passo que desse em seu interior seria marcado por assustadores rangidos da precária e danificada estrutura de metal. Felizmente, ela estava enganada: apesar das aparências, a estação parecia firme quando Ahsoka a adentrou.
Mas essa sensação de alívio logo se desfez. Bastaram alguns poucos passos estação adentro para que a espinha de Ahsoka congelasse em um calafrio aterrorizante. A Força era intensa naquele lugar e nada e nem ninguém precisava dizer para a jovem togruta que algo muito traumático e terrível havia acontecido ali. Estava no ar que ela respirava, no chão que ela pisava... Uma angústia avassaladora que a impedia de se concentrar. Por um instante, ela foi dominada pelo medo, esquecendo-se completamente de seu objetivo naquele lugar amaldiçoado.
Vendo-a imóvel, o droide bipou.
– Não foi nada, R3 – Ahsoka respondeu, sendo retirada de seu transe.
Ela inspirou fundo e avançou, descendo algumas escadas até que se encontrou em um apertado corredor. Lá, ela apenas confirmou o que já lhe era óbvio: algo havia acontecido naquela estação. Ao longo de toda a extensão do corredor, as paredes de metal estavam gravadas com marcas de sabres de luz. Uma concentração muito grande delas. Aquele fora um duelo mortal, sem dúvidas...
Conforme Ahsoka avançava pelo corredor, a sensação angustiante que sentira ao adentrar a estação apenas se intensificava. Como se a cada passo ela estivesse se aproximando de algo sombrio... O que literalmente estava acontecendo. No fim do corredor, ao passar por um arco de metal, ela se encontrou uma ampla sala. Mas estava escuro demais para que ela conseguisse ver qualquer coisa que se encontrasse lá.
— R3, consegue energizar a estação?
O droide bipou em resposta e se adiantou ao plug na parede, conectando-se a ela. Em poucos segundos, as luzes estavam acesas.
Era uma sala de comando, com dezenas de telas nas paredes e uma mesa central. Mas o que mais chamava a atenção de Ahsoka era a presença de muitos droides de batalha separatistas destruídos espalhados pelo chão, juntamente com seus blasters. Novamente, suas carcaças continham inúmeras marcas de sabre de luz. Ahsoka os observou por alguns instantes antes de adentrar a sala, mas recuou assustada quando percebeu uma coisa.
Não havia apenas droides de batalhas. Espalhados pela sala, havia dezenas de corpos sem vida. Àquela altura, todos já haviam se decompostos, de forma que apenas os ossos podiam contar a história. Novamente, Ahsoka inspirou fundo antes de seguir em frente, temendo cada vez mais o que poderia encontrar naquele lugar que, aos poucos, se revelava não apenas uma base, mas o palco de um massacre. Observando os ossos do primeiro corpo à sua frente, Ahsoka concluiu que se tratava de um geonosiano. Outros dois corpos à frente ela não conseguiu reconhecer.
Mas havia um quarto corpo. E, apesar de ela não conseguir distinguir pela ossada a qual espécie pertencia, ela reconheceria aquelas roupas em qualquer luar da galáxia: sempre em tons de vermelho com aquela tiara e aquele colar extravagantes. Não podia ser outra pessoa que não o desaparecido Vice-Rei Gunray, da Federação de Comércio. Incapaz de acreditar no que estava vendo, Ahsoka olhou a sua volta novamente. O vice-rei... Um geonosiano... A conclusão de Ahsoka fora quase imediata: aquela estação era o túmulo de todos os membros do Conselho Separatistas que estavam vivos ao final das Guerras Clônicas.
— R3, baixe todos os arquivos que conseguir salvar dos computadores – disse Ahsoka, ainda em choque devido à sua descoberta. – Arquivos, mensagens, vídeos das câmeras de segurança... Eu quero absolutamente tudo o que você conseguir!
Novamente, droide bipou em resposta e se adiantou até o plug, conectando-se mais uma vez. Mas, em poucos segundos, ele se desconectou do plug na parede e se voltou para Ahsoka, bipando para ela.
— O quê? – ela não conseguia acreditar. – Foi tudo deletado?!
— Mas é claro que sim.
A espinha de Ahsoka congelou quando aquela voz chegou aos seus ouvidos. Apavorada, ela se virou velozmente para encarar quem quer que fosse que estivesse com ela ali. Parado abaixo do arco de metal pelo qual ela passara instantes antes, estava um homem. Magro, alto e vestido de preto da cabeça aos pés, com a cabeça coberta por um capacete de metal e com uma armadura cujas ombreiras ostentavam o símbolo do Império. Em sua mão direita, um sabre de luz com a empunhadura circular.
— Ou você foi inocente o suficiente para achar que o Imperador iria deixar todo esse conteúdo exposto e correr o risco de ele ser divulgado? – perguntou o homem.
— Você é um Inquisidor!
O homem riu.
— Excelente – ele disse, avançando a passos lentos para o interior da sala de comando. – Isso dispensa apresentações. E você é Ahsoka Tano, não é?
Aquilo era um problema. Se conseguisse escapar viva daquele lugar, o fato de que ela havia sobrevivido à Ordem 66 seria divulgado e o Império iria começar uma caçada ativa contra ela. Intimamente, Ahsoka se culpava. Como não previra isso? Como fora tão descuidada a ponto de se deixar ser seguida? Mas esse sentimento logo se dissipou, dando lugar ao medo. Se ele a seguira até ali, quem mais? Àquela altura, toda a estação podia estar cercada por stormtroopers. Se assim o fosse, não teria saída. Estava perdida. Estava condenada.
Apavorada, Ahsoka retirou de seu cinto uma arma e apontou para o homem.
— Eu não quero te matar, mas vou se for necessário! – ela o ameaçou.
Mas ele a ignorou, mantendo seu caminhar lento. Como dois felinos prestes a se atacarem, eles circulavam a grande mesa central da sala, encarando-se.
— Você deu muito trabalho pros stormtroopers em Corellia, sabia? – disse o homem. – Quantos você matou, mesmo? Trinta e dois? Trinta e três? Até então, não havíamos identificado o responsável. Você fez um trabalho muito eficiente para apagar o seu rastro, devo te parabenizar. Mas, agora, o Imperador e o Lorde Vader ficarão satisfeitos em saber que você ainda está viva. E, com uma captura desse porte, talvez eu até seja promovido...
Diante das ameaças, Ahsoka disparou. Mas o Inquisidor foi igualmente rápido: acionou seu sabre de luz no mesmo instante, desviando o tiro para a parede com um movimento rápido antes de pular sobre a mesa. Agora, ele caminhava em direção à Ahsoka em linha reta e ela não tinha para onde fugir.
— O Grande Inquisidor ordenou que eu a levasse com vida – disse o homem, cada vez mais próximo. – Tudo pode ocorrer bem se você colaborar, mas eu vou precisar te levar em pedaços se você resistir.
Em sua busca por saber o que havia acontecido a Anakin, Ahsoka havia enfrentado os mais diversos perigos e situações. Mas aquela era a primeira vez em que ela se arrependia de ter abandonado seus sabres de luz. Não havia como enfrentar aquele homem sem eles. Estava perdida.
— Ou você pode me contar o que está buscando com tanto afinco – sugeriu o Inquisidor. – Eu te mato aqui e agora de uma forma rápida e limpa e, então, evitamos toda a dor e sofrimento do longo interrogatório que o Grande Inquisidor está planejando pra você. Acredite em mim, é uma opção a ser considerada, Ahsoka.
O Inquisidor saltou da mesa, caindo em frente a Ahsoka e brandindo seu sabre de luz em direção a ela em um golpe rápido. A jovem togruta, no entanto, foi mais ligeira. Prevendo o movimento, abaixou-se e se afastou e, quando se levantou, mirou seu adversário novamente e atirou por duas vezes. Infelizmente, seus disparos foram, mais uma vez, desviados pela lâmina vermelha. O Inquisidor estendeu o braço em direção a ela e usou a força para arremessa-la para frente, prendendo-a contra a parede a pouco menos de um metro de altura e sufocando-a.
No instante seguinte, Ahsoka conseguiu senti-lo em sua mente. Ele estava dentro de sua cabeça, vasculhando suas lembranças. Centenas de imagens de Anakin piscavam diante de seus olhos. Do dia em que o conhecera até o dia em que ela o deixou sozinho na entrada do Templo Jedi quando abadonou a Ordem. Imagens de seu último encontro, quando ele a deixava para ir salvar o chanceler... Imagens vívidas de seu rosto, como se ele estivesse à sua frente naquele exato instante.
— Então, você está procurando o seu mestre? – questionou o Inquisidor, zombando dela. – Que bonitinho... Você fez tudo isso com a esperança de ajuda-lo... Realmente, você é uma aluna muito dedicada e fiel. Uma pena que não tenha se curvado ao lado sombrio.
— Eu não quero ajudar ele – protestou Ahsoka, aos berros. – Vocês mataram ele! Eu só quero o corpo.
— Matamos? – questionou o Inquisidor. – Você sabia que a grande maioria dos Inquisidores são Jedi caídos, não sabia?
Ahsoka sabia onde ele queria chegar com isso, sabia o que ele queria dizer. Mas era verdade. Não podia. Ela não conseguia acreditar nisso. Ela se recusava a acreditar.
— Mentiroso! – ela gritou, o medo em seu coração se transformando em fúria. – Anakin nunca se uniria a vocês! Eu conheço ele. Ele preferiria morrer a se juntar ao lado sombrio!
O Inquisidor riu, deixando Ahsoka ainda mais furiosa.
Mas, para ele, aquele já era um serviço que estava demorando a ser cumprido. O Inquisidor brandiu o sabre de luz acima da sua cabeça, pronto para desferir um golpe mortal em Ahsoka. Foi nesse momento que, acoplado ao plug na parede, R3 desligou a energia.
Pego de surpresa, a ausência de luz distraiu o Inquisidor por um instante, o suficiente para que Ahsoka conseguisse o empurrar para trás com a Força e se soltar da parede. Uma vez no chão e aos gritos de “Vamos embora, R3”, a togruta disparou pela escuridão em direção ao local onde ela se lembrava ficar a entrada para o corredor. Enquanto corria, ela disparava contra o homem que, com a ira estampada em seu rosto, vinha logo atrás dela, bloqueando os disparos com o sabre de luz.
Ahsoka estava muito próxima da saída quando o Inquisidor a bloqueou, baixando a grossa porta de metal com a Força. Pega de surpresa, Ahsoka desviou o seu caminho, atirando contra seu perseguidor ao mesmo tempo em que quase caia ao trombar repetidas vezes em R3, que deslizava pelo chão à velocidade mais rápida que sua rolagem lhe permitia.
O Inquisidor, impaciente, empurrou os dois com a Força. R3 desabou enquanto Ahsoka rolou por alguns metros, conseguindo se por em pé rapidamente e inicia a descida de alguns degraus. Infelizmente, não havia como ficar para ajudar R3.
No entanto, ela se arrependeu do caminho que havia tomado poucos segundos depois, quando se viu na plataforma de pouso sobre o rio de lava, sem ter para onde fugir.
— Se você colaborar, isso pode ser rápido – disse o Inquisidor.
Ahsoka o ignorou.
Apontou a arma para ele e disparou por cinco vezes. Com a mesma facilidade de antes, o Inquisidor desviou os disparos com seu sabre de luz. O último, no entanto, mandou de volta para Ahsoka. O jato de luz a atingiu diretamente sobre a coxa esquerda. Ela gritou de dor e, incapaz de se sustentar em pé, caiu ao chão. O movimento seguinte do Inquisidor foi imediato: ele fechou a mão e torceu o punho. Entre seus dedos, a arma de Ahsoka se estilhaçou em dezenas de pedaços de metal.
Inutilmente, Ahsoka se arrastou para traz, sabendo que isso apenas retardaria a sua morte. Com a disputa vencida, o Inquisidor brandiu seu sabre de luz, pronto para a atacar e crente que aquele era o último golpe daquele rápido combate. Mas não foi.
De trás do Inquisidor, R3 o eletrocutou. Enquanto se retorcia e gritava de dor, o homem soltou o seu sabre de luz, que caiu ao chão. Era a única oportunidade de Ahsoka.
Antes que a arma tocasse o solo da plataforma, a togruta a agarrou e a acionou. Mantendo-se apoiada apenas com a perna saudável, Ahsoka descreveu um ar no ar com a lâmina vermelha e, no instante seguinte, as duas mãos do Inquisidor caíram ao chão, separadas de seu corpo.
Com ele ainda sendo eletrocutado, Ahsoka o empurrou com a Força.
O homem foi jogado pelo ar enquanto gritava de dor. Seu corpo quicou violentamente contra a plataforma de metal antes de escorregar pela borda lateral e iniciar sua queda em direção ao rio de lava que se encontrava abaixo. Ahsoka ouviu o grito do Inquisidor por alguns rápidos segundos e, então, houve silêncio.
Ahsoka permaneceu imóvel por alguns instantes, tentando absorver o que havia acabado de acontecer e apenas ouvindo o som de sua respiração que, aos poucos, ia se normalizando. Estava viva, mas vitoriosa de um combate sem honra alguma. Uma vitória covarde que a fazia se sentir culpada e, ao mesmo tempo, feliz por ter a oportunidade de continuar com sua busca.
Deixando o sabre luz ao chão e sentindo uma dor enorme ao pisar com a perna ferida, Ahsoka conseguiu se levantar com alguma dificuldade enquanto R3 se aproximava dela.
— Obrigada, R3 – ela disse. – Eu não teria conseguido sem você.
Ele bipou em resposta.
— Vou ficar bem – ela disse. – Mas vou precisar me apoiar em você pra chegar até a nave.
Lentamente, Ahsoka caminhou mandando, apoiada em R3, para longe da plataforma. Já estava quase fora dela quando parou e olhou para trás. Tudo teria sido bem menos grave se ela tivesse um sabre luz. E, à sua frente, no local onde estava poucos instantes antes, havia o sabre de um Inquisidor. Com dois cristais Kyber em seu interior.
A jovem pulou em uma perna só de volta até o sabre o mais rapidamente que pode e se abaixou para pegá-lo. Podia purificar aqueles cristais, conhecia o ritual para isso. Feliz em ter conseguido as bases para sua mais nova arma, ela voltou com R3 de volta à sua nave, começando a se preocupar em como faria para furar o bloqueio novamente e, finalmente, deixar aquele plante amaldiçoado para sempre.
No fundo, apesar de ter conseguido os cristais, Ahsoka estava infeliz. No fim das contas, sua jornada até ali não havia resultado em nenhuma nova pista para continuar sua jornada. Afinal, ela se recusava a acreditar que Anakin... seu mestre... seu amigo!... havia sucumbido ao lado sombrio.
Mas não ia desistir.
Após entrar na nave e fechar a escotilha, Ahsoka levantou vôo. Acharia Anakyn Skywalker onde quer que ele estivesse e mataria quantos stormtroopers ou Inquisidores fossem necessários para isso.
Devia isso a ele.
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