15 de Julho
Palavras não bastam..
— Preciso de um perímetro entre os quarteirões que seguem até o rio! – anunciou o detetive encarregado aos demais enquanto corriam cautelosos até a localização informada.
A polícia local se mobilizou rapidamente ao receber um alerta que o distrito de Tonami, nas imediações da estação, estava sob ataque. Devido à surpresa, somente os heróis mais próximos conseguiriam chegar a tempo, qual era o caso de Bakugou Katsuki, que ajudava a evacuar os civis de um dos locais atacados.
— Estão todos aqui? – gritou para o aglomerado de pessoas que eram atendidas por paramédicos. O primeiro local em que o vilão deu as caras foi em um prédio residencial de 20 andares, que no momento estava quase desabando com os bombeiros resfriando as paredes para apagar o fogo.
— Meu primo não está aqui.. Ele disse que precisava tentar salvar o máximo de documentos do seu trabalho.. – relatou a moça em choque.
— Droga.. Qual andar?
— No.. Último.. Apartamento.. – devido ao seu quadro debilitado e por ter inalado muita fumaça, a jovem acabou desmaiando e não conseguiu terminar de falar. Os paramédicos a colocaram numa maca rapidamente e a levaram para uma ambulância.
— É.. Vai ser do jeito difícil..
Dito isso, o loiro apontou as mãos para o solo e gerou duas explosões o impulsionando em direção à cobertura do prédio. Devido ao vento, seu pouso foi suave, não debilitando mais ainda a estrutura pelo impacto, mas ele não tinha tempo a perder então correu em direção as escadas e entrou naquele inferno.
Se a porta estivesse fechada, com certeza não seria recomendado acessar o local por esse caminho, pois com certeza causaria uma explosão. Com uma máscara no rosto Bakugou avançou no corredor gritando entre as portas tentando localizar o cidadão, mas o nível do incêndio dificultava sua percepção.
— Tem alguém aí? – gritou na escada de incêndio caso ele tivesse descendo, mas sem obter respostas voltou a procurar pelos andar.
Katsuki adentrou um cômodo seguindo um barulho que reverberou no corredor e foi surpreendido ao passar da porta, suas costas estalaram com a força do chute que recebeu, voando para o outro lado do cômodo. O jovem de olhos vermelhos tentou levantar, mas estava tonto e seus braços não respondiam, assim como as pernas devido a forte dor que sentia, provavelmente suportável devido à adrenalina. A última coisa que viu foi um flash verde iluminar o ambiente e pendendo a cabeça para o chão, viu o início do que parecia ser uma dança de luz, entre o foco preto que o nocauteou e o verde que passou acima de sua cabeça, se desfocando conforme ia perdendo a consciência.
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O beep clássico do aparelho de sinais vitais ecoava pelo quarto silencioso. Devido ao ataque, o hospital Municipal Tonami estava lotado, então Bakugou foi levado às pressas para o hospital Tonami Sunshine.
O jovem estava hospitalizado em um quarto particular. Sua cabeça, assim como braços e pernas estavam enfaixados por conta do trauma e membros quebrados. Sua respiração fraca era auxiliada por aparelhos, assim como demais necessidades básicas.
Ao lado da janela do quarto uma poltrona confortável o suficiente para se deitar era utilizada por outro rapaz, de cabelos verdes, que também tinha ataduras e faixas, mas apresentava uma condição melhor que o loiro. Esse estava ali desde que o mesmo deu entrada na clínica, tanto por zelo como por telo levado para lá, velando seu sono a espera de qualquer sinal de vida, mesmo tendo conhecimento do quadro estável do outro.
— Sr. Midoriya – chamou o Dr. Wasaei ao entrar no quarto, acordando o jovem que já estava de pé ao ouvir seu nome – Ele acordou em algum momento?
— Não..
— Fique tranquilo, como sabe ele não apresenta risco de morte. Inclusive vim recomendar que você fosse para casa, meu jovem.
— É que eu não sei se vou conseguir dormir sabendo que o Kacch.. O Katsuki está internado.. – respondeu triste se sentando na cadeira ao lado da cama e passou a encarar Bakugouu como se o mesmo fosse a Monalisa. – Nem mesmo um suspiro ou algo do tipo..
— Ele não deve acordar antes da Vitaly chegar, mas como eu disse, não tem com que se preocupar. Por falar em se preocupar, peço que me ligue amanhã para conversarmos sobre o resultado dos seus exames.
— Devido ao meu histórico, acho que sabemos o que vou ouvir, Wasaei-sama..
Izuku involuntariamente afastou uma mecha do cabelo rebelde do amigo de infância, gesto que o mesmo repete muito ao invés de aparrar os fios. Quando percebeu que encarava o loiro por muito tempo com alguém por perto, inevitavelmente ficou vermelho. Não tinha o que se preocupar se a neta da Recovery Girl, Vitaly estava a caminho. Graças à individualidade dela que permite restaurar danos em matéria orgânica e inorgânica, o loiro estava em boas mãos.
— Já que a Vitaly está a caminho e o senhor diz que está tudo bem.. Meu telefone está na ficha dele, qualquer atualização me avise. O mínimo que seja, eu insisto – o jovem de cabelos verdes cumprimentou o médico rapidamente e com a mesma velocidade deixou o quarto em direção ao estacionamento. Ele estava em choque devido à situação atual.
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Em sua cama, o jovem esverdeado tentava a todo custo dormir, porém sua mente estava em outro local. Saber que se ele tivesse chegado alguns segundos depois, o outro poderia não estar vivo, é algo difícil de digerir. Um tipo estranho de medo, algo que nunca sentiu e que decididamente não queria sentir nunca mais.
Midoriya não se recorda desde quando conhece Bakugou Katsuki, suas mães eram amigas, então os dois meio que viraram amigos por tabela. Claro, as coisas mudaram quando Katsuki despertou sua individualidade e passou a se ver como um ser extremamente superior a todos, mas independente de tudo, Izuku guardava com carinho o dia em que percebeu que sentia algo diferente pelo dono dos olhos vermelhos.
"- Oe, Deku.. Eu já disse que você não consegue! Deixe de ser teimoso e desce dessa árvore. Ao contrário de você eu sei como escalar!
Diferente do casual, eles estavam brincando sozinhos no parque, já que os demais amigos não terminaram os deveres. Bakugou chutou a bola um pouco forte demais, de modo que a mesma ficou presa no alto de uma árvore.
— N-não, eu c-consigo! – o pequeno de olhos verdes mal conseguia falar, de tanto que tremia. Muito menos subir mais no tronco, que era seu objetivo.
—Deku, se tu cair e se machucar, minha mãe vai brigar comigo! Desce logo!
— Não, e-eu estou q-quase lá.. Ahhh – Ao tentar se mover sem firmeza, o menor perdeu o resto do equilíbrio e desceu em queda livre, gritando desesperado. – Ahhhhhh!!!
— Pare de gritar..
Quando o pequeno abriu um dos olhos, percebeu que não estava no chão. O mais velho o pegou no ar antes de cair.
— Kacchan... Você me pegou..
— Não.. – Bakugou o colocou no chão e segurou sua cabeça a virando para o local onde seria sua queda. - Não está vendo você esparramado no chão com seus braços e pernas fracotes quebrados? O que estou segurando é sua alma, agora ela me pertence! Porque eu salvei sua vida!
O pequeno Midoriya estava de cabeça baixa com suas bochechas muito vermelhas, quase apagando suas pintinhas. Ele devia ter deixado o outro pegar a bola, assim não correria aquele risco.
— Me desculpe, Kacchan.. Você pode pegar a bola?
— Não tem porque se desculpar, é o que os heróis fazem! E é claro que posso!
O pequeno de olhos vermelhos primeiramente parou para olhar a árvore e depois começou a subir rapidamente, era como se essa fosse sua segunda natureza, porém ao pisar em um galho fino demais ele se desequilibrou e caiu. Sua primeira reação foi tentar agarrar algum galho, mas como estava em uma altura considerável, descia rápido demais.
Porém, quando estava esperando machucar suas costas feio, sentiu algo amortecer o impacto. O maior abriu os olhos e qual foi sua surpresa ao ver o garoto de olhos verdes abaixo de si. Ele piscou varias vezes sem acreditar no que via, mas sua surpresa logo deu lugar ao medo quando percebeu que o mesmo não se mexia.
— Oe, Deku.. – Bakugou mexeu em seu braço, mas o mesmo não se mexeu. – Izuku..
Sem saber o que fazer, o mesmo lembrou de um programa que não teve escolha se não assistir com sua mãe, mas que prestou atenção, mesmo a contra gosto. Encostou a cabeça no peito do esverdeado e sentiu o peito subir e descer com a respiração, o que o aliviou. Procurou o pulso e mesmo não sabendo ao certo o que procurava, conseguiu sentir a pulsação e por fim se convenceu que ele estava só desacordado.
— Izuku, seu idiota..
Como começava a escurecer, Katsuki o colocou em suas costas e iniciou a caminhada em direção a casa de Midoriya, na esperança que ele acordasse antes de chegar e ouvir algo de sua mãe.
Quase em frente à casa do pequeno de cabelos verdes, Bakugou sentiu um movimento em suas costas e percebeu que Izuku estava acordando, então o pôs no chão. Não diria isso a ninguém, mas ele era mais pesado do que aparentava, então o loiro quase não estava mais aguentando o carregar.
— Finalmente acordou bela adormecida – disse bagunçando o cabelo do pequeno, que coçava os olhos olhando em volta percebendo que estava praticamente em sua casa.
— Kacchan.. Você me carregou até aqui? – perguntou com um rubor crescendo em suas bochechas.
— Claro, você é leve como uma pena! E não ia deixar alguém sem individualidade e indefeso sozinho lá. Que tipo de herói eu seria?– o garoto de olhos vermelhos virou de costas para esconder sua respiração falha pelo esforço e não demonstrar fraqueza.
Num piscar de olhos, dois braços finos envolveram sua cintura e o apertou o mais forte possível.
— Oe, Deku..
— Obrigado, Kacchan.. – depois de tal ato de afeto, o pequeno saiu correndo em direção a sua casa sem olhar para trás, com um sorriso que demoraria a sumir de seus lábios."
Naquele momento, Izuku percebeu que sentia algo muito especial pelo esquentadinho de olhos vermelhos, mesmo não sabendo exatamente o que. Claro, o loiro tornou sua infância um inferno, assim como a escola e em partes em sua formação como herói, mas apesar de todos o verem com olhar de reprovação devido ao seu gênio forte, ele só o via como alguém complexo, forte e digno de admiração.
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— Bakugou, está me ouvindo?
O jovem de olhos vermelhos escutava uma voz meio distante, mas ainda sim perceptível. Aos poucos tentou abrir os olhos, mas devido à claridade os fechou novamente. Tentou erguer o braço para cobrir o rosto, mas ao realizar o movimento, mesmo que devagar, sentiu uma forte dor.
— Quem é você? Onde estou? – perguntou relutante, estranhando a voz que ouviu ao falar.
— Se acalme, não faça movimentos bruscos! Você está em um estado delicado.. Sou a Vital, você está no Hospital Tonami Sunshine. Não se lembra de mim?
Ele negou com a cabeça e tentou mexer minimamente os demais membros, porém ao perceber que sentiria dor interrompia a tentativa.
— Porque não consigo mover meus braços? - Katsuki estava começando a entrar em pânico.
— Você estava ajudando os civis de um prédio em chamas e foi nocauteado por um vilão, não se lembra? Seus braços foram quebrados no impacto.. Mas resolvemos isso num piscar de olhos..
O loiro fechou os olhos para se acalmar, contudo, seus pensamentos estavam desconexos e misturados, nada fazia sentido. Tentou fazer um esforço para se lembrar do que a mulher a sua frente lhe contou, mas tudo estava em branco.
— Deixe-me avaliar sua consciência, é uma extensão da minha individualidade. Posso verificar se a algo de errado e incitar suas células a voltarem a seu lugar.. A mulher de cabelos brancos se aproximou lentamente e repousou suas mãos frias nas laterais da cabeça do jovem. – Se lembra qual é sua individualidade?
— Sim, eu... Consigo gerar explosões expelindo nitroglicerina pelo corpo, causar explosões de calor e.. Acho que isso..
— Certo.. Qual seu nome? - Vital começou a fazer perguntas para sentir se os estímulos nervosos estavam respondendo corretamente.
— Bakugou Katsuki..
— Que dia é hoje?
— Não sei – Bakugou tentou pensar na resposta, mas mesmo sentindo que era algo muito simples, não conseguiu responder.
— Qual nome dos seus pais?
— Bakugou... É... Não me lembro.. – num primeiro momento era como se ele soubesse, mas depois de pronunciar seu sobrenome, simplesmente não tinha mais nada.
— Certo.. Se lembra do dia do seu aniversário?
— Quinze... De julho... – foi única data que lhe veio, então a julgou correta.
— Ok.. Você se lembra de algo ou.. – Vital não chegou a terminar a pergunta, mas foi prontamente respondida.
— Deku..
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O jovem de olhos verdes acordou com os raios de sol atravessando as frestas da cortina de seu quarto. Se espreguiçando, o mesmo se sentou na cama sentindo uma pontada acentuada de dor nas pernas e em outros pontos do corpo, porém essa dor era sua companheira a algum tempo e a relevou como sempre.
Seus cachos verdes contrastavam com as sardinhas e covinhas em sua pele clara. Apesar de não ter sido de uma hora para outra, ele mesmo se estranhava quando se olhava no espelho, com tamanhas mudanças que seu corpo passou. Ele ficou maior que alguns amigos e ganhou mais massa corporal.
Ao pegar seu celular na cômoda, Izuku entrou em pânico quando percebeu que o mesmo desligou por falta de bateria. O esverdeado buscou seu carregador rapidamente, porém sua casa estava sem energia e sua única opção era seu carregador portátil que estava no carro. Dizer que o mesmo correu ao banheiro para fazer sua higiene rapidamente e se trocar, era eufemismo, o medo de que algo tivesse acontecido com Katsuki e não conseguiram entrar em contato com o mesmo, lhe pegou em cheio.
Midoriya apenas comeu uma maçã e saiu em disparada para o carro, onde plugou o aparelho no carregador e foi mais rápido que a legislação permitia, ou talvez até mais, para o hospital.
Ao chegar na recepção ele apenas se anunciou e foi direcionado para a sala onde Vital estava alocada.
— Bom dia, Deku-san! Tentei entrar em contato contigo, mas não consegui.. – a dona das madeixas brancas foi interrompida pelo jovem alarmado.
— Sim, eu vi no carro, mas não deu tempo de ler as mensagens. Minha casa estava sem energia e meu celular desligou.. Como ele está? O Kacchan está bem? Já acordou?
— Calma, calma.. Ele está bem, inclusive o mesmo recebeu alta..
— O que? – esbravejou surpreso.
— Tentei te avisar, até sugeri que ele esperasse você para levá-lo para a casa hoje cedo.. Depois que curei seus braços, o fiz dormir para suas células nervosas se reorganizarem e quando ele acordou de manhã afirmou estar bem e inclusive estava com pressa de ir embora.. Como seu quadro estava normal, não tive razões para segurá-lo..
Apesar de ser jovem, Chiyo Yuhio possuía cabelos brancos que lhe passavam um ar mais velho. Seus olhos verdes e feições serenas, passavam um tom de tranquilidade que era muito importante em seu trabalho. Diferente de sua avó, Chiyo Shuzenji, mais conhecida como Recovery Girl, sua individualidade curava si, não só acelerava a cura, o que a tornava muito requisitada.
— Eu.. – o esverdeado ficou aliviado por saber que o mesmo estava bem, mas não conseguiu disfarçar que estava triste pelo mesmo não o ter esperado. – Tudo bem.. É bem a cara dele mesmo.. O importante é que ele está bem.. Uhn.. Falando em estar bem, o Wasaei-sama já chegou? Preciso falar com ele sobre os meus exames..
— Acredito que sim, mas é melhor confirmar na recepção.. Está com alguma dor forte, Deku-san?
— Vital, já te pedi para me chamar de Izuku..
— Digo o mesmo, mas você não me chama de Yuhio, então..
Os dois riram e o jovem apertou sua mão para agradecer pelas informações, mas ao se lembrar que a mesma conseguia fazer um diagnóstico com o toque, soltou sua mão e saiu apressado da sala.
— Eu volto mais tarde para ver o Dr., bom dia!
— Espere, Deku-san!
Mas ao chegar na porta, a única coisa que indicava que o mesmo havia estado ali, era o rastro verde de energia deixado por ele ao ativar sua individualidade.
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Sentimentos. O que poderia deixar uma pessoa mais perdida além dessa questão? Nada. Esse era o pensamento que o dono dos olhos vermelhos levava.
Após pegar alguns transportes, finalmente estava chegando na agência onde trabalhava. Descendo do ônibus, o caloroso sol matutino deixou seus fios loiros rebeldes e sua pele morena em evidência, mas não tanto quanto seus olhos, estes tinham um tom de âmbar com os raios que o alcançavam.
— Bom dia, Bakugou-san..
— Bom dia.. – respondeu casualmente, o que resultou em uma expressão de surpresa do recepcionista. Kendo quase nunca era notado pelo loiro, que o ignorava sempre, talvez pela sua estatura baixa, pele muito clara e cabelos extremamente platinados, nem todos gostavam de características diferentes e acabam ignorando tais pessoas.
— Posso entrar?
Katsuki bateu na porta do escritório de seu chefe e aguardou uma autorização, que veio como “Pode entrar!”.
— Soube que alguém foi internado.. – indagou Tsunagu Hakamata, também conhecido como Best Jeanist.
— As noticias voam.. – comentou se sentando na cadeira em frente a mesa.
— Vocês são como família para mim, logicamente qualquer tragédia que ocorra a vocês vem para mim..
— Eu... – o menor não sabia como prosseguir com suas palavras, ele ainda estava envergonhado por Deku ter tido que salva-lo, mas essa era somente a ponta do iceberg. Bakugou não conseguia mais viver num conflito interno de ódio que afastava alguém que lhe fazia tão bem, mesmo que a contra gosto.
— Um concelho de alguém mais experiente.. Você postergou suas férias desde que entrou na agência.. Depois de tal infortúnio, acredito que seja proveitoso que você tire um tempo para descansar.
— De jeito nenhum! Preciso.. – Tsunagu ergueu a mão, indicando para ele não prosseguir.
— Isso não é um pedido, é um ordem. Você está de férias.. Descanse, coloque a cabeça no lugar.. Resolva os conflitos que andam rondando seu coração, isso não faz bem..
— Meu.. Coração?
Hakamata riu pelo desentendimento do outro.
— Seria interessante você visitar seus pais, não? Quem sabe voltar a sua cidade natal não seja o que você precisa? Rever algumas pessoas pode te ajudar a refletir..
Após se despedir dos colegas, o loiro parou na recepção e ficou esperando Kendo notar sua presença. O jovem estava entretido em um jogo no celular, quando morreu levou um susto com a presença repentina do outro.
— Desculpe..
— Não, tudo bem! Eu estava distraído! – o garoto ria de nervoso se sentando numa postura correta forçada, o que era bizarro de se ver.
— Se alguém aparecer me procurando, diga que fui para minha cidade natal.. Bom dia..
— Ok.. – Kendo mais uma vez se surpreendeu com a abertura dada pelo outro, mas relevou com o passar do dia.
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Os dias se passaram normalmente, exceto pela ausência do loiro. Midoriya não o encontrou em suas patrulhas, no mercado, na academia.. Até que foi a agência onde o mesmo trabalhava, onde deveria ter ido em primeiro lugar, pensava revoltado.
— Olá Deku-san! Como está? – questionou Kendo, o recepcionista.
— Bem... É.. O Kacch.. O Bakugou está aqui? – era de costume chamá-lo dessa maneira, mas por ser tão natural se esquecia que o outro não era conhecido por esse apelido e sim pelo seu sobrenome.
— Uhn.. Pelo que sei, ele veio aqui logo após sair do hospital, conversou com o Best Jeanist e foi embora.. Precisava de alguns dias para colocar a cabeça no lugar, algo assim..
— Entendo.. Você saberia.. Não, esqueça..
— Ele foi para a cidade natal de vocês..
Midoriya se surpreendeu pela informação, afinal o dono dos olhos vermelhos não era muito de compartilhar sua vida pessoal, contudo, o mesmo não sabia que tal informação foi disponibilizada apenas para chegar até ele.
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— Você não tem muitas opções, meu jovem..
Deku estava entre um ladrão de banco com uma individualidade problemática e os reféns.
— Você também não.. – afirmou com mais convicção do que realmente possuía, tentando acalmar as pessoas.
— Se eu colocar o pé no chão de novo, não garanto a estabilidade dessa estrutura de merda.. – o homem de estatura alta e grande porte mantinha um semblante calmo, como se toda a situação estivesse sob controle e conforme o planejado. As malas cheias de dinheiro e bens valiosos em seus ombros eram seus troféus e a refém em seus braços seu porto seguro, afinal, o outro não tentaria nada com um arma apontada para a cabeça da jovem com a boca e os olhos vendados.
— Essa não é uma das opções! – o esverdeado estendeu ao punho e fez força para trás acumulando energia.
— O que é mais rápido, minha arma, meu pé ou você? Estamos numa distância considerável para me nocautear.
A refém aproveitou que o brutamontes estava distraído e emitiu uma luz branca extremamente forte que o desnorteou, de modo que a mesma saiu correndo na direção da voz de Deku, porém ao se desequilibrar o assaltante acabou apertando o gatilho e uma bala foi disparada em direção a mulher que corria as cegas.
Sem pensar duas vezes o herói se moveu o mais rápido que pode, sendo sua prioridade salvar a jovem do projétil, mas não do jeito que a situação se desenrolou. Ao pular entre os dois, antes de pousar emitiu um onda de impacto com a perna, levando o encapuzado pelo ar até a porta do cofre, que emitiu um estrondo enorme com o baque, que naturalmente o desacordou. Contudo, ao tentar se equilibrar no ar para parar a bala, o mesmo sentiu dor nas pernas e perdeu o senso de direção, tendo como única alternativa proteger a moça com seu próprio corpo.
Ao cair no chão, os demais reféns correram até o corpo do herói e foram correndo a porta buscar ajuda dos policiais, que rapidamente adentraram o local, prendendo o meliante desmaiado e levando Deku para a ambulância.
— DEKU-SAN! Você vai ficar bem! Estamos te levando para o hospital, fique acordado!
— Izoy-sama... Eu.. – o esverdeado lutava para se manter acordado, mas a dor estava nublando seus sentidos junto do impacto da queda.
— Poupe suas forças! Guarde sua energia para se recuperar mais rápido! Precisamos de você, não durma! – os paramédicos fecharam a ambulância e deram partida o mais rápido que puderam.
— Ele está tentando dizer alguma coisa..
O paramédico se aproximou de seu rosto e escutou as últimas palavras do jovem antes de apagar.
— Mãe.. Kacchan..
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Flashes. Era o que Midoriya enxergava, ou pensava que via. Em alguns momentos vozes entravam em seu campo de audição e saiam como se nunca estivessem ali. Ele poderia ter reconhecido algumas vozes, ou ter imaginado coisas, afinal não conseguia abrir seus olhos ainda, mas estava atento a tudo que conseguia captar. Até que um certo tempo depois, ele não sabia ao certo quanto, a voz de sua mãe chegou até ele.
— Mamori mo iyagaru bon kara saki nya.. Yuki mo chiratsukushi ko mo nakushi.. – Essa canção.. Lhe lembrava sua infância. Era a cantiga de ninar que sua mãe cantava sempre que ele tinha problemas para dormir.
— Bon ga kita tote nani ureshikaro.. Katabira hanashi obi wa nashi.. – todos acham que suas mães são lindas, mas Izuku tinha certeza. Não interessava quantas primaveras ela tinha, para ele não houve nenhuma mudança.
— Kono ko you naku mamori wa baijiru.. Mamori mo ichinichi yaseru yara.. – Como ele sentia falta de ter seu cabelo acariciado por ela. Cada vez que seus cachos se enrolavam e se desenrolavam em seus dedos era algo mágico.
— Hayo mo ikita ya kono zaisho koete.. Mukou ni mieru wa oya no ie.. – era como se suas dores simplesmente não existissem. Era só ele e ela.
— Mukou ni mieru wa oya no ie.. - A mulher beijou sua testa e ficou observando seu filho que agora já era um homem feito. Se não fosse alguns calmantes e a certeza que Vital estava a caminho..
— Mãe.. – sussurrou numa altura que a mesma só ouviu por estar bem perto.
O alívio por ouvir a voz do filho foi uma sensação abrasadora para seu coração. Inko abraçou o corpo a sua frente da maneira mais delicada que pode, aspirando o cheiro estranho que seu menino sempre teve, algo entre menta e manjericão.
— Você me deu um susto tão grande.. – beijos e lágrimas sinceras de alegria eram trilhados pelo rosto do jovem.
— Desculpe.. – ao virar lentamente a cabeça para o lado, o esverdeado notou uma silhueta conhecida dormindo na poltrona ao lado da cama. – Kacchan..
A relação dos dois sempre foi um paradoxo intrigante para a Sra.Midorya, mas nós últimos anos as coisas tem ficado mais claras, mesmo que a passos de tartaruga, porém ela não ficou tão surpresa quanto a mãe de Katsuki pela visita do loiro em sua casa.
— Ele veio antes de mim.. Chegou aqui quando você foi transferido para o quarto..
— Quanto... Quanto tempo? – Midoriya se sentia muito ruim naquele estado. Não ter forças para terminar uma frase era extremamente sufocante.
— Como a Vital viajou para prestar um atendimento emergencial no exterior, você passou por uma operação para a retirada da bala.. Ficou desacordado cerca de três dias..
Seu cérebro começou a assimilar a informação que o loiro ficou ao seu lado por todo esse tempo e sua cabeça doeu, mas mesmo com um pouco de dor, ele sorriu pelo caso.
Inko avisou a enfermeira que o filho havia acordado e a mesma buscou uma sopa para ele se alimentar e medica-lo. Houve um pouco de recusa do seu corpo, mas pelo menos metade da tigela conseguiu comer, caindo no sono alguns minutos depois com o efeito dos remédios.
— Durma bem, querido.. – desejou a mãe acompanhando o olhar do esverdeado em Bakugou com um pequeno sorriso.
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Bakugou foi para casa tomar um banho e trocar de roupa pela insistência de Inko, mas já estava sentado na poltrona novamente, sem se preocupar com o horário, pois já era quase meia noite. O loiro sentia que devia estar ao lado do outro, afinal, amanhã era dia 15 de julho.
Após uma boa noite de sono, Katsuki acordou um pouco envergonhado quando lapsos das perguntas feitas para ele vieram a mente. Era difícil e confuso entender exatamente o que se passava em seu coração nos últimos anos, pois quando mais novo, seu relacionamento com Deku não era dos melhores por sua culpa. De modo inconsciente ou não, a frustração por não entender a chuva de sentimentos que lhe rondavam em relação ao outro, acabou por se tornar uma justificativa para suas ações.
A sede de empatia do outro era algo que ele admirava, embora não fosse admitir isso a ninguém. Sua personalidade, sua capacidade de se superar, de querer aprender mais e mais, seu jeito humilde de encarar as adversidades e ajudar os outros em questões simples, mas como se o destino do universo estivesse em jogo, era um charme inexplicável.
De frente para o jovem que cresceu alguns centímetros a mais que ele, a única coisa que passava por sua cabeça era em como colocar em palavras o que não conseguia entender. Sua mão se entrelaçou com as de Midoriya e se encaixaram perfeitamente, formando um sorriso involuntário em seus lábios.
— Kacchan.. – surpreso, Katsuki tentou recolher a mão, mas Midoriya as manteve juntas com o máximo de força que podia fazer. – Não..
Se rendendo ao aperto inocente em sua mão, o dono dos olhos vermelhos passou a assimilar os detalhes do rosto do outro, se aproximando devagar com a respiração levemente desregulada e rompeu a distância entre seus lábios, com um beijo casto que disse muito mais do que muitas palavras poderiam.
O relógio marcou meia noite e o esverdeado sorriu com o ato se carinho.
— Feliz aniversário, Deku..
Suas testas estavam coladas enquanto absorviam aquele momento. Era um ótimo presente de aniversário.
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