Fogo e Gasolina
Cap 6 – UM CANGACEIRO ALMOFADINHA
O barulho. Ela tinha esquecido o barulho de uma cidade grande. O fluxo do tráfego era um zumbido constante, pontuado por charretes, pessoas andando para lá e para cá, vozes com variedades de sotaque e idiomas que pareciam invadir seus ouvidos. O ar era ameno, naquela época do ano o frio ainda não castigava e o sol iluminava as ruas com um brilho suave.
Enquanto andavam pela calçada, Herculano parou seu olhar em um prédio que se agigantava à sua frente. Aquilo tudo era novidade para ele. Um mundo que ele não conhecia. Uma língua que ele não entendia. Um lugar aonde não pertencia.
– AHHH! Paris!!! – disse Ursula estendendo os braços ao alto – o cheiro dessa cidade! As pessoas! As luzes! – ela disse enquanto respirava profundamente – Liberdade, enfim! – concluiu.
Herculano entortou a cara e respirou fundo.
– Que cheiro?
– Aii Herculano...! – ela sorriu para ele - Vem! Vou te mostrar todos os prazeres que esse lugar tem para oferecer, mas antes precisamos nos alojar. Eu preciso de um quarto decente!
– E vamo assim? Eu de guarda da Corte e tu de duquesa fugitiva? – rebateu.
– Não, meu capitão. Vamos resolver isso agora mesmo!
...
O capitão Herculano deixou o vestiário vestindo calça social preta, colete, a gola da camisa muito bem enformada, deixava o colarinho alto. Um terno completava o visual alinhado.
– Uau!! – exclamou a duquesa – Já disse o quanto eu amo essa versão de cangaceiro almofadinha?!
Herculano mexia na gola tentando folgar a camisa na altura do pescoço.
–Isso pinica!
– Deixa assim Herculano – disse Ursula se aproximando dele enquanto colocava suas mãos por cima das dele ajeitando a gola do jeito que ela devia ser usada. – Você ficou tão lindo! – ela passou as mãos espalmadas no peito dele. Quando seus olhos encontraram os dele, o encontrou sorrindo. De repente ela se deu conta que faltava algo. – Cadê a cartola?
– Tu tá falando disso aqui? – ele se espichou e pegou o chapéu que havia sido deixado de lado.
–É.
– Nem pensar! Não vou por ISSO na minha cabeça.
– Herculaaaaano! Por favor! Todos os homens da alta sociedade de Paris usam o traje completo.
– Acontece... – ele chegou perto do ouvido dela e sussurrou pausadamente - ... que eu... não sou... da “alta... sociedade”. Eu sou Herculano Araújo, Rei do Cangaço, no Sertão de Brogodó. – ele se afastou, com um sorriso orgulhoso no rosto.
A duquesa entortou a boca, mas logo teve uma ideia que fez seus olhos faiscarem com luxuria. Aproximou-se dele do mesmo jeito que ele havia feito e falou baixinho:
– Você põe a cartola... e eu, em troca, prometo deixar você tirar tudo que quiser de mim.
A duquesa e o capitão deixaram a loja com várias sacolas e vestidos a caráter, com elegantes roupas. A cartola pendeu para o lado e Herculano, indignado, ajeitou meio sem jeito.
– Tu ia fazer o que eu quero de um jeito ou de outro – resmungou.
Ela abriu um sorriso em resposta.
Ela tomou a mão dele e seguiram até uma hospedaria. Um casarão em estilo clássico, de três andares, localizado numa rua muito calma, cheia de árvores, cafés e pessoas pela rua.
– Um quarto, s'il vous plaît. – disse com ares de superioridade – O mais caro!
(s'il vous plaît = por favor)
A recepcionista providenciou uma chave e perguntou do pagamento.
– Sou Úrsula Ávila de Seráfia, Duquesa de Bragança. A conta você coloca em nome do Duque Petrus.
Herculano, que já tinha visto a duquesa fazer a mesma coisa na loja, perguntou:
– Tu acha uma boa ideia usar o nome do duque pra bancar tudo isso?
– Fica tranquilo, capitão. Petrus tá em Brogodó vivendo FELIZ com alguma interiorana. Ele nem vai ficar sabendo. – riu, divertida.
– Mas tu é uma diaba mermu.
Subiram para o quarto e Herculano se adiantou à frente, abrindo a porta e fazendo um gesto para que a duquesa entrasse.
– Obrigada - Ela sorriu e foi entrando no quarto checando todas as coisas ao redor: enormes cortinas cor de vinho que se arrastavam até o chão, uma cômoda com dois abajures acessos e de cada lado poltronas confortáveis em detalhes dourados e tomando todo o centro do quarto uma enorme cama, com espaldares e tecidos pomposos.
– AHHHH! Eu tinha esquecido como era bom deitar numa cama de verdade! – ela jogou-se na cama de costas, braços abertos, olhando para o teto.
O capitão se aproximou de onde estava deitada a duquesa e parou a sua frente ao pé da cama. Ela abriu os olhos e ficou olhando pra ele. O desejo estampado em seus olhos castanhos e um sorriso safado se formou em seu rosto. Ele tirou a tão indesejada cartola e jogou ao lado, no chão. Depois, lentamente, afrouxou a gola da camisa, desabotoou o terno e se livrou dele também. Ela o observava com um interesse sem constrangimento. Então ajoelhou-se na cama e foi até ele assim, fazendo contato visual até encostar o corpo próximo ao dele.
Herculano observava enquanto ela retirava o colete dele e botão a botão, abria sua camisa, revelando o peito nu.
– A duquesa não prometeu me mostrar todos os prazeres desse lugar?
– Prometi – ela confirmou. Suas mãos deslizavam nos pêlos do tórax bem definido dele.
– Então comece me mostrando agora! – ordenou.
As mãos dela envolveram o pescoço dele, trazendo para um beijo intenso e logo correspondido. Enquanto o beijava, ele sentiu ela abrir os botões da calça dele, revelando sua ereção.
– Mmmmm... – ele gemeu quando sentiu a língua dela correr por toda sua extensão. Ela envolveu seus lábios nele e gentilmente o sugou, correndo a língua ao redor da ponta. Ela aumentou o ritmo, enquanto ele ia cada vez mais fundo, assistindo o entrar e sair na boca dela. O olhar de puro deleite que ele viu nela era uma das coisas mais eróticas que ele já havia presenciado. As mãos dele apertavam e puxavam levemente os cachos ruivos dela e vez ou outra a guiava.
Ele a afastou quando achou que era o bastante e puxando ela pelos braços, a colocou de pé, de costas para ele.
– Esse teu cheiro me deixa louco. – disse enquanto enfiava o rosto no vão do pescoço dela. Ela arqueou a cabeça para trás.
– E o que mais?
O vestido dela escorregou para o chão revelando as intenções dele. Em seguida, fio a fio ele desfez os laços do espartilho dela. Úrsula virou de frente para ele.
Ele segurou o rosto dela com apenas uma mão, sem apertar. E gentilmente, com a costa da mão, acariciou lhe a face – O gosto da tua boca... – a beijou. – a pele... feito a seda mais fina.
Correu as mãos pelo corpo dela, excitado demais pelo contato. Toda a calma se foi. Herculano esmagou-a contra si, sem ligar para sua brutalidade, pois nada menos do que tê-la por inteiro aplacaria o fogo violento que o consumia.
Deitou-a na cama e depois correu os olhos nela. Ela era dele, só dele. Ia possuí-la, aquela diaba ruiva que se apossara dele, que interferira em sua sanidade e afetara sua força. Ela estava alí para satisfazê-lo. Herculano se aproximou da cama. O colchão cedeu ante seu peso, fazendo-a rolar contra o corpo dele e jogando-a nos seus braços. As preliminares foram abandonadas quando a necessidade de possuir o corpo dela tornou-se maior do que o desejo de saboreá-la. Poderia voltar (e voltaria) para apreciar melhor cada detalhe depois.
Ele lutou para conter as chamas desenfreadas que o consumiam. Elas ardiam cada vez mais quentes, até que ele mal pôde suportá-las. O fogo era alimentado pelos quadris dela a se contorcerem contra os dele, e pelos abafados ruídos animais, de prazer selvagem, que saíam de sua garganta. Não houve como prender a explosão de desejo, quando chegou. Sua violência deixou-o abalado, e pronto para saborear os prazeres que ignorara, no calor da urgência.
Ele era fogo. Ela gasolina.
Úrsula ainda tremia com os efeitos causados pelo ato de amor quando Herculano rodeou a cintura dela para puxá-la contra o peito dele. A boca buscou os lábios dela para se revitalizar com sua doçura. Abandonando-se em seu beijo inebriante, ela sentiu-se cheia de um êxtase gratificante, porque a satisfação não extinguira a necessidade que ele sentia dela.
– Herculano... – ela respirou profundamente - Você me ama?
As mãos dele vaguearam pelos fios de cabelo dela, acompanhando os fios até seguirem por suas costas. Ela se ergueu o suficiente para olhá-lo nos olhos.
– Eu amo tu, minha branca – disse - Me mostra como é viver no seu mundo...
Úrsula sorriu e se entregou outra vez aos beijos e encantos do capitão.
...
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