Fogo e Gasolina
Cap 1 – A VOLTA PARA O ACAMPAMENTO DOS CANGACEIROS
Ela lembrava dos beijos do capitão como se tivessem acontecido ontem...Mas já faziam semanas que ela não o via, nem sabia dele desde que ela decidira deixar o acampamento para sempre. Úrsula o amava. Já não tinha mais dúvidas do que sentia, mas se conhecia bem, era uma mulher de personalidade, acostumada ao luxo e a riqueza. Não conseguiria viver no cangaço e por isso tomara a decisão mais difícil de sua vida: deixar o homem que amava.
O jeito como eles fizeram amor àquele dia, um misto de ternura e fúria...seria a última vez e o cangaceiro, acostumado com as durezas da vida, amolecia por dentro, tentando não demonstrar fraqueza com a partida dela. Ela fizera uma escolha. Ele tinha que aceitar.
O plano da duquesa de aliar-se à Timóteo e roubar o tesouro estava indo por água a baixo. O coronelzinho enlouquecia a olhos vistos a ponto de prendê-la no quarto por dois dias inteiros!! Ela precisava fugir dali...não dava para fazer acordos com ele.
Aproveitou o descuido de uma das criadas que levara seu café da manhã e escapou de sua prisão domiciliar. Era loucura...fugir assim, só com a roupa do corpo, sem saber direito para onde ir.
Pensou em Nicolau...Mas ele não poderia fazer muito por ela... Pobre mordomo...estava tão de mãos atadas quanto ela. Ela então percebeu que só havia uma pessoa capaz de ajudá-la, de se importar com ela: seu rei cangaceiro – Herculano Araújo.
...
O sol escaldante do sertão jogava seus raios de luz bem em cima dela. O calor era insuportável e o caminho tortuoso dificultava a caminhada que já durava horas.
Ela sabia que estava perdida, mas não tinha outra saída a não ser continuar seguindo em frente, pois acreditava que mais cedo ou mais tarde iria encontrar o acampamento dos cangaceiros. A Duquesa exausta, rezava para chegar o mais depressa possível.
Depois de mais alguns passos, ela deixou-se cair, incapaz de continuar. Controlou a vontade de chorar, ainda que não houvesse ninguém por perto para presenciar tal gesto de fraqueza, fechou os olhos por alguns minutos. Pôs-se em alerta novamente quando ouviu os cascos de um cavalo se aproximando. Alguém devia estar por perto... Tinha que ser alguém do bando de Herculano. Ela estaria salva!
-Aquiiiiii!!! Alguém me ajuda! – Ela gritou o mais alto que conseguiu e esperou até que o cavaleiro a encontrasse.
Seu olhar se iluminou e um sorriso apareceu no rosto da duquesa quando avistou que era o próprio rei do cangaço que vinha à cavalo.
-Duquesa!!??
Ele deixou a montaria de lado e correu até ela. O coração disparado. Ajoelhou-se ao seu lado e correu a mão por seu rosto, afastando uns cachos soltos de seu cabelo ruivo.
-Mas o que sucedeu?! O que a duquesa faz aqui??
-Estava perdida.
Ela o abraçou respirando o cheiro dele...era reconfortante se sentir segura apenas com a presença dele.
- Timóteo Cabral enlouqueceu!! Prendeu-me na fazenda, mas consegui escapar. Eu não sabia para onde mais poderia ir. Eu não tenho mais ninguém.
Ele fechou o cenho por um instante e a recriminou.
-É isso que acontece quando alguém se junta com quem não presta.
Ela fechou os olhos, abaixou a cabeça.
Ele desistiu de retrucar e a ajudou a levantar, notando em seu triste semblante a tristeza e o desespero dela.
-Venha!... Vou te levar pro acampamento.
-Eu sabia que o capitão não ia me abandonar.
Ela sorriu satisfeita e aliviada e subiu no cavalo com a ajuda dele. Ele montou logo em seguida e olhou para trás, para ela, de relance. Um sorriso cínico e malicioso lhe escapou. Ele a tinha de volta ao seu alcance, sob sua guarda.
-Segure firme.
Ela obedeceu e agarrou forte em volta da cintura do capitão.
...
Todos no acampamento se espantaram quando viram o capitão Herculano Araújo, o mais temido do sertão, chegar novamente com a duquesa.
Dona Cândida quase não acreditou que o filho pudesse estar de novo preso naquela mulher.
- Mas não é possível Herculano! De novo tu mais essa branquela dos infernos!!
- Minha mãe, com todo o respeito que lhe tenho: não se meta visse...!
A velha senhora fechou a cara e se afastou. Já estava cansada de tentar colocar algum juízo na cabeça do capitão.
- Ninguém precisa parar o que tá fazendo não! Isso aqui é assunto meu! – gritou Herculano para o bando todo que, com olhares curiosos, observavam a volta da Duquesa.
Entraram na tenda. Ursula está meio tonta, o calor intenso e a falta de água a deixaram um pouco fraca. Ela cambaleou e perdeu o equilíbrio. Em um movimento rápido, o capitão a segurou nos braços e a colocou sentada em sua cama.
- Oxi! Fica deitada, sossega. Vou pedir pra alguém te trazer uma sopa... A duquesa deve de tá precisando comer.
- Herculano...! – ela o chamou quando ele ia se afastando.
Ela estendeu a mão, pedindo que ele chegasse perto.
- Obrigada por me salvar...mais uma vez - ela sorriu e se inclinou para abraçá-lo - Eu morri de saudade!
Ele ficou um certo tempo envolto nos braços dela, inebriado pelo perfume de seus cabelos, mas quando sentiu ela beijando-lhe o rosto, se afastou.
- Não! É mentira! A duquesa só me procurou porque não tinha mais ninguém. - ele se desvencilhou dela e levantou - Não é do seu agrado ficar comigo. Nunca foi!
- Herculano, espera!!!
Mas Herculano não queria saber das conversas da duquesa. Já conhecia de cor as artimanhas para envolvê-lo e não queria cair outra vez nas armadilhas de seu coração. Ele saiu da tenda deixando Úrsula sozinha, com um sorriso no rosto.
(...)
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