Experimento Descontrolado
Capítulo 2
Mulder estava dirigindo a quase uma hora e começava a impacientar-se com as intermináveis indicações de caminho que recebia de Grace. Ao seu lado, Scully permanecia em silêncio, evitando olhar para ele. "Vamos precisar ter uma conversa séria depois que esse caso terminar", pensou ele, enquanto reparava nela, que permanecia no mais absoluto silêncio. Mulder lembrou do dia em que foi informado que teria um parceiro no Arquivo-X, do quanto isso o deixou irritado na hora, pois sabia que isso era uma maneira de vigiá-lo. Ele lembrou de seu primeiro encontro com Scully, e da maneira rude como a tratou.
Mulder tinha razões para não confiar nela, mas ao mesmo tempo não podia negar que a presença dela facilitou muito o seu trabalho no Arquivo-X. Sua competência era inegável, cobrindo muito bem todas as deficiências de Mulder em certas áreas. Mesmo quando discordava dele, jamais sentia nela o mesmo ar de deboche de outros colegas com quem trabalhou a respeito de suas "teorias malucas". Era sempre uma divergência respeitosa, e com a qual ele aprendia muito. Custava muito admitir, mas na verdade Mulder estava gostando muito de trabalhar com ela, algo que o deixava estranhamente assustado, pois logo vinha à sua cabeça o que ele mesmo chamava de "o seu inevitável azar com as mulheres". Seus pensamentos, entretanto, foram cortados pela própria Scully.
– Mulder o que há com você? Parece que está no mundo da lua - disse - o lugar é aquele - aponta para um galpão abandonado e Mulder dirige o carro até lá.
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Mulder , Scully e Grace já estão dentro do galpão quando um carro preto pára ali perto, com três homens e uma mulher saltando dele. A mulher é quem lidera o grupo e logo começa a dar suas ordens.
– Vamos esperar que o alvo apareça e então nós agimos - disse - enquanto isso tratem de se posicionar - o celular dela toca - eles estão dentro de um galpão abandonado, vamos esperar o Vírgil aparecer para agir-mos - do outro lado da linha um homem traga um cigarro antes de falar
– Siga as instruções que lhe foram dadas, se possível evitando um confronto com os dois agentes.
– Entendo que queira poupar o Mulder, mas as duas mulheres me parecem perfeitamente dispensáveis.
– Não é sua função decidir - disse o homem do cigarro - apenas cumpra as ordens que lhe foram dadas.
– E alguma vez eu deixei de fazê-lo?- disse, antes de desligar o celular.
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– Espero que você saiba o que está fazendo ao trazer esses agentes do FBI aqui Grace – disse Virgil.
– Você está correndo um grande perigo senhor Somerfield - disse Scully - precisa de ajuda e cuidados médicos.
– Eu sei bem o que preciso – Virgil tem uma expressão de ódio no rosto - eu preciso me vingar de quem me ferrou.
– Foi isso que e o levou a matar os seus antigos comparsas?- pergunta Mulder.
– O que você acha?
– O senhor foi exposto a dois vírus desconhecidos, e mortais, senhor Somerfield - disse Scully - sabe-se lá porque os efeitos parecem ter sido benéficos em princípio, mas quem sabe o tipo de mutação que pode ocorrer daqui para frente.
– Está querendo me assustar dona? Nos últimos meses já tive mais motivo para me assustar do que precisarei pro resto da minha vida - disse - eu não sei o que fizeram comigo ou pra que fizeram isso. Não tenho a menor idéia do que injetaram em mim.
– Era pra você ser um álibi Vírgil - disse Mulder - tiraram você da prisão, forjando uma fuga, e o inocularam com um vírus de origem africana, muito parecido com o Ébola. Depois foi só forjar a sua extradição da África e manda-lo para a solitária.
– Eu fiquei dois dias lá - disse - só eu sei o inferno que foi , a dor que sentia e o quanto eu gritei pedindo socorro, mas ninguém veio me ajudar - faz uma pausa - até que eu não tinha mais força para gritar e fiquei ali torcendo pra morte chegar logo.
– Só que em vez da morte o que veio foi o outro vírus - disse Mulder - separados eles eram mortais, mas ao ficarem juntos num mesmo organismo provocaram uma mutação inesperada, até mesmo para os homens que fizeram aquele experimento no presídio.
– Podemos deixar essa conversa para depois senhor Somerfield - disse Scully - o senhor pode ajudar a levar os responsáveis pelo experimento no presídio à justiça se estiver disposto a testemunhar.
– Se acha que eu...
Vírgil não teve tempo de falar, pois uma bomba de gás foi atirada dentro do galpão. Outras foram jogadas e todos começaram a se sentir sufocados. Ao mesmo tempo, os quatro operativos invadem o local, com máscaras de proteção, indo para cima de Vírgil. Este é imobilizado e levado pelos homens´, enquanto a mulher que os comandava olha para Mulder e as mulheres no chão. Mulder fixa o olhar nela e leva um choque ao perceber quem é. Eles ficam se olhando e Scully, mesmo tonta, aproveita e se joga em cima da mulher. As duas caem no chão, só que Scully ainda está sob o efeito do gás, a outra se solta dela com facilidade apontando-lhe uma arma.
– Não Diane - grita Mulder, que também é derrubado. Um barulho do lado de fora chama a atenção de Phoebe. Ela corre até lá e vê os corpos dos seus comandados no chão enquanto, Vírgil foge no próprio carro deles.
– Aqui é a Fowller - disse no celular - preciso de uma equipe de limpeza aqui o mais rápido possível.
– Mãos na cabeça - disse Scully entre uma tosse e outra.
– Não creio que você possa me ameaçar com essa arma queridinha - no instante seguinte uma bala corta o celular de Diane Fowller ao meio.
– Alguma dúvida sobre a minha capacidade de usar essa arma "queridinha".
– Scully espera - disse Mulder, que sai do galpão com Grace - se ela está aqui então é sinal que aquele desgraçado está pôr trás de toda essa história.
– Eu acabei de chamar uma equipe de limpeza - disse Diane - se encontrarem vocês aqui terão de matá-los.
– Acha que pode nos assustar?- pergunta Scully.
– Pergunte ao Mulder - disse - ele já os viu trabalhando e sabe que não estou mentindo - olha para ele - e então querido vai querer arriscar a vida das moças?
– Temos que ir embora Scully.
– O quê?
– Ela está falando a verdade Scully - disse - nós somos agentes treinados para situações de risco, mas a Grace não tem nada com isso - Scully resolveu aceitar o argumento dele e foram embora, não sem antes lançar um olhar para Diane Fowller, que o devolveu com juros, um caso de ódio a primeira vista.
SEDE DO FBI
WASHINGTON DC
Mulder estava sentado, examinando alguns documentos, quando Scully entrou.
– Falou com a Grace?
– Falei Mulder - disse Scully - ela vai deixar a cidade e tentar uma nova vida bem longe.
– Vamos esperar que Vírgil a deixe em paz - um longo momento de silêncio paira sobre eles.
– Quem é ela Mulder?
– Ela quem? - Scully apenas olha para ele.
– Tudo bem vai - disse Mulder - o nome dela é Diane Fowller, e nos conhecemos a muito tempo.
– Vocês já foram namorados? - Mulder olha para ela meio surpreso deixando-a meio constrangida - desculpe é que me pareceu haver um certo clima entre vocês dois.
– Já faz muito tempo - disse - ela acabou me traindo ... não do jeito que está pensando mas de uma maneira que achei bem pior.
– Eu ... desculpe mas eu não consigo entender.
– Porque acha que eu trabalho no Arquivo-X, Scully? Porque acha que eu dedico quase todo o meu tempo a isso tudo aqui? - aponta para fichário com as pastas.
– É o que você gosta de fazer - disse ela.
– É o que eu preciso fazer para descobrir a verdade.
– De que verdade você está falando?
– Do desaparecimento da minha irmã - disse - de uma grande conspiração armada por homens influentes e sem escrúpulos que gostam de agir nas sombras e não se importam em jogar com vida de pessoas inocentes para atingir seus objetivos.
– Você acredita mesmo em tudo isso Mulder?
– É claro - disse - porque acha que me chamam de "estranho".
– É pôr isso que não consegue confiar em mim Mulder - disse ela - acha que eu trabalho para essas pessoas?
– Foram elas quem te colocaram aqui Scully.
– Eu nunca teria aceitado essa função se fosse dito de maneira explícita que eu teria de sabotar e desmoralizar o seu trabalho Mulder.
– Talvez não, mas é exatamente para isso que você está aqui - disse - de qualquer forma me desculpe pelo que aconteceu aquela noite.
– Você estava com o seu informante naquele quarto não é?
– Nossa Scully você faz isso parecer tão comprometedor para mim - eles riem -
ele só aceita que eu o veja ... nada pessoal é só uma questão de segurança.
– Eu entendo - disse - vamos deixar isso pra lá - olha o relógio - eu tenho que ir, pois marquei de jantar com a minha mãe.
– Só uma pergunta Scully – Mulder espera ela abrir a porta antes de falar - se eu receber uma mensagem importante de madrugada eu poderia ligar para você informando.
– Ligar para minha casa de madrugada - disse ela - mas nem nos seus sonhos tá - e foi em direção à porta.
– Claro entendi - disse ele - mas nem se a salvação do mundo dependesse disso?
– Nem mesmo assim Mulder - disse ela, fechando a porta e indo embora.
RUA 46
CIDADE DE NOVA YORK
Aqueles homens de meia idade estavam muito tensos. Todos esperavam a chegada de alguém. A porta se abre e o homem do cigarro chega, dando sempre a sua tradicional tragada antes de falar.
– Imagino que estejam preocupados com o incidente no Tenessee - disse ele, dando uma nova tragada.
– Você chama aquilo de incidente? - disse o homem bem vestido - eu classificaria como um desastre.
– O que houve foi uma variável não prevista - disse - mas nós iremos resolver isso.
– Resolver como se o sujeito fugiu - disse o primeiro ancião.
– Vírgil Somerfield ganhou poderes extraordinários, mas a sua mentalidade ainda é a de um criminoso barato. Ele vai querer se vingar de nós, como fez com seus antigos comparsas.
– Você me parece tranqüilo demais com isso - disse o homem bem vestido.
– É só uma questão de estar preparado para quando ele vier até nós – ele dá uma nova tragada antes de voltr a falar – e aí nós o pegaremos.
– E o que faremos quando isso acontecer? - pergunta o primeiro ancião.
– Aquele homem foi uma variável não prevista, mas que pode nos abrir inúmeras possibilidades - disse - poderemos estudá-lo. Tentar entender como tudo aquilo aconteceu e quem sabe... até mesmo duplicar a experiência que o criou - ele termina de falar e dá uma nova tragada.
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Mulder chega ao seu apartamento e antes de abrir a porta nota que a luz está acesa lá dentro, ele saca a sua arma e entra , dando de cara com Diane Fowley.
– Como foi que você entrou sem a chave - disse Mulder.
– Você nunca vai conseguir me manter fora do seu apartamento Mulder - disse - e nem da sua vida.
– Eu não creio que tenhamos nada para conversar.
– Mas é claro que temos - disse ela - será que você não entende que essa sua busca é inútil.
– Não há razão para discutir esse assunto de novo Diane - disse Mulder - você fez a sua escolha e eu fiz a minha, o melhor é cada um seguir o seu caminho.
– O caminho que você escolheu é muito perigoso Mulder - disse - e mais perigoso fica a medida que você insiste em seguir nele.
– Obrigado pelo aviso - disse abrindo a porta - agora você já pode ir embora - ela pára em frente a ele.
– Eu não gostei da sua nova parceira - disse num tom ameaçador - é melhor você não se apegar muito a ela porque talvez eu tenha que matá-la caso ela não faça o seu trabalho direito.
– O que quer dizer com isso?
– Não seja ingênuo Mulder - disse - você sabe muito bem que nós duas trabalhamos para as mesmas pessoas - ela vai embora deixando Mulder muito irritado.
RODOVIA 48*
Estado de Nevada
9:45 Pm
Um homem caminha pela estrada deserta quando vê um caminhão vindo na sua direção. Ele faz um sinal e o caminhão pára. Ele entra e começa a conversar com o motorista, chamado Jerry.
– Está indo para onde amigo? - pergunta Jerry.
– Pode me deixar no local mais próximo de Las Vegas.
– Vai tentar a sorte nos cassinos?
– Eu estou precisando de grana e sinto que a sorte vai sorrir pra mim.
– Muita gente diz isso, quando vai a Vegas, mas no final acaba sem um tostão no bolso.
– Comigo vai ser diferente - disse - eu sei fazer coisas que outras pessoas não fazem.
– E o que pretende fazer depois de ganhar muita grana?
– Eu vou procurar algumas pessoas e acertar umas contas.
Jerry não gostou muito da última frase que ouviu e achou melhor seguir a viagem sem conversa, torcendo para chegar logo num lugar onde pudesse deixar o seu carona. Dessa forma o caminhão seguiu em alta velocidade, pelas estradas desertas de Nevada.
*Estrada totalmente fictícia
FIM
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